Moradores de prédio próximo a viaduto que caiu começam a deixar apartamentos

Iêva Tatiana - Hoje em Dia
27/07/2014 às 16:52.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:32
 (Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)

(Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)

Tristeza, medo e indignação. Em meio a esse conflito de sentimentos, as famílias dos blocos oito e nove do Residencial Antares e do bloco três do Edifício Savana, vizinhos ao viaduto Batalha dos Guararapes, no bairro São João Batista, Região Noroeste de Belo Horizonte, foram removidas de seus apartamentos, na tarde deste domingo (27), e encaminhadas a um hotel no bairro São Cristóvão.   Por volta das 14 horas, representantes da Defesa Civil chegaram ao local para auxiliar na remoção dos moradores. Ao todo, 42 famílias – que vivem mais próximas aos escombros – foram orientadas a deixar seus imóveis. Segundo a Defesa Civil, 19 famílias saíram, 15 se recusaram e oito apartamentos estavam desocupados. A previsão é de que todos os prédios do condomínio sejam evacuados até o início dos trabalhos de remoção do restante da estrutura que ruiu no último dia 3.   “O apartamento não está interditado, vocês terão acesso a ele; a garagem não está interditada, será permitida a permanência dos carros aqui. Os senhores não estão sendo retirados judicialmente. Estamos oferecendo esse tipo de assistência por uma questão de segurança, inclusive, porque algumas pessoas nos convocaram dizendo que não estavam suportando a angústia de viver ao lado do viaduto”, disse o coordenador da Defesa Civil de BH, coronel Alexandre Lucas Alves.   Medo   Temendo uma nova tragédia, principalmente, por causa das chuvas, a moradora Ana Lúcia Machado, que vive com o marido e três filhas no residencial Antares, optou por deixar sua casa. “Com certeza, vou sair, porque não vale o risco. Optamos pela segurança em primeiro lugar e seja o que Deus quiser”, afirmou.   O temor já afeta, também, moradores de outras unidades do condomínio, que ainda não precisarão desocupar seus apartamentos. Paulo Henrique Tavares mora no bloco três e faz parte de uma comissão formada por oito moradores e a advogada que os representa.   “O coronel da Defesa Civil nunca veio conversar com a gente, hoje foi a primeira vez. Até então, outros representantes só passavam por aqui. Ficamos sabendo de tudo pela imprensa e, agora, ele nem quer saber de nos ouvir”, disse Tavares.   A Defesa Civil, no entanto, rebateu essa informação. O órgão disse que mantém contato com os moradores, 24 horas por dia, por meio de um posto montado ao lado dos condomínios. Além disso, segundo a Defesa Civil, há um telefone exclusivo para que os condôminos tirem dúvidas. Ainda de acordo com o órgão, vários comunicados foram enviados para as famílias dos dois condomínios.   Resistência   Para outros moradores, a decisão de mudar-se para um hotel não é fácil. Além de temerem saques aos apartamentos que serão deixados para trás – ainda não há uma definição sobre a segurança dos imóveis –, animais de estimação não serão permitidos no hotel.   “Eu não posso sair daqui e deixar minha gata sozinha. Também não vou causar transtornos aos meus familiares nem deixá-la em um hotel para animais, onde sabemos que ocorrem maus tratos, muitas vezes. Não fui eu que provoquei isso, então, os responsáveis que se virem”, afirmou a moradora do Edifício Savana Marilda Siqueira, que recusou-se a deixar o imóvel em que vive com o filho e a gata.   Impacto psicológico   Convidada pela advogada que representa os moradores afetados pela queda da alça do viaduto, Ana Cristina, a psicóloga especialista em avaliação psicológica Andréa Regina Marques vem acompanhando o drama das famílias que vivem no entorno da estrutura.   Segundo ela, é possível antever um episódio de estresse pós-traumático coletivo, tendo em vista a gravidade da situação e o temor que toma conta de todos os condôminos.   “Alguns já estão sob efeito de drogas pesadas, porque não conseguem dormir. As crianças estão muito assustadas e só falam que o prédio vai cair. A morte ronda essas pessoas, então, venho tentando minimizar a dor delas, porque, a partir de agora, é com esse sentimento que vão ter que lidar”, disse Andréa.

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