Febre maculosa mata 4 em 10 doentes; autoridades estão em alerta

Malú Damázio
03/06/2019 às 21:47.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:56
 (Flávio Tavares/Hoje em Dia)

(Flávio Tavares/Hoje em Dia)

O surto de febre maculosa em Contagem, na Grande BH, liga alerta para a propagação da doença, que é grave e mata quatro a cada dez infectados. A enfermidade é mais comum entre junho e novembro, conforme a Secretaria de Estado de Saúde (SES). Nesses meses, a população de carrapatos-estrela, transmissores da bactéria, aumenta devido ao ciclo de vida da espécie. De 2014 até este ano, 145 notificações ocorreram em Minas, com um saldo negativo de 59 óbitos.

As mortes confirmadas nessa segunda (3) pela Secretaria de Saúde de Contagem são de dois homens, um de 19 anos e outro de 41, da mesma família. Eles viviam no bairro Vila Boa Vista, no distrito Nacional. A prefeitura trabalha com a hipótese de que eles teriam contraído a bactéria após capinar um lote perto de casa, onde há uma criação de cavalos, que, assim como as capivaras, são hospedeiros do carrapato.

Dois adultos, de 81 e 69, que moravam no mesmo local também vieram a óbito, mas a análise toxicológica, para saber se a causa é febre maculosa, está sendo feita. Outros 13 casos de pacientes com suspeita da doença ainda são investigados. 

Ao todo, 150 pessoas residem na região, que concentra 35 casas. O espaço foi inspecionado, com controle químico, e a administração municipal recolheu animais para dar banho e aplicar carrapaticida.

Semelhante à dengue

Febre alta, manchas na pele e dores no corpo são os primeiros sintomas da febre maculosa. Como a doença tem os mesmos indícios da dengue, isso pode acarretar uma demora no tratamento, diz o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Unaí Tupinambás. 

“O mais importante é o paciente dizer que teve contato com mato, se encontrou carrapatos no corpo. Sem isso, fica difícil a equipe de saúde chegar na febre maculosa, tendo em vista a epidemia de dengue”, frisa.

No entanto, como já se sabe que os casos estão relacionados à enfermidade transmitida pelo carrapato, o médico reforça que a detecção precoce e o tratamento com antibiótico podem reduzir a alta letalidade. 

Para se prevenir, a população deve evitar o contato com o vetor, usar roupas claras de mangas compridas, sapatos fechados e de cano alto, além de inspecionar o próprio corpo. “Ao sinal de febre, a pessoa deve ir a uma unidade de saúde”.

Medo da enfermidade lota unidade básica de saúde na cidade da região metropolitana

O clima é de preocupação e cuidado redobrado no bairro Vila Boa Vista, onde moravam os quatro pacientes que morreram em Contagem. No domingo, o Executivo municipal havia solicitado que os familiares deles comparecessem à Unidade Básica de Saúde (UBS). Das cerca de cem pessoas contactadas, 90 tinham ido ao posto para fazer o primeiro atendimento até as 15h de ontem.

A proximidade com as vítimas fez com que a UBS ficasse lotada de moradores da região. Um deles era o faxineiro Reginaldo Santana, de 48 anos, que vive no local há pelo menos 15. Ele teve que dividir o tempo entre o velório do pai, cuja causa do óbito está sendo investigada, e a fila na unidade. A esposa dele também compareceu. “Senti algumas dores no pescoço e, sabendo do risco, preferi vir para solicitar alguns exames e não correr perigo”, afirmou o faxineiro. 

O mesmo alerta levou o pedreiro Genoval Mendes, de 40, a aguardar por atendimento no complexo. Ele chegou a realizar o exame, mas, como havia feito uso de um medicamento, foi orientado a buscar uma nova avaliação, daqui a três dias. Genoval garante que vai seguir todos os procedimentos para evitar ser diagnosticado com a febre maculosa. “O clima está muito ruim, todo mundo está abatido. Eu conhecia todas essas pessoas que morreram. Ninguém imaginava uma tragédia desse tamanho”, disse o pedreiro. 

A médica Giulliana Cantoni, gestora responsável pela clínica municipal em Contagem, diz que a vigilância é crucial nesse momento. “As pessoas podem vir à UBS, saber se existe algum exame e medidas de prevenção à febre maculosa. Estamos trabalhando no sentido de orientar e acalmar essas famílias”, explica a médica. (Lucas Eduardo Soares)

Casos podem ter relação com as capivaras da Pampulha; PBH garante monitoramento constante

Transmitida por carrapatos, a febre maculosa é comum em áreas perto de lagoas, matas e no meio rural, como explica o infectologista Tupinambás. A região em que as vítimas viviam fica na divisa de Contagem com BH, próximo à lagoa da Pampulha, onde há capivaras.

A prefeitura da cidade metropolitana diz que a infestação pode estar relacionada a esses animais. Conforme o veterinário José Renato de Rezende Costa, da diretoria de Vigilância Ambiental e Controle de Zoonoses, há um córrego que liga os dois municípios. Ainda segundo ele, os roedores transitam pelo curso d’água.

Em nota, a Secretaria de Meio Ambiente da capital afirmou que todos os bichos que vivem na orla da lagoa foram esterilizados e receberam aplicação de carrapaticida, sendo que nenhum novo indivíduo teria chegado ao local. A pasta ressalta ainda que as capivaras são “exaustivamente monitoradas”, a pé, por barco e inclusive por drones.

“A secretaria tem dedicado atenção especial ao local onde ocorre o desassoreamento da lagoa da Pampulha, por ser de difícil acesso. Estamos contando com a empresa contratada até o fim de 2019 e qualquer nova capivara identificada sem manejo será tratada (captura, cirurgia de esterilização e aplicação de carrapaticida)”.

Em Belo Horizonte, três pacientes estão internados com suspeita de febre maculosa no hospital Eduardo de Menezes, no bairro Bonsucesso, no Barreiro. A informação é da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig). Não foram dados detalhes sobre as localidades onde residem os doentes. O estado de saúde também não foi divulgado.

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