Entrevista

Jovem afegão visita Minas e pede tratamento igualitário para refugiados: ‘Somos sobreviventes’

Gabriel Rezende
grezende@hojeemdia.com.br
09/06/2022 às 10:38.
Atualizado em 09/06/2022 às 10:42
Kazem Ahmadi visita redação do Hoje em Dia, em Belo Horizonte  (Gabriel Rezende / Hoje em Dia)

Kazem Ahmadi visita redação do Hoje em Dia, em Belo Horizonte (Gabriel Rezende / Hoje em Dia)

O jovem Kazem Ahmadi, de 27 anos, pisou em solo mineiro nesta quarta-feira (8). Na bagagem, além de roupas suficientes para cumprir uma agenda de cerca de 20 dias no Brasil e conhecer, nas horas restantes, a cultura nacional, ele traz uma história de superação para contar.  

Kazem deixou o Afeganistão há 11 anos para fugir da opressão do Talibã, grupo fundamentalista que defende rígida interpretação do Alcorão para governar o país. A fuga, no entanto, não foi fácil. 

Além da dor de deixar a própria casa, ele passou 15 dias à deriva no mar e ficou três meses preso na Grécia por desassistência, já que não possuía documentos tampouco meios para formalizar o pedido de asilo. “Mas não era uma falha minha, eu tentei tantas vezes [pedir asilo oficial]”, disse em entrevista ao Hoje em Dia nesta quarta-feira (8). 

Kazem conseguiu oficializar o processo de asilo na Grécia a partir da ajuda recebida pela Organização Não Governamental (ONG) brasileira Planeta de TODOS, em parceria a Holes in the Borders. “Se não existissem as ONGs, seria praticamente impossível nossa existência”, explica. 

Além de legalizar a permanência na Grécia, Kazem fez aulas de inglês e fotografia. Atualmente, ele trabalha como intérprete.

‘Somos todos iguais’

Kazem relatou que a principal dificuldade encontrada pelos refugiados é a falta de isonomia no tratamento que eles recebem. “Somos todos iguais. Qual a diferença entre mim e qualquer outra pessoa do mundo?”, lamentou.

(Arquivo Pessoal)

(Arquivo Pessoal)

Ele também cita “estereótipos” criados pelos moradores locais. “São rótulos que colocam. Não devíamos tratar as pessoas de formas diferentes. Desde que eu chego ao país, eu respeito a nação. As regras deveriam ser aplicadas para todos de uma maneira geral. Nós vamos à escola, à universidade, nós estudamos, nós somos os mesmos. Não temos nada de diferente”, prossegue. 

“Nós somos sobreviventes, estamos em estado de sobrevivência”, destacou. Kazem reforça que em caso de desassistência governamental, muitos refugiados se veem obrigados a entrar em um mundo obscuro de tráfico de pessoas. “É uma forma que você encontra para sobreviver”, lamenta.

Por que deixar o lar?

“O Talibã vai à casa das pessoas e recruta. Quando você se nega a entrar, eles fazem ameaças. Você tem basicamente duas opções: juntar-se ou fugir”, explicou o refugiado ao ser questionado por que escolheu deixar o Afeganistão. 

O jovem afirma sentir falta da vida e das pessoas que conhecia no Afeganistão, mas pontua não se arrepender da decisão. “Eu tive que enfrentar essas coisas para reconstruir minha vida. Infelizmente, na vida há prioridades, e você tem que escolher algumas delas”, completou. 

Viagem ao Brasil 

Kazem, depois de Belo Horizonte, desembarca nesta quinta-feira (9) em Ipatinga, no Vale do Aço mineiro. O jovem também cumprirá agenda em outras cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. 

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