Homem que matou a esposa com golpes de facão no meio da rua em BH vai a júri popular
Suspeito teve pedido de insanidade mental negado pela Justiça e será julgado por feminicídio e tentativa de homicídio contra o próprio filho
O homem de 30 anos, réu confesso do assassinato de uma diarista, de 37, irá a júri popular. A decisão foi anunciada pela juíza Ana Carolina Rauen Lopes de Souza, que negou o pedido da defesa para a realização de um exame de insanidade mental. O crime, ocorrido em 12 de dezembro de 2024, chocou o bairro São Marcos, em Belo Horizonte, pela sua brutalidade.
O homem é acusado de matar a esposa com dezenas de golpes de facão, em plena luz do dia, na frente aos filhos. Ele será julgado por feminicídio, com agravantes, como ter cometido o crime na presença de descendentes da vítima e em descumprimento de uma medida protetiva. Ele também responderá por tentativa de homicídio contra um dos filhos, de 13 anos, que foi esfaqueado ao tentar defender a mãe.
Regime de terror
A vítima trabalhava como diarista e era mãe de oito filhos. O crime ocorreu em 10 de dezembro de 2024. Ela e o acusado tem seis filhos.
De acordo com a delegada Iara França, o suspeito possui histórico extenso de violência, inclusive, já havia sido preso em flagrante em 2023 por ameaçar a companheira.
“Ele possuía 47 ocorrências policiais, sendo 28 como autor, incluindo ameaças, lesão corporal e outros atos de violência doméstica”, contou Iara.
Ainda segundo a delegada, “O padrão de violência incluía não apenas agressões físicas, mas também isolamento social e financeiro. Ele queimava documentos e roupas da vítima, quebrava móveis e eletrodomésticos, impedia os filhos de irem à escola, vigiava a companheira sempre que saía e ameaçava pessoas próximas para impedir que ela tivesse apoio”.
Violência extrema
Levantamentos indicam que, na noite anterior ao crime, o suspeito, que não trabalha, teria consumido drogas e álcool em um bar. No dia seguinte, ele invadiu a casa da vítima, ordenando que os filhos não fossem para a escola. A mulher, no entanto, continuou a arrumar as crianças, momento em que o homem se armou com um facão e iniciou as agressões contra a companheira, que estava na cozinha. Câmeras de segurança da região registraram a reação das pessoas que passavam próximas ao imóvel, as quais ouviram os gritos de socorro da família.
Uma das vizinhas conseguiu tirar as crianças da casa, sendo seguida pelo suspeito. A vítima então conseguiu fugir para a rua, mas foi alcançada pelo suspeito e esfaqueada diversas vezes em via pública. O filho do casal, de 13 anos, tentou defender a mãe, mas também foi atingido.
Iara conta que mesmo com a vítima já ferida e sem reação, o suspeito continuou a agredir a companheira. “Quando ele acredita que ela já está morta, ele volta para casa, troca de faca, porque a dele já tinha quase quebrado, e quando ele escuta que ela ainda está viva e que vai ser prestado socorro, ele retorna para a rua e continua a desferir facadas nela”, detalhou.
Comportamento violento
As investigações conduzidas pelo Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP) apontaram que o suspeito promovia torturas psicológicas, ameaçando estuprar todas as filhas, e impunha um regime de terror dentro de casa, impedindo os filhos de se alimentar.
Segundo testemunhas, o homem assediava e ameaçava as crianças, sendo que algumas já haviam sido levadas para exames médicos devido a suspeita de abuso.
“Ele sacrificava animais e bebia o sangue deles diante dos filhos. Além disso, há relatos de violação túmulo e automutilação na frente das crianças. Ele ainda mantinha uma amante, enquanto determinava regras rígidas e violentas para a companheira”, contou a delegada.
A Polícia Civil apurou que o investigado era temido na região e impunha medo entre os vizinhos.
Encaminhamentos
Além dos indiciamentos, a Polícia Civil representou pela prisão preventiva do suspeito, detido em flagrante no mesmo dia dos fatos, tendo em vista o risco que representava para os filhos e as testemunhas.
Além disso, foi solicitado o encaminhamento do caso para a destituição do pátrio poder do investigado sobre os filhos, bem como a remessa das denúncias de abuso sexual infantil à Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca), e dos autos ao Departamento Estadual de Investigação de Crimes contra o Meio Ambiente (Dema) para a apuração dos maus-tratos aos animais.
"A gente representou, inclusive, ao Poder Judiciário, para análise do suspeito, por médicos psiquiatras, para melhor análise. É um caso em que o suspeito apresenta indícios de psicopatia”, concluiu Iara.