A fachada do Edíficio Raffaelo Berti, na Praça da Estação, no Centro, ganhou cara nova com restauração (Daniel Mansur / Divulgação)
Simetria, linhas retas, limpeza ornamental e revestimento em pó-de-pedra. Quem anda por Belo Horizonte percebe o estilo moderno estampado em diversos prédios que marcam a história da capital mineira, como o da prefeitura, na avenida Afonso Pena, no Centro; da Santa Casa, no Santa Efigênia, ou o do Palácio Cristo Rei, sede da Arquidiocese, na Praça da Liberdade, ambos na região Centro-Sul.
O italiano Raffaello Berti é um dos mais expressivos nomes do estilo art déco na capital, onde fez mais de 500 projetos de casas, cinemas, escolas, igrejas, hospitais e edifícios residenciais, comerciais e públicos, nas mais de 40 décadas em que viveu aqui.
Berti veio para BH, em 1929, a convite do arquiteto Luiz Signorelli, depois de passar uma temporada no Rio de Janeiro. E transformou a nova capital em uma das cidades brasileiras com a maior presença de edifícios nesse estilo.
De caráter decorativo, o movimento, posterior à art noveau, surgiu em Paris, na França, em 1925, durante a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas.
Construído em 1946, durante um processo de ampliação da Rede Ferroviária Federal, o Edifício Raffaello Berti é um dos mais importantes representantes do art déco em BH. O prédio era um anexo do Casarão da Sapucaí, que também passa por um processo de restauro, onde funcionava a sede oficial da Rede Ferroviária Federal.
Com a expansão, a Rede passou a ocupar as duas edificações. O prédio, tombado pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte, abriga hoje a sede da Vli, uma empresa especializada em soluções sustentáveis de logística, conectando portos, ferrovias e terminais a outros modais, atendendo as áreas de siderurgia, minerais, bens industrializados e o agronegócio.
Desde 2019, as fachadas vêm sendo restauradas, devolvendo ao edifício as características originais, contribuindo para a preservação da memória e da identidade de BH.
Durante a primeira etapa, a empresa Multicult, contratada para a execução das obras na fachada do Edifício Raffaello Berti, foram restauradas as fachadas 1, 2 e 3. Agora, durante a segunda fase de recuperação, foram recuperadas as três fachadas remanescentes, encerrando o trabalho.
As obras foram realizadas com recursos obtidos por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, que possibilitou a recuperação de uma área de 2.277,25 m². Foi realizada a limpeza de todas as faces de fachada e das esquadrias, com técnica de hidrojateamento, para não danificar os revestimentos.
A arquiteta Katarina Grillo, uma das profissionais envolvidas no acompanhamento das obras de restauro da fachada do imóvel, explica que o desafio foi enorme, já que esta foi a primeira obra de preservação desde a construção do prédio.
“As fachadas e esquadrias estavam impregnadas de sujeira, marcas advindas de fuligem, CO2 e fungos ocasionados em função da umidade e da incidência de chuvas, ocasionando manchas aparentes em toda a estrutura”.
Alguns trechos estavam danificados por aberturas de vãos para instalação de aparelhos de ar condicionado, recortes para colocação de dutos elétricos e de água, além de uma série de furos para fixação de aparelhos, tubulações e fiações. Os trechos danificados foram reconstituídos, com os devidos acabamentos e a pintura com tinta mineral.
Todo o trabalho foi desenvolvido com o acompanhamento dos órgãos de proteção do patrimônio como o IPHAN/MG e a Prefeitura de BH, garantindo a preservação da história da capital, com a recuperação deste importante prédio do Circuito Arquitetônico da Praça da Estação.
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