Ciência

‘Fungo zumbi’: nova espécie é capaz de manipular formigas e pode ajudar no controle de pragas

Descoberta ocorreu em Ouro Preto, na região Central de Minas

Do HOJE EM DIA*
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Publicado em 01/09/2025 às 07:00.Atualizado em 01/09/2025 às 07:17.
Espécie descoberta pertence a uma nova linhagem de fungos, próxima a uma que infecta vespas (Frederico Salles/divulgação)
Espécie descoberta pertence a uma nova linhagem de fungos, próxima a uma que infecta vespas (Frederico Salles/divulgação)

Em busca de elementos que pudessem evidenciar a relação entre fungos e vespas, uma coleta realizada em Ouro Preto, na região Central de Minas, resultou na descrição de uma nova espécie de fungo. O Ophiocordyceps acanthoponerae é capaz de infectar e manipular o comportamento de formigas. A descoberta tem potencial para o desenvolvimento de estratégias de controle de pragas.

O achado é do pós-doutorando do Programa de Pós-Graduação em Entomologia, Samuel Lima Santos e foi descrito na tese defendida recentemente. O trabalho foi orientado pelo professor Simon Elliot, coordenador do Laboratório de Interações Inseto-Microorganismo da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

A novidade está em um artigo científico. Além de Samuel, assinam o texto o professor Simon Elliot, orientador do trabalho e coordenador do Laboratório de Interações Inseto-Microorganismo da UFV, Thairine Mendes Pereira, pós-doc do laboratório e coorientadora, João Araújo, coorientador e pesquisador do Museu de História Natural da Dinamarca, na University of Copenhagen, Rodrigo Feitosa, da Universidade Federal do Paraná, e Harry Evans, do CABI UK Centre. 

Vespas sociais

Esse gênero de fungos tem fama pela habilidade de controlar o comportamento de insetos. A espécie descoberta por Samuel pertence a uma nova linhagem, próxima a uma espécie que infecta vespas sociais - que vivem em colônias com uma organização complexa, semelhantes às abelhas.

A espécie de formiga infectada por essa nova espécie de fungo, Acanthoponera mucronata, é rara, de hábitos noturnos, difícil de ser coletada. “Vi aquelas formigas douradas infectadas ao longo da trilha, muito diferentes do que eu já tinha visto em registros, e coletei por precaução. Mostrei para o meu coorientador, o João Araújo, a maior referência atualmente nesses fungos zumbis no mundo. Ele identificou ali o potencial de que fosse algo totalmente novo, e fomos investigar”.

Segundo ele, ainda há muito trabalho pela frente. É preciso investigar mais, entender o ciclo de infecção, como elas são afetadas e como isso afeta a colônia de uma maneira geral. Para identificar as formigas, Samuel recorreu ao professor Rodrigo Feitosa, especialista no gênero. “Ainda há pouca informação disponível sobre elas, mas a minha sorte é que o Feitosa é o maior especialista nelas no mundo. Não sabemos ainda as nuances da interação dessas formigas com essa nova espécie de fungo”.

O processo de identificação e análise do material coletado teve também o reforço do pesquisador Harry Evans, micologista britânico, que esteve recentemente no Brasil, em visita ao PPG Entomologia.

Contribuição inédita

A expectativa dos pesquisadores é que a descoberta tenha um papel importante na compreensão da evolução dos fungos manipuladores de insetos sociais. “Esse é o primeiro registro de formigas dessa tribo sendo infectadas por esses fungos. E o fato de elas terem características relacionadas a uma outra espécie que infecta vespas cria um elo entre esses dois grupos de insetos sociais e sua relação com Ophiocordyceps. E esse elo, provavelmente, terá um papel importante para ajudar a explicar o processo de evolução da manipulação comportamental exercida por esses fungos”. 

A descoberta também tem o potencial de contribuir de forma mais aplicada. “Quando a gente começa a entender mais sobre essa questão de quais são os grupos associados a esses fungos, a gente consegue também investigar os metabólitos, as estratégias que esses fungos usam, as substâncias que eles produzem para manipular esses insetos… E podemos usar esse conhecimento para o desenvolvimento de estratégias de controle de pragas, por exemplo”.

*Com informações da UFV

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