Reflexo da falta de educação de quem insiste em jogar lixo na rua, bocas de lobo abarrotadas de sujeira são alvo de um pente-fino em Belo Horizonte. Nos últimos quatro meses, R$ 3 milhões já foram gastos na limpeza. O valor é o mesmo que foi investido em todo o ano passado. Até o fim de 2018, a expectativa é desembolsar ainda R$ 5 milhões para o serviço, nada menos que 66% a mais do que o aplicado em 2017.
O balanço atual aponta a remoção de 3,2 mil toneladas de resíduos e a desobs-trução de 9 quilômetros de rede. Os dados comparativos do mesmo período do ano passado, no entanto, não foram informados. Nos 12 meses de 2017, o recolhimento foi de aproximadamente 5 mil toneladas.
Em 2018 ocorreram mais de 126 mil serviços de limpeza. Ontem, a varredura foi feita em pelo menos seis pontos da regional Oeste, nos bairros Gameleira, Salgado Filho e Vista Alegre. Operários da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) retiram as grades para remover os materiais com enxadas e pás. Na lista do que é mais encontrado estão embalagens, sacos plásticos, restos de comida, animais mortos, folhas, barro e até entulho de obra.
Em média, cada limpeza dura cerca de 40 minutos; desde janeiro, mais de 126 mil serviços foram executados na cidade
Tamanho
Atualmente, a cidade tem 64 mil compartimentos responsáveis em levar a água da chuva para a rede pluvial. Sem a correta manutenção, as estruturas entupidas contribuem para alagamentos, como o que ocorreu semana passada na avenida Francisco Sá, também na Oeste. Lá, carros foram arrastados e estabelecimentos invadidos pela enxurrada.
“O acúmulo de lixo nas bocas de lobo evita que a água chegue à rede subterrânea de microdrenagem. Se a chuva for intensa, pode inundar uma via por completo”, reforça Nilo de Oliveira, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da UFMG.
O alerta em manter os equipamentos limpos ganha ainda mais força após a última previsão do tempo. Uma frente fria se aproxima de Minas e pode chover forte até domingo, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Mutirão
De acordo com a Sudecap, a necessidade do mutirão é fruto da falta de conscientização. “É incrível o que a gente tem visto dentro das bocas de lobo. A população precisa entender que é um local onde a água vai ser escoada”, diz o superintendente do órgão, Henrique Castilho. “Se você tem um papel no carro, espere até chegar em casa para jogar no lixo. Se está andando na rua, procure uma lixeira”, acrescenta.
Para o presidente do projeto Manuelzão e professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social da UFMG, Marcus Vinícius Polignano, a população precisa sentir-se “dona da cidade” e contribuir nesse processo. “BH produz 4 mil toneladas de lixo por dia. É preciso entender a necessidade de se reduzir esse número, e adotar práticas sustentáveis, como a reciclagem”, pontuou.
Campanhas educativas também precisam ser mais difundidas. “A situação já foi pior, está longe do ideal, mas tem melhorado. É essencial reforçar e reafirmar à população sobre a mudança no comportamento, chamando a atenção do cidadão para a importância do papel dele”.
Mais problemas
Outro problema enfrentado é o vandalismo. As grades das bocas de lobo são quebradas ou mesmo furtadas em alguns casos. Segundo a Sudecap, nos últimos três meses foram mais de 940 trocas desses equipamentos na cidade. O número representa uma média de dez substituições por dia.
Para tentar diminuir os danos, a Guarda Municipal informou que realiza patrulhamento diário em BH para prevenir os prejuízos. Caso alguém seja flagrado furtando ou danificando bocas de lobo, a Polícia Militar é acionada e o autor do delito preso por depredação ao patrimônio público.