Arquidiocese Nega

Grupo de congado diz ter sofrido 'intolerância religiosa' em igreja na região da Pampulha

Jader Xavier
@ojaderxavierjsbarbosa@hojeemdia.com.br
30/11/2022 às 15:56.
Atualizado em 30/11/2022 às 16:11
 (Reprodução / Redes sociais)

(Reprodução / Redes sociais)

O grupo de congado do bairro Urca, na região da Pampulha, em Belo Horizonte, afirma ter sofrido discriminação religiosa na Igreja Nossa Senhora Aparecida, situada na mesma região.

Em conversa com o Hoje em Dia nesta quarta-feira (30), o capitão-mor e presidente da Guarda de Congo Nossa Senhora do Rosário Urca Pampulha, Gleisson Rodrigues, diz que o padre do templo religioso, identificado como Guilherme, se negou a dar bênção ao grupo no último sábado (26).

“A gente foi para o encerramento do festejo com o descimento da bandeira, que são 16 mastros. Logo após o descimento da bandeira, a gente faz a reza do terço ou assiste à missa na igreja, como de costume. Neste ano, fomos assistir à missa, não tocamos quando entramos na igreja para não atrapalhar a liturgia. Sentamos e assistimos até o fim. Quando terminou a missa, já tínhamos avisado para a coordenadora para falar com o padre que estávamos ali e queríamos agradecer a comunidade pelo apoio do festejo 2022 (...) Além de ele não deixar a gente fazer o agradecimento, entrou na sacristia. A gente começou a cantar para ele, mas não apareceu. Insistimos bastante, mas o padre não saiu", conta.

Segundo Rodrigues, após muita insistência, o padre Guilherme saiu e deu a benção, mas "sem vontade". Essa cerimônia faz parte do rito final do congado. "Quando ele veio, chegou falando 'já foram todos abençoados na Santa Missa, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo', e já foi sentando para fazer uma reunião com o pessoal dele. Eu questionei se não poderia nos dar cinco minutos da atenção para uma benção de forma mais digna, e ele se negou", conta o capitão-mor.

O congado é uma manifestação de matriz africana que existe desde os tempos em que os negros eram escravizados no Brasil. A iniciativa surgiu como uma forma de as pessoas negras manterem a fé, festejando Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia, três santos pretos.

O presidente da Guarda do Congo da Urca afirma que essa situação vivida na igreja, com o padre, vem ocorrendo há anos.

Questionada, a Arquidiocese de Belo Horizonte diz que o grupo teria faltado a celebrações previamente agendadas nos últimos dois anos e garante que "sempre acolhe com muito respeito e reverência o Grupo de Congado do bairro Urca".

Ao contrário do que diz o grupo, a Arquidiocese o acusa de ter interrompido a missa no último sábado (26) em vários momentos por meio de cânticos e pelo som dos tambores.

"Importante esclarecer: conforme o rito da Igreja, todos os fiéis, indistintamente, ao final de cada celebração, receberam a bênção, mas o Grupo de Congado, ainda assim, entoou 'palavras de ordem', exigindo atenção especial do padre", diz a Arquidiocese de BH.

Ainda conforme a representação católica, um boletim de ocorrência foi registrado e salienta que o sacerdote da paróquia "acolhe a todos, nos nove anos que trabalha no local, mas a convivência das muitas comunidades" precisa de igualdade, respeito e normas.

Confira a nota completa da Arquidiocese de BH:

“A Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, bairro Confisco, sempre acolhe com muito respeito e reverência o Grupo de Congado do bairro Urca, inclusive em Festas especiais que integram o calendário da Igreja Católica. Infelizmente, nos últimos dois anos, este Grupo não esteve presente nas celebrações previamente agendadas com a programação da apresentação de Congado. Também não comunicou à Paróquia sobre a impossibilidade de comparecer a essas celebrações. Neste ano, por exemplo, estava prevista a celebração com o Grupo de Congado no último dia 20, às 16h30. Nesse dia, a Igreja planejou o rito contemplando a apresentação do Grupo, que não compareceu, nem comunicou aos organizadores sobre a sua ausência da celebração. A Paróquia lamenta muito que o Grupo não tenha se sentido acolhido durante a Missa do dia 26, mas esclarece que todas as atividades pastorais requerem, em respeito aos fiéis, um planejamento cuidadoso – nada pode ser feito de improviso, especialmente quando se trata dos momentos de oração com a presença dos paroquianos. No dia 26, a homilia da Missa - quando são refletidas as leituras bíblicas -, foi interrompida com cânticos pelo Grupo, que chegou repentinamente, tendo surpreendido os fiéis presentes e desrespeitando os atos programados previamente para a celebração da Missa. Importante esclarecer: conforme o rito da Igreja, todos os fiéis, indistintamente, ao final de cada celebração, receberam a bênção, mas o Grupo de Congado, ainda assim, entoou “palavras de ordem”, exigindo atenção especial do padre.  
A Paróquia informa que o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Contagem foi oficialmente comunicado sobre o modo como o Grupo de Congado interrompeu a Missa. Também foi registrado boletim de ocorrência. O sacerdote dedica-se à Paróquia há quase nove anos e sempre acolheu a todos, respeitando a tradição do Grupo de Congado do bairro Urca. Mas a convivência das muitas comunidades e grupos que integram a Paróquia pedem igual respeito a planejamentos e normas de convivialidade".

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