Justiça decreta prisão preventiva de donas de asilo onde idosos morreram; 17 estão internados

Rosiane Cunha
29/07/2019 às 21:49.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:45
 (Polícia Civil/Divulgação)

(Polícia Civil/Divulgação)

As duas proprietárias de um asilo particular em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, suspeitas de torturarem idosos, tiveram as prisões preventivas decretadas nesta segunda-feira (29) pela Justiça mineira. Mãe e filha foram presas na última quinta-feira (25) durante uma operação da Polícia Civil que flagrou vários idosos em situação de maus-tratos, desnutridos e com quadro de pneumonia. 

A clínica funcionava há três anos no bairro Barreiro do Amaral e hospedava cerca de 50 idosos. Até agora,17 precisaram de atendimento médico e estão internados no Hospital Municipal Madalena Calixto, em Santa Luzia. Três vítimas estão em estado grave, segundo a Polícia Civil. Além dos internados, há suspeita de que pelo menos três pessoas morreram por causa das condições em que viviam no local.

O advogado Welbert de Souza Duarte, que defende as duas suspeitas, informou que vai entrar com pedido de habeas corpus assim que tiver acesso aos documentos e provas que foram encaminhados à Polícia Civil. Segundo ele, as suspeitas negam veementemente que torturassem os idosos. 

“Ser humano nenhum merece passar por isso. Eu fiquei indignada e quando soube da prisão eu senti um alívio pelos velhinhos. Ela vai pagar pelo que ela fez”. O desabafo é da dona de casa Tatiane Mineira de Oliveira, filha de uma interna do asilo. Dona Iranilda morreu em 2018 após dar entrada em um hospital de Santa Luzia com um quadro de desidratação e anemia.

Tatiane conta que teve pouco contato com a mãe e foi criada pela avó paterna, mas recebeu uma ligação de uma assistente social que a localizou por causa de um cadastro no Sistema único de Saúde (SUS) e foi informada. “Ela pediu que eu fosse até o hospital e eu achei que ela tinha passado mal, mas quando eu fui visitá-la, ela estava atrofiada, não falava, se alimentava por sonda e tinha escaras pelo corpo”. 

A mãe havia sido deixada no local por ambulância e ninguém do asilo apareceu para dar explicações. A assistente social contou sobre a suspeita de maus-tratos e ela e o marido começaram a investigar. Ela disse que precisou fazer um boletim de ocorrência para ter acesso aos documentos da mãe na instituição e outro contra os maus-tratos sofridos pela idosa. “Assim que melhorasse eu ia levar minha mãe para morar comigo, mas não deu tempo. Ela morreu de infecção generalizada”, conta.

Ainda de acordo com Tatiane, parentes de pacientes internados contaram a ela que a dona do asilo foi até o hospital para visitar a mãe. Eles contaram que ela começou a tremer, ficou muito nervosa. “Após a morte da minha mãe, a Polícia Civil disse que o asilo estava sob investigação e, agora, um ano depois, a gente ficou sabendo pela imprensa do que havia ocorrido e da prisão dela e da filha. Minha mãe não falava, mas quando ela me viu, começou a chorar e eu percebi que era um pedido de socorro", desabafa.

A aposentada Regina Maria Ribeiro também não tem boas lembranças do asilo. No ano passado ela conseguiu uma vaga na casa para um amigo de 58 anos que sofria de esclerose múltipla. Ele ficou no asilo por apenas 20 dias. Logo que chegou a proprietária informou sobre as regras para os internos: o uso de celular era proibido e visitas, apenas no fim de semana.

“Eu tive uns problemas de família e fiquei 15 dias sem contato com ele. Quando cheguei, me pediu desesperadamente para ser tirado de lá. Ele contou que passava fome, frio e ouvia gritos de pedido de socorro”, conta Regina.

Diante das denúncias, ela informou à proprietária que tiraria o amigo de lá, mas foi informada que ele precisaria passar por uma consulta e o médico emitisse um atestado médico. "Além disso, eu teria que pagar uma multa de R$ 2.800,00", lembrou.

Regina informou que não poderia fazer isso e que iria fazer uma denúncia de cárcere privado contra a proprietária do local. A aposentada precisou recorrer à Polícia Militar para retirar o amigo do asilo.

“Ela protestou o meu nome num cartório e eu fiquei com o meu nome sujo. Além disso, o médico que fez o atestado nunca esteve no asilo”, conta.

Ainda de acordo com Regina, na época, ela chegou a denunciar a situação da casa para os órgãos públicos, mas nada foi feito. “Ele me contou que eles tomavam banho frio às 5h, que eles não se alimentavam direito e que todo mundo recebia medicamentos às 18h para dormir. Eles eram torturados. Graças a Deus em consegui tirar meu amigo de lá rápido”, concluiu.

A Polícia Civil ainda procura por um cuidador que também seria um dos principais agressores, conforme relatos das vítimas. Ele teve o pedido de prisão decretado nesta segunda-feira.

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