Instalados para dar mais segurança a pilotos, motoboxes não derrubam acidentes

Luiz Augusto Barros
@luizaugbarros
15/11/2021 às 06:00.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:15
 (Maurício Vieira/Hoje em Dia)

(Maurício Vieira/Hoje em Dia)

Aposta da Prefeitura de Belo Horizonte para reduzir o número de acidentes com motos, a implantação de motoboxes junto a semáforos não levou a uma melhora significativa das estatísticas. Em relação a 2016, quando a iniciativa foi adotada na capital, houve até um aumento dos registros em 2021, e o ano nem chegou ao fim. Para especialistas e pilotos, o cenário mostra que embora a instalação de áreas reservadas para motos seja importante para aumentar a segurança de quem as conduz, são necessárias outras medidas se quisermos de fato ter menos vítimas do trânsito. 

Os motoboxes – ou motofaixas – são áreas para as motos nos cruzamentos com semáforo. O recurso já era usado em grandes centros urbanos, como São Paulo, Madri e Barcelona, na Espanha, antes de chegar à capital mineira, há cinco anos. A ideia é reduzir o conflito com outros veículos quando o sinal fica verde. Ao todo, são 503 unidades em 20 vias da cidade, e a expectativa da BHTrans é ampliar a oferta.

Porém, na ponta do lápis, o projeto não refletiu nas estatísticas de acidentes, o que era o principal objetivo. Dados da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) mostram que, nos primeiros anos, até houve queda nos atendimentos no Hospital João XXIII, referência no tratamento de colisões automobilísticas. Mas, depois, o número voltou a crescer.

De acordo com a Fhemig, a redução foi de cerca de 35% se comparados o primeiro e o terceiro anos. Entretanto, a partir de 2018, quando foram realizados 1.639 suportes médicos, ocorreram novos aumentos. Até outubro de 2021, são 2.585 casos.

Para Agmar Bento Teodoro, professor do Departamento de Engenharia de Transportes do Cefet-MG, do ponto de vista técnico e prático, esses espaços podem, sim, melhorar a segurança para os motociclistas. “Quando o sinal abre, eles saem na frente, e isso faz com que diminua a incidência de motociclistas circulando entre os carros”.

Porém, conforme o especialista, os números não expressam uma melhora considerável, tampouco foi feita uma análise comparativa. Por isso, apenas os motoboxes não são a solução. Além de implantar mais áreas exclusivas, é preciso realizar campanhas educativas sobre o trânsito.

Cabe ressaltar, no entanto, que há também uma explicação para os consecutivos aumentos nas ocorrências com os motoqueiros, como a frota maior e o número elevado de pessoas trabalhando como motofretistas, principalmente na pandemia, o que acaba sendo relacionado aos acidentes por conta da pressa nas entregas.

Existe também, segundo Agmar, a necessidade de melhorar a formação dos condutores. “Muitos não respeitam as regras, não sinalizam, fazem conversões em locais não permitidos, furam sinais”.

Na avaliação de Rogério dos Santos Lara, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Motociclistas de Minas Gerais, a instalação dos motoboxes é apenas “paliativa”, já que o risco de vida não diminuiu. “Tudo que se faz para melhorar é bem-vindo. Agora, resolver o problema é outra coisa. É um conjunto de medidas para ter uma solução real”, afirmou.

Procurada pela reportagem do Hoje em Dia, a BHTrans não comentou os dados.

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