
Em meio a informações desencontradas, funcionários e pacientes do Hospital Odilon Bherens (HOB) fizeram na manhã deste domingo (6) um protesto contra mudanças na unidade de saúde. De acordo com representantes da equipe médica do hospital, serão fechados 18 leitos de emergência na próxima terça-feira (8), quando a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Noroeste II, ao lado do hospital, será inaugurada. Com caixão e faixas, os manifestantes repudiaram a medida que, segundo eles, prejudica o atendimento a pacientes graves na cidade. Os médicos e enfermeiros vestiram roupas pretas como forma de denunciar morte da saúde pública.
Atualmente, segundo o médico Leonardo Paixão, que atua há 12 anos no Odilon, 22 leitos do tipo estão em funcionamento no HOB. Com o fechamento, apenas quatro deles continuariam recebendo pacientes. Outros seis estarão disponíveis na nova UPA. "Mas os do pronto-atendimento têm perfil diferente, lá é uma unidade pré-hospitalar, não está equipada com aparelhos de tomografia ou banco de sangue, por exemplo, estrutura do hospital como o Odilon, que é referência nacional", frisou.
Um médico residente no Odilon Bherens reclamou que faltam informações mais precisas sobre as mudanças. "A gente só ficou sabendo do fechamento por meio de uma mensagem recebida pelo WhatsApp (aplicativo no celular), sem mais detalhes. Estamos sem saber o que realmente vai acontecer, se os profissionais terão emprego a partir dessas mudanças, remanejamento, entre outras coisas", disse o profissional que pediu anonimato.
Hospital nega
Por outro lado, o diretor de Assistência Hospitalar do Odilon Bherens, Cleverson Martins Kill, negou o fechamento dos leitos. "Não serão reduzidos. Temos 18 que podem chegar a 22 quando há superlotação. Hoje, há muitos pacientes no corredor", informou. Ele disse que seis leitos de emergência e outros 12 de retaguarda (onde ficam pacientes à espera de transferência) estarão disponíveis na UPA Noroeste II. A nova unidade, segundo ele, é um anexo do Odilon Bherens e conta com uma sala vermelha, que receberá doentes em estado crítico. "A população não precisa ficar alarmada. Os casos mais graves serão atendidos no Odilon. Os menos graves, na UPA", afirmou Cleverson.
A informação oficial foi rebatida por uma médica do setor de politraumatismo que não quis se identificar temendo retaliação. Segundo a profissional, pacientes que procurarem diretamente a unidade não serão mais atendidos. "Isso impacta no salvamento. Um paciente com AVC precisa receber o atendimento adequado em até quatro horas. Porém, se ele procurar uma UPA, lá não terá o aparelhamento necessário para os exames, como tomografia por exemplo. Se for transferido, o procedimento será feito pela central de leitos, e sabemos que a espera é muito grande", enfatizou.
A preocupação da funcionária é a de que pacientes em estado grave não resistam ao tempo para serem transferidos. "Na UPA, esse paciente não receberá atendimento como em hospital. Ele receberá os cuidados mas, em estado crítico, terá que ser remanejado para uma unidade mais completa. O problema é que a liberação de leito pela central é demorada, e o paciente pode morrer. Com o fechamento, perde, principalmente, a população ", lamentou.
Protesto na Antônio Carlos
Moradores da região também participaram do ato e prometem, para a próxima semana, uma manifestação na avenida Antônio Carlos. De acordo com o presidente da Associação Comunitária Santo André, Jairo Nascimento, a intenção é fechar a via no horário de pico. "O Odilon é a porta de entrada para muitos pacientes graves não apenas da nossa comunidade, como de toda Belo Horizonte. O que estão fazendo vai contra a vontade de toda a população, é uma grande perda", comentou.
Membros da Comissão de Saúde da Câmara Municipal visitam nesta manhã as instalações do hospital. Na próxima terça-feira, os vereadores Márcio Almeida e Veré da Farmácia irão protocolar um pedido de audiência pública na Casa para discutir o fechamento dos leitos. "Se estão todos dizendo que a estrutura de um hospital é melhor que a de uma UPA, queremos explicações sobre a mudança", disse Márcio.
De acordo com o diretor de Assistência Hospitalar do Odilon Bherens, Cleverson Martins, a unidade de saúde atende a cerca de 14 mil pacientes por mês. Do total, o médico Leonardo Paixão estima que 40% passam pelo setor de emergência.