Inundações recorrentes na Vilarinho exigem solução complexa

Bruno Inácio, Malú Damázio e Mariana Durães
horizontes@hojeemdia.com.br
17/11/2018 às 07:00.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:52
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Drama enfrentado há tempos por moradores das zonas Norte e Venda Nova, em BH, as inundações causadas pela chuva na avenida Vilarinho dependem de uma solução que só será apontada após estudos na região. Na sexta-feira (16), um dia após o temporal que resultou na morte de três pessoas, a prefeitura informou que está priorizando a contratação de análises capazes de apontar saídas para a ampliação da drenagem na via. A promessa é a de que a licitação para os estudos ocorra neste ano.

Especialistas, porém, não acreditam que a resposta definitiva contra os alagamentos saia em curto prazo, devido à complexidade do processo burocrático e da própria situação. Profissionais ouvidos pela reportagem lembram que, mesmo antes de o córrego Vilarinho ser canalizado, na década de 1970, as falhas de drenagem e vazão do curso d’água já causavam dor de cabeça às pessoas. Por isso, além de abrir mais espaço para a contenção, serão necessárias intervenções que garantam permeabilidade ao solo.

Esse é, inclusive, o maior entrave, segundo o especialista em engenharia hidráulica e recursos hídricos Carlos Martinez, professor da UFMG. “Os loteamentos e a ocupação daquela região foram feitos de forma desordenada e irregular. Não existe área de absorção. Não se resolve isso em um ou dois anos”, diz.

Segundo a Secretaria Municipal de Obras, desde o ano passado são coletados dados sobre a bacia do córrego. Os estudos para apontar a melhor saída para a Vilarinho estão sendo orçados. Após a escolha da alternativa mais adequada, ela terá que ser detalhada e aí acontecerá a viabilização das obras necessárias. 

O professor Nilo de Oliveira Nascimento, também especialista na área, explica que, para que algum resultado fosse visto no próximo período chuvoso, no segundo semestre de 2019, esta fase dos estudos já precisaria estar concluída.

“Acredito que a prefeitura tenha avançado e, neste sentido, se todas as licitações, estudos, projetos, estivessem prontos, os trabalhos poderiam durar um ano. Mas, sem os estudos, o prazo é muito maior, porque nem se sabe qual projeto é o melhor e ainda tem as burocracias legais”.

Soluções paliativas podem ser feitas em prazo menor. “O sistema deve ser adaptado para a atual necessidade de drenagem, uma vez que está saturado. A construção de novas bacias e a limpeza de córregos podem ajudar”, diz Frederico Correia Lima, membro do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias em Engenharias (Ibape).Maurício Vieira

Comerciantes retiraram muita lama das lojas na avenida Vilarinho

Fatalidade

Nesta sexta-feira, o corpo da adolescente Anna Luísa Fernandes de Paiva, de 16 anos, sugada por um bueiro durante a tempestade, foi encontrado no córrego Vilarinho. Na noite de quinta-feira, mãe e filha, de 40 e 6 anos, morreram em um carro levado pela correnteza.

Em visita ao local da inundação, Alexandre Kail assumiu a responsabilidade pela tragédia. “A culpa é do prefeito. Estou muito triste, muito despreparado para a morte. Em caso material, a prefeitura tem estrutura, preparo, técnica, dinheiro. Isso tudo estará resolvido na segunda-feira e não me preocupa. O que me preocupa são as vidas que foram levadas”, disse.

Segundo ele, somente o estudo do projeto de contenção de inundações está orçado em cerca de R$ 10 milhões. O trabalho de recuperação e limpeza dos córregos que deságuam no Vilarinho já está em curso.Maurício Vieira

Carros foram arrastados durante a enxurrada

Dia para contar prejuízos e planejar a retomada da rotina

Um dia após a tragédia, moradores e comerciantes castigados pela chuva em Venda Nova utilizaram a manhã de estiagem para contar prejuízos e planejar a retomada da rotina. Um rastro de destruição foi deixado pela força das águas. Previsão é de mais chuva neste fim de semana.

Além dos carros arrastados pela enxurrada, estabelecimentos foram tomados por lama, muros desabaram, placas de trânsito ficaram destruídas e crateras surgiram no asfalto e nas calçadas. O último balanço apontava que 160 toneladas de entulho foram recolhidas.

A limpeza contou com uma força-tarefa da PBH, formada por 37 caminhões, 96 garis, 72 operários, 20 motoristas e máquinas como retroescavadeiras. O grupo trabalhou na remoção do lixo e barro, além do reparo de estruturas danificadas.

Em um topa-tudo, o prejuízo foi de cerca de R$ 10 mil. A água chegou a romper a porta do comércio e estragou diversos eletrodomésticos e móveis. Para fazer a limpeza e mensurar o estrago, os funcionários precisaram colocar todos os itens na calçada. 

"Aqui sempre tem inundação e isso vai ficar a vida toda, porque há muitos anos, passa prefeito, entra vereador, deputado estadual, e não fazem nada. Essa situação se arrasta”, disse Werlley Antônio, de 39 anos, que trabalha na loja.

Escola

Outro local bastante danificado pela chuva foi a Escola Municipal Francisco Magalhães Gomes, na Vila Clóris. Uniformes, pastas, documentos, livros, carteiras, mesas e até estante estão entre os materiais perdidos com a enxurrada. 

Segundo a diretora Márcia Breder, esta não é a primeira vez que o colégio sofre com inundações. A água chegou a ultrapassar dois metros de altura. As aulas só devem retornar na terça-feira.Maurício Vieira

Muros desabaram em vários pontos da região de Venda Nova

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