Homem que morreu com suspeita de intoxicação por dietilenoglicol não passou por exames no IML

Bruno Inácio
binacio@hojeemdia.com.br
06/02/2020 às 18:28.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:33
Criança foi encaminhada para o Hospital Risoleta Tolentino Neves, onde passou por cirurgia.  (Lucas Prates/Hoje em Dia)

Criança foi encaminhada para o Hospital Risoleta Tolentino Neves, onde passou por cirurgia. (Lucas Prates/Hoje em Dia)

O homem que morreu no último sábado (1º), em Belo Horizonte, com suspeita de intoxicação por dietilenoglicol, foi enterrado sem passar por perícia no Instituto Médico Legal (IML) da capital, que revelaria a real causa da morte. O procedimento, padrão em óbitos com suspeita, não foi feito pela equipe do hospital Risoleta Neves, na Vila Clóris, região Norte da cidade, onde ele estava internado.

Em comunicado, a unidade de saúde confirmou a falha no processo, mas não detalhou quem errou ou como isso aconteceu. Segundo o Risoleta, o atestado de óbito foi emitido sem comunicação ao Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs). Por isso, o governo de Minas só divulgou a morte na segunda-feira (3), 48 horas após o falecimento.

A perícia pelo IML é necessária, pois o caso do paciente ainda é considerado em investigação e a comprovação do motivo da morte envolve diferentes laudos. O próprio hospital informou que outras hipóteses para a morte do homem foram levantadas. Até o momento, apenas um dos seis mortos com suspeita de intoxicação teve a presença dos tóxicos no corpo comprovada.

A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) informou que está investigando a falha registrada na unidade de saúde. A Polícia Civil, responsável pelo IML, confirmou que nas outras cinco mortes suspeitas de intoxicação, o procedimento foi feito, e que, neste caso, outros elementos médicos e exames feitos pela equipe do hospital "podem ser suficientes para chegar a uma conclusão."

Um outro caso em que há dificuldade em determinar a causa da morte de um paciente investigado ocorreu em dezembro, na cidade de Pompéu, na região Central de Minas. Maria Augusta de Campos Cordeiro, de 60 anos, só entrou na lista de pessoas acompanhadas no dia 14 de janeiro, quando já estava exumada.

Superintendente de Polícia Tecno Científica da Polícia Civil, o médico-legista Thales Bittencourt, afirmou que, por isso, foi solicitada à Justiça a exumação do corpo de Cordeiro. O pedido ainda aguarda definição do Judiciário.

"Nós tentamos resgatar junto ao hospital em que ela estava internada alguma amostra de sangue de quando ela ficou, mas não há este sangue disponível para o exame. Por isso, vamos avaliar o corpo e encontrar essas evidências", disse o médico-legista, na ocasião.

Desde dezembro de 2019, 30 casos suspeitos de intoxicação por dietilenoglicol, sendo 26 homens e quatro mulheres, já foram registrados pela SES-MG. A presença do produto químico já foi confirmada em quatro dos pacientes, incluindo em um dos falecidos. Em pelo menos 10 marcas de bebidas da cervejaria, os tóxicos foram encontrados.

Nesta quinta-feira (6), a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacom), órgão vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, instaurou um processo administrativo contra a Backer por problemas no recall das cervejas. A ação, que pode render multa de R$ 10 milhões à companhia, foi aberta por demora no início do recolhimento, que deveria ter começado antes mesmo de determinação da Justiça.

A empresa diz que em momento algum foi informado irregularidades no recall e que já pegou de volta 52 mil garrafas, com outras 60 caixas de 15 garrafas ainda sendo recolhidas. A empresa diz que o processo é complexo, e por isso não aconteceu de forma rápida.

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