(Fernando Michel / Hoje em Dia)
Pelo menos 2 mil restos mortais sem identificação estão no Instituto Médico-Legal Dr. André Roquete (IMLAR) , no bairro Gameleira, em Belo Horizonte. São corpos, segmentos corpóreos, amostras de sangue, ossadas e arcadas dentárias armazenados na única unidade do Estado que faz as perícias especializadas. Muitos destes materiais estão armazenados há dez anos.
Localizar as famílias que precisam fazer exames para comprovar o parentesco com a vítima e correlacionar os resultados com os desconhecidos é o maior desafio. Porém, a falta de recursos e de profissionais com habilidades científicas ajudam a explicar os números, que afetam diretamente quem está em busca de um desaparecido.
Em todo o estado, o trabalho de perícia é feito por 256 médicos-legistas. Em BH, no único departamento de antropologia forense em Minas, apenas nove profissionais são responsáveis pelo exame de todas as amostras encontradas no estado - número que é considerado insuficiente para atenter toda a demanda dos 853 municípios mineiros.
“O maior desafio aqui é de recursos humanos. Um legista é responsável por uma comarca ou regional inteira. Tem região que não tem nenhum legista. Isso para a população é extremamente desagradável”, afirma o professor de medicina forense e médico-legista do IMLAR, Marcelo Mari.
(Fernando Michel / Hoje em Dia)
Em média, o instituto recebe, por dia, 15 cadáveres e outros materiais para perícia. Um laudo detalhado pode demorar até 3 meses para ficar pronto.
A qualidade da análise e a técnica exigem muito do perito. O profissional deve ser apto a determinar a idade da vítima, diagnosticar lesões corporais ou sexuais, doenças venéreas ou mentais.
Mari acrescenta que a análise pericial também identifica sexo, raça, estima a estatura, além de determinar a causa do óbito e há quanto tempo ele ocorreu.
“O legista é o único que pode falar pelo cadáver. Ele é capaz de traduzir para o laudo, os vestígios apresentados pelo corpo. Isso torna a profissão única dentro da medicina. Poder entregar a verdade para a Justiça, de uma forma imparcial, nos faz ser imprescindíveis", afirma o especialista.
(Fernando Michel / Hoje em Dia)
Método comparativo
O especialista diz que, para qualificar (identificar) os segmentos corpóreos, ossadas e outros vestígios, é necessário inserir os dados em um sistema para que sejam, posteriormente, comparados às informações dos parentes que buscam seus desaparecidos.
“Toda qualificação é comparativa. Não adianta ter DNA do desconhedico (corpo) e não ter o da família para comparar.”
(Fernando Michel / Hoje em Dia)
Espaço limitado
Diferentemente dos IMLs de outros estados, o de Minas não aplica um protocolo que restrinja o tempo de armazenamento de um corpo no local. O médico cita o exemplo do cadáver de um estrangeiro, que está no instituto há três meses e não foi procurado por ninguém.
“Hoje nós temos uma capacidade para guardar 72 corpos no necrotério. O que é pouco, porque nós recebemos perícias especiais do Estado inteiro. Nós estamos longe da necessidade real. Quanto mais tempo eu deixar o cadáver aqui, mais chance eu tenho de a família vir procurá-lo”, observa.
No necrotério todos os corpos desconhecidos armazenados estão inseridos no sistema a fim de serem comparados. Em outro espaço do IML, na ‘Casa de ossos’, cerca de 200 ossadas esperam identificação para que sejam entregues às famílias.
O instituto tem uma parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte que permite sepultamento público. Todo cadáver que não pode mais ficar no IML, por espaço ou qualquer outro motivo, vai para a chamada inumação (enterro).
Recentemente, houve um concurso do Estado para contratar médicos-legistas. Cerca de 10 profissionais devem ser chamados nos próximos meses.
(Fernando Michel / Hoje em Dia)
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