Famílias de venezuelanos são acolhidas em BH e tentam recomeçar as vidas

Malú Damázio
09/08/2019 às 19:59.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:56
 (MAURÍCIO VIEIRA)

(MAURÍCIO VIEIRA)

“Aqui, à noite, é lindo, cheio de luzinhas coloridas”, diz Endrick, de 7 anos, na varanda da nova casa, no bairro Concórdia, Nordeste da capital. O venezuelano chegou há dois dias na metrópole. Com uma bola do Galo debaixo dos braços, mostra os cômodos da residência que abrigará, no mínimo pelos próximos seis meses, duas famílias de refugiados.

Ao todo, sete pessoas vieram para o Brasil com o intuito de recomeçar, em meio à crise enfrentada no país de origem. Inicialmente, serão bancadas financeiramente pelo projeto Refúgio 343, que ajuda estrangeiros a se reerguerem em Belo Horizonte e São Paulo. 

Toda a mobília da casa foi doada e agora, Madelyn, Melany, Endrick e Maylin Yepez, além de Edwin Gonzalez, Yusmaris Cedeno e Misael Aguilar farão entrevistas de emprego e tentarão bolsas de estudo em colégios particulares.

História

Na Venezuela, as crianças, de 4 a 12 anos, estavam matriculadas na escola, Misael trabalhava em uma fábrica de colchões, Edwin na construção civil e Madelyn fazia graduação na mesma área do marido. Para eles, fica difícil deixar toda a história para trás.

“Saímos porque estava tudo muito caro. Antes, tínhamos uma vida normal e, de repente, fazer compras virou uma tormenta. Queremos nos fortalecer, começar de novo e ajudar outros colegas que estão na fronteira, esperando a chance de vir”, afirma Misael, que tem mais três filhos morando na terra natal.

Assim que tiver emprego, o plano é trazê-los, junto com as avós das crianças e uma filha da esposa. Embora tenham chegado há quase dois anos, só agora as duas famílias conseguiram a documentação para se estabelecerem no Brasil. Durante esse tempo, viveram em Boa Vista (RR) e trabalharam como pedreiros e serralheiros na construção de abrigos.

Início difícil

Mesmo com apoio do governo local e de organizações sociais, como a Fraternidade Sem Fronteiras, que viabilizou a vinda do grupo junto com o projeto Refúgio 343, nem tudo são “flores” na chegada ao país.

“No início, eu e meus colegas sentimos um baque. Muitos brasileiros que viviam em Roraima falavam que não fazia sentido o poder público nos ajudar, tinham medo de tirarmos o emprego deles. Mas não é nada disso, ninguém quer sair do seu país”, lembra Misael.

Ao desembarcarem em Minas, surpresa na recepção. Dezenas de voluntários estavam no Aeroporto de Confins, na Grande BH, com balões coloridos e de braços abertos. Madeleine diz que as famílias não acreditavam na cena. “Até olhamos para trás, para ver se todo aquele carinho era para nós. Foi muito bonito e gentil”, afirma.

Na capital, mais carinho. Nas paredes dos quartos da nova casa, cartazes com os nomes de cada um, além de mensagens de afeto e imagens com as bandeiras das duas nações. “Viemos porque sabíamos que a acolhida aqui é boa e com a esperança de recomeçar”, acrescenta Misael.

O projeto

O objetivo do Refúgio 343 é trazer e apoiar financeiramente dez famílias de refugiados venezuelanos, instalando metade em Minas e, a outra parte, em São Paulo. Os primeiros contemplados já vivem há um mês na capital paulista. Os recursos para bancar os gastos nos primeiros 90 dias e o aluguel nos três meses seguintes foram obtidos por meio de financiamento coletivo.

Ao todo, o projeto já arrecadou R$ 73 mil – 36% da meta. Mas os voluntários mineiros já pensam em ajudar mais pessoas. “É muito bom conseguir dar apoio para que os venezuelanos, que querem trabalhar e reconstruir a vida, possam ter um pontapé inicial. O objetivo é conseguirmos trazer outras famílias, mesmo que seja para viver no interior”, explica Pedro Figueira, um dos integrantes da organização.

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