A presença de negros e pobres nas universidades brasileiras está em queda. Do total de formados em 2015, apenas 37,8% se declararam negros ou mulatos, enquanto em 2014 eram 44,2%. No mesmo período, o número de estudantes com renda familiar de até um salário mínimo e meio que concluiu o ensino superior caiu de 18,66% para 10,5%.
O principal motivo é a crise financeira vivida no país, que obrigou a redução de bolsas de estudo, provocou desemprego e forçou uma parcela dos alunos a largar a faculdade para trabalhar.
Os dados são do Instituto Nacional de Ensino Superior (Inep) e integram o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). A prova, obrigatória para os universitários, revela o nível de aprendizado nas instituições públicas e privadas do país, além de traçar um perfil socioeconômico do aluno.
Segundo a pesquisa, os graduados brasileiros ficam com um perfil cada vez mais uniforme: jovens brancos e de classes média ou alta. No ano passado, o percentual de brancos que terminou a graduação foi de 61,6% – em 2014 eram 54,9%.
“Muitos foram obrigados a deixar os estudos para trabalhar e ajudar nas despesas de casa. E tem aqueles que não conseguiram mais pagar as mensalidades por causa da alta do custo de vida”, afirma o professor de políticas educacionais da PUC Minas, Carlos Roberto Jamil Cury.
Para Cury, negros são os que mais sofrem diante desta situação, pois integram a parcela da população mais vulnerável economicamente.
O que os números revelam, a líder da União Colegial de Minas Gerais (UCMG), Késsia Teixeira, diz já saber na prática. “Os estudantes mais pobres não estão conseguindo nem entrar na faculdade mais”, afirma.
É o caso do jovem Clauderson da Silva Santos, de 21 anos. “Eu precisava de uma bolsa para estudar. Mas está cada vez mais difícil conseguir”, lamenta. Ele diz que, com o aumento do custo de vida, tem sobrado cada vez menos dinheiro para arcar com os custos dos estudos sozinho.
O Ministério da Educação foi procurado para comentar a queda e apresentar dados de bolsistas neste período. No entanto, a pasta federal não se pronunciou até o fechamento desta edição.
