Gasto com Bombeiros caiu 10%, enquanto orçamento de polícias cresceu em Minas

Alessandra Mendes
amfranca@hojeemdia.com.br
14/08/2016 às 21:53.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:22
 (FREDERICO HAIKAL/05-08-2015)

(FREDERICO HAIKAL/05-08-2015)

Presente apenas em cerca de 70 dos 853 municípios mineiros, o Corpo de Bombeiros teve o orçamento de 2016 reduzido em 10%, pelo menos até o momento. De acordo com dados disponibilizados pelo Portal da Transparência do governo de Minas, foram gastos com a corporação entre janeiro e julho deste ano R$ 473,2 milhões. Valor menor do que os R$ 528,8 milhões disponibilizados no mesmo período de 2015.

O que chama a atenção é o fato de que outros órgãos que compõem o sistema de segurança pública do Estado não tiveram cortes no orçamento. Pelo contrário, o recurso repassado para as polícias Militar e Civil e para a própria Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) aumentou de um ano para o outro.
Os valores destinados para a Polícia Militar, por exemplo, passaram de R$ 5,268 bilhões entre janeiro e julho de 2015, para R$ 5,615 bilhões nos primeiros sete meses de 2016. Para a Polícia Civil, o montante passou de R$ 906,1 milhões para R$ 962,9 milhões. Ambos os órgãos, portanto, tiveram um aumento de cerca de 6% no orçamento.

Reportagem entrou em contato com o governo do Estado, mas a informação foi de que apenas os Bombeiros poderiam se pronunciar sobre o orçamento. A corporação, no entanto, não se manifestou


Para o presidente da Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra), o corte no orçamento fatalmente irá refletir no serviço prestado à população. “Vai comprometer o treinamento, infraestrutura, logística, pessoal e todos os outros aspectos. E isso impacta no trabalho feito pelos militares. É uma decisão equivocada não investir em um órgão tão primordial, que atua diretamente em ocorrências críticas como acidentes e queimadas”, afirma o sargento Marco Antônio Bahia.

Contingente

Segundo dados da associação, o Corpo de Bombeiros tem hoje em Minas cerca de 6 mil militares para atender uma população de mais de 20 milhões de habitantes, número considerado muito abaixo do necessário. 

Para se ter uma ideia de como a situação no Estado é crítica, no Distrito Federal são 15 mil militares para uma população de 3,5 milhões de habitantes. No estado do Rio de Janeiro, que tem 17 milhões de habitantes, os Bombeiros têm um contingente de 22 mil homens.

O número de militares na corporação não atinge o recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Em Minas Gerais, há um bombeiro para cada 3,3 mil habitantes, sendo que o preconizado é um para cada mil. Seguindo o parâmetro da ONU, o Estado teria que quase quadruplicar o efetivo. Tarefa delicada em um cenário de corte orçamentário.

Em meio aos cortes no orçamento, corporação enfrenta mais um período crítico de combate a incêndios em matas e parques florestais de Minas

Déficit

“Nos últimos dois anos, apenas 500 homens e mulheres entraram na corporação em Minas, enquanto, no mesmo período, entre 700 e mil militares reformaram. Isso mostra que as vagas preenchidas não são suficientes nem mesmo para repor as perdas”, explica o presidente da Aspra.

A solução, segundo ele, é pressionar o governo que tem deixado de lado uma área tão importante e estratégica da segurança pública. “A própria população pode e deve denunciar a carência desse serviço em algumas cidades, principalmente no interior. Lá, isso fica ainda mais evidente. Não podemos esperar que uma tragédia ocorra e, só assim, alguma coisa seja feita para consertar isso”.

julho na comparação com a média histórica

O número de incêndios em unidades de conservação de Minas cresceu 30% em julho de 2016 se comparado à média histórica para este mês registrada nos últimos cinco anos. A situação, que já desperta alerta, pode piorar, pois o balanço de agosto, um dos períodos mais críticos, ainda não está fechado. 

De acordo com o coronel Donizetti Silva de Oliveira, do Batalhão de Emergências Ambientais e Resposta a Desastres, profissionais do setor administrativo estão sendo treinados para auxiliar nas ações. “Estamos trabalhando com o mesmo operacional do ano passado. Fizemos um treinamento com cerca de 150 bombeiros que atuam no administrativo para o combate em campo, caso haja necessidade”, declarou.

A Força-Tarefa Previncêndio, que é coordenada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e composta por diversos órgãos e entidades, tem à disposição dez aviões com capacidade de lançamento de 1.500 a 3 mil litros de água. Além disso, foram contratados 381 brigadistas, que estão disponíveis para trabalhar por quatro meses no território mineiro. Os brigadistas serão dispostos nas unidades de maior vulnerabilidade e nas cidades de Belo Horizonte, Januária e Diamantina, onde existem bases operacionais do Previncêndio.

Em julho, foram contabilizados 90 incêndios florestais. A média histórica para este mês, entre 2011 e 2015, era de 69 ocorrências

Segundo a ambientalista Maria Dalce Ricas, da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), os brigadistas disponibilizados pelo Estado não são suficientes. “Se não fossem os outros brigadistas, os que são voluntários, seria praticamente impossível combater os incêndios em Minas, principalmente no interior do Estado”, afirma.

Dalce cita algumas ações, como a instalação de guaritas nos pontos mais altos dos parques florestais, que poderiam auxiliar no controle mais rápido das chamas. “O monitoramento constante é fundamental”, acrescenta.

1,5 mil hectares já viraram cinzas em parques localizados no território mineiro, mostra o último balanço disponibilizado pela Semad

Quase 1,5 mil hectares já foram consumidos pelas chamas nas unidades de conservação de Minas. No total, foram 228 ocorrências, sendo 146 na área interna dos parques e 82 no entorno. Além disso, outros 225 incêndios foram debelados no território mineiro. Os dados constam em relatório feito no fim da semana passada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Dentre as unidades atingidas estão o Parque Serra Verde, em Belo Horizonte, a Área de Proteção Ambiental (APA) das Águas Vertentes, no Serro, e Serra da Moeda, em Itabirito – ambas na região Central de Minas.Editoria de Arte

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