
Fome, ninguém passa. Mas, para conseguir comer e beber nos bares e restaurantes de Belo Horizonte, o turista estrangeiro tem que apelar até para a mímica. Os cardápios, apenas em português, são um verdadeiro desafio para o visitante.
Alguns donos de estabelecimentos alegaram que o período da Copa é muito curto para justificar o investimento na tradução do menu. Outros admitem ter subestimado o volume de visitantes que desembarcaram na cidade.
Para não ficar com fome ou sede, o australiano George Zobas, de 22 anos, é um dos estrangeiros que têm apelado para o gestual na hora de se comunicar. Em algumas situações ele usa também um aplicativo no smartphone, tradutor de idiomas.
“Porém, às vezes o programa falha e, então, fazemos sinais ou apontamos para o prato que queremos, até conseguir. Até nos divertimos”, afirma, com bom-humor.
O entrave na comunicação não acontece por acaso. Dos 18.600 bares e restaurantes da capital, apenas 150 ofereceram cursos de línguas para os funcionários, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel-MG).
O que seria um atenuante, os cardápios bilíngues também ficaram em segundo plano. Bruno Zotti, proprietário do Chopp da Fábrica, no bairro Santa Efigênia, região Leste de BH, diz que o investimento seria alto demais para apenas um mês. “Cheguei a pensar em colocar uma recepcionista poliglota, mas ela cobrava R$ 5 mil pelo período”, afirmou.
Márcio Pinto, dono do restaurante Maria Farinha, na Savassi, região Centro-Sul da cidade, alegou não acreditar que viriam tantos turistas para a capital mineira. “Falando devagar e com jeitinho, dá para entender qualquer coisa, seja inglês, francês ou espanhol”, minimizou.
Uma das exceções foi o proprietário do Café Três Corações, Francisco Miranda, também na Savassi. Ele investiu nos cardápios traduzidos e acabou ganhando um diferencial. “Ajuda enquanto os garçons atendem a outras mesas”.
Jeitinhho
A paciência e a boa vontade dos mineiros conseguem vencer a falta de conhecimento de idiomas. Há três dias em Belo Horizonte, os amigos ingleses Craig Whittle, de 39 anos, e John Dawson, de 45, confirmam que, no fim das contas, todos se entendem. “É uma situação comum. Muitas vezes encontramos pessoas que não falam inglês, e eu não sei o português. Porém, sempre arrumamos uma maneira”, explica Dawson.
O casal de ingleses Alan Deinis, de 33 anos, e Charlene Brock, de 27, reforça que a paciência e a hospitalidade brasileira ajudam na comunicação. “Muitas palavras em português, que falamos, não são compreendidas por causa da forma como pronunciamos. Isso gera confusão”, diz Deinis.
Porém, para o também inglês Ned Penddeton, de 38 anos, a dificuldade pode abrir brechas para golpes. “Alguns bares tentaram cobrar mais produtos do que o consumido”, reclamou.
Belotur cancela tradução gratuita
A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Belotur, chegou a oferecer tradução gratuita de cardápios pela internet. No entanto, o serviço não está incluído no contrato com a empresa CityHelp e a informação foi retirada da web, segundo a própria Belotur.
A ajuda a turistas é feita pelo telefone 2510-2511.