Jornal americano destaca que Vale sabia 'por meses' do risco de tragédia em Brumadinho

Da Redação
25/02/2019 às 11:25.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:42
 (Reprodução)

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O jornal americano Wall Street Journal publicou na versão on-line uma matéria que destaca que Vale e a TÜV SÜD, empresa contratada para fiscalizar e atestar a segurança das barragens da mineradora, sabiam "por meses das condições perigosas" da barragem Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O rompimento da estrutura, no último dia 25 de janeiro, deixou, até o momento, 179 mortos e 131 desaparecidos. 

A reportagem destaca que os auditores da TÜV SÜD haviam identificado o risco de rompimento, mas estavam com receio de "perda de contratos com a Vale". De acordo com o artigo, "funcionários da TÜV SÜD expressaram preocupações sobre a segurança da barragem em e-mails e relatórios para a Vale. Auditores, no entanto, continuaram a assinar as auditorias de segurança".

O jornal também informou que, durante auditorias realizadas entre junho e setembro, um engenheiro da TÜV SÜD, e outros inspetores encontraram evidências indicando condições "potencialmente arriscadas" na barragem. "Tudo sugere que (a barragem) não irá passar", escreveu um deles, em maio de 2018, referindo-se a um teste de segurança. A matéria pode ser lida neste link.

Prisão

O relato está em um e-mail que culminou na prisão de oito funcionários da Vale, no último dia 15. Uma das mensagens dizia: ""Mas como sempre a Vale irá nos jogar contra a parede e perguntar: e se [a barragem] não passar [no teste de segurança], irão assinar ou não?". Várias conversas foram anexadas como provas que atestam a responsabilidade dos investigados na tragédia. Para a Justiça e o Ministério Público, os suspeitos participavam de um esquema patrocinado pela Vale para maquiar dados técnicos. 

Outro e-mail trocado entre os funcionários da empresa alemã no dia 13 de maio do ano passado diz que os estudos de liquefação da barragem I do Córrego do Feijão estavam sendo terminados e que não poderiam atestar pela estabilidade da estrutura. "Tudo indica que não passará, ou seja, fator de segurança para a seção de maior altura será inferior ao mínimo de 1.3. Desta maneira, a rigor, não podemos assinar a Declaração de Condição de Estabilidade da barragem, que tem como consequência a paralisação imediata de todas as atividades da Mina de Córrego do Feijão". 

O texto ainda dá conta de que um dos funcionários da Vale detido ligou, na época, perguntando sobre como andavam os estudos de estabilidade da barragem e, sendo informado da situação de instabilidade, "comentou que todos os esforços serão feitos para aumentar o fator de segurança", e citou como exemplo a barragem Forquilha III (também da Vale, localizada em Ouro Preto), que também não "estava passando" no teste de segurança, mas que a empresa responsável pelo estudo assinaria o documento de estabilidade mesmo assim, "com base em promessas de intervenção de melhorias". 

Na semana passada, a TÜV SÜD comunicou que não irá mais emitir Declarações de Estabilidade de Barragens (DCEs) para a Vale até que seja revisto o sistema de avaliação dessas DCEs. A empresa alemã e a Vale foram procuradas pela reportagem para comentar sobre a matéria do jornal americano, mas ainda não se manifestaram.

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