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Entrevista

Jadson Avelino: capitão da Defesa Civil reforça ações de prevenção à temporada de chuva em Minas

Outubro, novembro e dezembro terão chuvas acima da média histórica

Ana Luísa Ribeiro*
aribeiro@hojeemdia.com.br
Publicado em 20/10/2025 às 07:00.Atualizado em 20/10/2025 às 07:42.

Nada menos que 27 mineiros morreram na última temporada de chuva em Minas. Muitas das vidas perdidas poderiam ter sido evitadas se as pessoas não se colocassem em situações de risco. A análise é do capitão Jakson Avelino, integrante da diretoria de relações institucionais da Defesa Civil Estadual. Segundo o oficial, incentivar a cultura da prevenção é cada vez mais necessário para evitar óbitos durante temporais. 

E quando for necessária a ajuda da Defesa Civil, agir rápido é prioridade. “O nosso desafio é, por causa da mobilidade urbana e das estradas, chegar a qualquer município mineiro com apoio técnico e humanitário em menos de 24 horas”, afirma o capitão, que integrou a equipe responsável pela elaboração do Plano Estadual de Enfrentamento ao Período Chuvoso 2025-2031.

O documento, lançado neste mês, estabelece diretrizes para fortalecer a articulação entre Estado e municípios e aposta em inteligência de dados, capacitação de agentes locais e protocolos de resposta rápida. O plano mineiro também consolida parcerias com mais de 40 órgãos estaduais e prevê a criação de um programa orçamentário permanente, o Caminho nas Chuvas, voltado à prevenção e mitigação de desastres.

Em entrevista ao Hoje em Dia, o capitão detalha as ações estratégicas da Defesa Civil, como o uso de tecnologias no monitoramento climático.

Há regiões mais críticas ou vulneráveis neste ano que mereçam atenção especial?
O nosso diagnóstico apontou que as regiões Sul, Leste, Zona da Mata e Metropolitana são historicamente as mais impactadas no período chuvoso. Mas não podemos deixar de olhar para o Norte de Minas, que, embora sofra mais com seca e estiagem, é uma região muito vulnerável. Quando chove lá, o impacto é grande porque a drenagem urbana não está preparada para volumes intensos e concentrados.

Quantos agentes foram capacitados recentemente? Há previsão de novos treinamentos ou reforço de efetivo?
Nós temos um rol de cursos e capacitações voltados aos coordenadores e agentes municipais. Atualmente, estamos na segunda turma do curso em parceria com a Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). A primeira turma formou cerca de 110 alunos, e a segunda está com mais 200, incluindo engenheiros voluntários do Crea. Ao todo, são 310 pessoas capacitadas com formação técnica voltada à gestão de risco e resposta a desastres. Além disso, realizamos webinários em parceria com a Associação Mineira de Municípios (AMM), que chegam a mais de mil participantes por edição. Já foram quatro neste ano. Também temos treinamentos presenciais nas cidades, voltados à decretação de situação de emergência e ao uso do sistema de informações sobre desastres.

O plano menciona o uso de tecnologia e inteligência de dados. Há novidades em monitoramento, inteligência artificial ou previsão antecipada de eventos?
Sim. Nós estamos ampliando as parcerias e o trabalho integrado com outras instituições. Um exemplo é a Cooperativa Cooxupé, que compartilhou 508 pluviómetros instalados no Sul de Minas, região bastante afetada pelas chuvas. Esses equipamentos medem o volume de precipitação e enviam os dados ao Centro de Inteligência em Defesa Civil (Cindec), onde são analisados para gerar alertas e relatórios. Quando o cidadão recebe uma mensagem da Defesa Civil no celular, é resultado desse monitoramento contínuo. Também temos parcerias com a Sociedade Mineira de Engenheiros e a Fapemig para desenvolver pesquisas e tecnologias na área de hidrologia. 

O programa Caminho nas Chuvas é apresentado como a principal ação integrada do plano. Como ele será executado na prática e quais municípios participam primeiro?
É o programa que vai garantir o arcabouço orçamentário do plano, ou seja, os recursos financeiros necessários para que as ações aconteçam. Ele será implementado em 2026, na próxima revisão do PPAG, e vai reunir as ações integradas de diversos órgãos e secretarias do Estado. A proposta é criar uma fonte de recurso específica e permanente para o enfrentamento ao período chuvoso nos anos seguintes. Esse programa será encaminhado pelo Governo de Minas à Assembleia Legislativa, onde o orçamento é validado pelos deputados. O modelo é semelhante ao do programa Encontro das Águas, voltado à seca, que já está em andamento. O Caminho nas Chuvas segue o mesmo fluxo, consolidando as políticas e os investimentos de longo prazo para a prevenção e resposta a desastres em Minas Gerais.

Houve entrega de novos equipamentos ou veículos nesses ciclos? Quais critérios foram usados para definir os beneficiados?
Em 9 de outubro, em audiência pública, o nosso comandante, coronel Rezende, anunciou um chamamento público para a entrega de 11 viaturas 4x4 e 15 motocicletas às Defesas Civis municipais. Esse é o primeiro lote de uma sequência: teremos mais 20 veículos nos próximos meses e, depois, outros 60 até o fim deste ano ou início do próximo. A ideia é reforçar a estrutura dos municípios. O edital do chamamento define os critérios. O município precisa ter uma Coordenação Municipal de Proteção e Defesa Civil formalmente constituída e um coordenador nomeado pelo prefeito. São requisitos básicos, que não inviabilizam a participação, mas garantem que o equipamento seja destinado a quem está estruturado para usar. Os kits incluem caminhonete 4x4, notebook, trena digital e drone para mapeamento de áreas de risco, registro de imagens e identificação de manchas de inundação. O objetivo é dar autonomia às Defesas Civis municipais para realizar vistorias, prestar socorro e oferecer acolhimento humanitário de forma rápida.

A Defesa Civil também fala em fortalecer a cultura da prevenção. Que tipo de ações educativas ou campanhas estão previstas para este ano?
Hoje temos várias ações voltadas às redes sociais, que alcançam um grande público. Publicamos dicas de autoproteção, boletins informativos e alertas sobre condições climáticas. Também incentivamos o cadastro no SMS 40199, que envia avisos personalizados conforme o CEP do cidadão. Além disso, lançamos em agosto o Plano Estadual de Educação, um projeto essencial para mudar comportamentos. No último período chuvoso, metade das mortes ocorreu porque as pessoas se colocaram em situação de risco. Muitas tentaram atravessar ruas alagadas acabaram perdendo a vida. O plano de educação terá projeto-piloto em 2026, em 1.400 escolas estaduais, com alunos do 4º ano do ensino fundamental aprendendo sobre autoproteção e percepção de risco de forma transversal - com temas abordados em matemática, português e ciências. As crianças são multiplicadoras e podem alertar os pais em situações de perigo. Trabalhar a educação para prevenção é o caminho para reduzir tragédias no futuro.

Diante do histórico de tragédias, qual a principal lição que o plano incorpora para evitar novos desastres em Minas?
Olhar para a prevenção. É uma mudança de paradigma, criando um ambiente em que o Estado fortaleça o município para agir antes que o evento ocorra e se torne mais resiliente. O fenômeno natural vai acontecer todos os anos, mas precisamos melhorar nossa capacidade de resposta para salvar vidas. O plano traz essa lógica voltada à prevenção, mitigação e preparação, e não apenas à resposta após o desastre. A grande mudança é sair da postura reativa e focar na gestão de riscos, reduzindo danos e construindo cidades mais seguras.

* Estagiária, sob supervisão de Renato Fonseca

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