
Pesquisadores da Fiocruz Minas divulgaram nesta quarta-feira (20) um estudo que avalia a evolução de 38 indicadores de saúde envolvendo 38 países americanos.
Situação no Brasil
O país apresenta desempenho abaixo das expectativas na maioria dos indicadores. Entre as piores performances, estão os dos que mensuram a atuação do país em relação a doenças negligenciadas e homicídios, situação bem parecida ao que ocorre na maior parte do continente.
“Outro indicador negativo é o de malária, mas, nesse caso, o Brasil está na contramão do que acontece em grande parte do continente, que apresenta números positivos”, afirmam os pesquisadores.
Sobre a pesquisa
Intitulada A Agenda de Saúde Sustentável nas Américas: lacunas pré-pandemia e estimativas para 2030, a pesquisa se baseou em dados divulgados até 2019.
De acordo com a instituição, o objetivo é avaliar o cumprimento das 17 metas globais, chamadas Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que visam construir um mundo mais justo e igualitário.
Essas metas foram estabelecidas em 2015 pela Organização das Nações Unidas (ONU) junto com líderes de 193 países, entre eles o Brasil.
Nos últimos meses, a viabilidade do cumprimento dos ODS vem sendo questionada, devido aos impactos gerados pela pandemia da Covid-19 nas mais diversas áreas.
“Houve quem afirmasse que os ODS seriam inalcançáveis, já defendendo uma renegociação, antes mesmo de ter informações sobre a situação dos indicadores”, explica o pesquisador Fabrício Silveira, do Grupo de Políticas Públicas e Proteção Social da Fiocruz Minas, um dos coordenadores da pesquisa.
Segundo ele, “foram avaliados os gargalos relacionados à saúde nos países do continente americano antes da pandemia e feita uma projeção para 2030, apresentando as tendências ao longo desta década”.
Produto Interno Bruto per capita e desigualdade social
Para avaliar a evolução dos indicadores, os pesquisadores levaram em conta aspectos como o Produto Interno Bruto per capita (PIBpc), o índice de Gini – que mede a desigualdade social – e os investimentos em saúde.
“Eles são utilizados para avaliar a performance pré-pandemia e para projetar sua evolução na próxima década”, afirma.
De acordo com os pesquisadores, o PIBpc mostrou-se significativo em 32 dos 38 indicadores analisados, sinalizando para a relevância do crescimento da renda para o bom desempenho na saúde. Por outro lado, o estudo mostra que a elevação do PIBpc nem sempre representa avanços nos indicadores.
“É o caso de tabagismo, alcoolismo e obesidade infantil, que apresentaram um desempenho pior à medida que aumenta a renda per capita nos países americanos" ressaltou.
Políticas públicas
De acordo com estudo, essa constatação é um sinal de alerta para os formuladores de políticas públicas. E mostram "a necessidade de um conjunto articulado de ações para inibir fatores de morbidade”, afirma o levantamento.
Ainda segundo a pesquisa, a desigualdade avaliada pelo índice de Gini impactou de forma significativa dez indicadores, com destaque para os de saúde neonatal e infantil, além de lesões, violência e doenças infecciosas, todos com desempenho abaixo do esperado.
Aquém do esperado
A maior parte dos indicadores avaliados nos diversos temas de saúde estavam aquém do esperado na maioria dos países da região mesmo antes do início da pandemia de Covid-19, revelam as análises dos índices avaliados.
“Já as maiores possibilidades de avanços até 2030 estão relacionadas aos temas onde os países apresentaram maiores déficits, como os de doenças infecciosas e de mortalidade materna e infantil”, aponta.
As estimativas também indicam que o estímulo ao crescimento do PIB pode ser uma importante estratégia para o progresso nos indicadores, sobretudo pelo seu papel na ampliação do acesso e cobertura dos serviços de saúde.
Impactos da Covid
Em suas conclusões, os pesquisadores lembram que a crise de Covid-19 mostrou que os países com sistemas de proteção social eficazes e cobertura universal de saúde estão mais preparados para responder não apenas às crises atuais, mas também às futuras.
Assim, o cumprimento dos ODSs será fator preponderante para enfrentamento e superação da emergência sanitária.