
Viúva do artista plástico e ativista Abdias Nascimento, atualmente à frente do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros, Elisa Larkin Nascimento enxerga uma ação reparatória na abertura do Museu de Arte Negra, a partir deste sábado (4), no Instituto Inhotim.
“Esperamos que não seja apenas uma exposição de longa duração, mas uma oportunidade de se pensar mais nos artistas negros como protagonistas, pensando em novas formas de interlocução, sobretudo com as comunidades no entorno de Brumadinho”, destaca.
Criado em 1950 para reforçar o debate sobre a arte negra no país, o Museu tem em Inhotim sua primeira “casa”. Ainda que temporário (a coleção será exposta por dois anos), o endereço possibilitará colocar o pensamento de Abdias Nascimento em circulação.
“O mundo das artes sempre nos pareceu ser um monopólio de um poder financeiro que paira no ar, muito longe da vida real”, afirma Elisa. Ela espera que o Museu possa ajudar a construir novas relações entre as artes, as instituições de poder financeiro e os políticos.
Pesquisador do Ipeafro, Julio Menezes Silva reforça a trajetória de sete décadas do MAN, chamando a atenção para a influência da produção africana nas artes plásticas no país. Foi assim que Nascimento conseguiu a adesão de grandes nomes para formar a sua coleção.
"Ela é quase como um panorama das artes plásticas da época, com obras de artistas como Ivan Serpa, Alfredo Volpi e Iberê Camargo”, registra Elisa. Grande parte desse material foi reunido em 1968, em exposição no Museu da Imagem e do Som (Rio).
Foi nessa época que, desafiado por amigos, Nascimento começou a pintar, atividade que desenvolveu durante os 13 anos passados no exílio. Na primeira etapa da exposição em Inhotim, serão apresentadas obras do artista, além de explorar a relação dele com Tunga.
Nas próximas etapas (ou “atos”, como vêm sendo denominadas), uma discussão envolverá a contestação, liderada por Nascimento, de categorizações a que são submetidas obras de artistas negros, “sempre num sentido pejorativo”, na avaliação de Elisa.
“Eram tachados como primitivos, ingênuos e naif. Muitas vezes, os críticos diziam que não eram uma forma de arte, mas sim folclore. Abdias sempre procurava contradizer, mostrando a sofisticação e a expressividade plena dessa produção”.
Serviço
Museu de Arte Negra – No Instituto Inhotim, em Brumadinho.
Quinta e sexta, de 9h30 às 16h30.
Sábado, domingo e feriado, de 9h30 às 17h30.
Ingresso: R$ 44.
Exposição será importante para discutir políticas de estímulo ao desenvolvimento da arte negra no país