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Terça-Feira,30 de Abril

Estímulo à pesquisa no ensino médio revela competências em adolescentes

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
04/05/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:23

Incentivar os estudantes do ensino médio a levantar hipóteses e buscar respostas são formas de estimular os adolescentes a pesquisar, antes mesmo da entrada na universidade. 

Estabelecidas em 2012, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) colocam a pesquisa “como princípio pedagógico, possibilitando que o estudante possa ser protagonista na investigação”. 

Mas, o incentivo a ela permanece uma realidade distante da maioria das escolas brasileiras, observa o professor Teodoro Zanardi, do departamento de Educação da PUC Minas.

“Vivemos em um país em que 44% dos estudantes de ensino médio dividem o tempo entre escola e trabalho. Em que momento eles vão poder se dedicar a uma pesquisa?”, questiona. 

Autonomia

Outra questão, segundo o educador, é o foco excessivo das instituições de ensino no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

“As escolas são muito focadas no conhecimento já pronto e acabado para o ingresso na universidade. Cumprem uma lista de conhecimento, em vez de instigar a busca autônoma por informações. Os professores deveriam acreditar mais no potencial dos jovens e fazer mais perguntas, ao invés de apenas dar respostas”, diz Zanardi. 

Uma prova dos bons frutos que uma boa pesquisa pode render é o trabalho desenvolvido por três estudantes do curso de Informática Industrial do Cefet, em Leopoldina, na Zona da Mata. 

A intenção das jovens foi desenvolver uma tecnologia que permitisse simular, em computador, a movimentação ou migração do mosquito transmissor de dengue, zika e chikungunya em uma determinada região. 

“O conhecimento está ligado à curiosidade. A pesquisa permite que a curiosidade natural dos alunos traga respostas para questões do dia a dia. Eles ganham autonomia”Teodoro ZanardiEducador

A pesquisa “Simulação da dispersão do Aedes aegypti usando autômatos celulares” se revelou tão importante que as jovens participaram da 15ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), em março deste ano. 

Futuro

A partir de informações científicas sobre variáveis relativas ao ciclo de vida do mosquito, o trio desenvolveu modelos matemáticos, a serem incorporados a u em região urbana. 

Dentre as variáveis levadas em conta, estão o tempo de vida de um mosquito, a interação entre insetos infectados e saudáveis, a interação entre mosquitos e humanos e a transição de ovos para larvas. 

De acordo com o professor Gustavo Montes, orientador da pesquisa, a principal inspiração foi o universo da meteorologia.

“A previsão do tempo é feita com modelos matemáticos e equações físicas, desenvolvidos a partir de variáveis, como frente fria e alta pressão, por exemplo. A natureza do projeto é semelhante. A partir de dados científicos e usando uma modelagem computacional, elas conseguem prever como se dá a dispersão do Aedes”, explica o orientador. 

A ideia é que, no futuro, qualquer pessoa munida do programa desenvolvido pelas jovens possa prever a movimentação de mosquitos. Digitando dados como localização e tempo, poderá saber quantos insetos estarão numa determinada região, um mês após a aparição de um foco de criadouro. 

Estudantes esperam aplicação real de projeto que detecta focos de Aedes aegypti

Marcella Menezes, Lívia Rodrigues e Amanda Fernandes concluíram o curso de Informática Industrial no Cefet, mas não querem deixar o trabalho iniciado na escola se perder. 

“Desejamos que agentes de saúde possam usar o nosso projeto para verificar como será a proliferação do mosquito ao examinarem lugares mais propícios para serem criadouros”, conta Marcella Menezes, de 18 anos, que atualmente estuda Ciências da Computação em Rio Pomba, na Zona da Mata. 

Por enquanto, as jovens desenvolveram as equações matemáticas que serão usadas no programa de computador, porém, ainda não prepararam a interface gráfica, que deverá ser desenvolvida ainda neste ano. 

Por isso, não conseguiram comprovar se as teorias levantadas matematicamente se aplicarão perfeitamente à prática. “Gostaria de levar o projeto para alguma prefeitura, para observar a aplicação, a aproximação com a realidade”, conta a estudante. 

Benefícios

O programa computacional que vem sendo desenvolvido pelas jovens beneficia especialmente os agentes de saúde que pretendem usar novas tecnologias para matar os mosquitos. Afinal, o projeto irá mapear o espalhamento da população do Aedes, testando diferentes ações antes de terem sido realizadas de fato.

O objetivo maior é evitar o desperdício de gastos públicos em ações que, eventualmente, não trariam grandes resultados.

Um exemplo é o uso de mosquitos geneticamente modificados – os chamados “mosquitos do bem”, que foram levados em conta nos modelos matemáticos feitos pelas jovens.

Esses são Aedes machos criados em laboratório que não picam e esterilizam as fêmeas que já fazem parte do meio ambiente. 

“Por meio do programa, os agentes de saúde podem verificar qual é o número de mosquitos do bem que deveriam ser soltos em uma determinada região”, afirma Marcella. 

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