
Depois de um mês planejando forjar o próprio sequestro para tirar dinheiro do pai, uma mulher de 24 anos decidiu que estava pronta para colocar seu plano em prática na manhã da última terça-feira (20), em Bom Sucesso, no Centro-Oeste de Minas. Seu plano quase deu certo, já que ela conseguiu receber o dinheiro do resgate. Porém, o que ela não contava era que a Polícia Civil (PC) seria acionada e montaria uma força-tarefa com homens de quatro cidades da região, o que acabou culminando em sua prisão, na madrugada de quarta-feira (21).
O Hoje em Dia conversou com o delegado Alexandre Rezende Vieira, responsável pela operação que contou com mais de dez agentes das cidades de Lavras, Perdões, Santo Antônio do Amparo e Bom Sucesso. Ele conta que a suspeita saiu de casa por volta das 7h em seu carro e, por volta das 9h30, ligou para o pai de seu próprio celular.
"Ela disse que havia sido sequestrada e que os autores queriam R$ 10 mil de resgate, que deveria ser depositado nas contas da filha e de sua mãe, que ela tinha o cartão. Desesperado, o pai pediu dinheiro para familiares, amigos e até o namorado da filha, juntando um total de R$ 8.500 que chegaram a ser transferidos para as contas", detalhou o policial.
A partir do momento que a PC foi informada do sequestro, o delegado, que estava em uma cidade vizinha, pediu autorização para conduzir as investigações, criando rapidamente a força-tarefa. "Recebemos a informação de que saques foram realizados na cidade de Perdões. Uma equipe se deslocou até lá e descobriu que a mulher teria sido liberada e estava com a Polícia Militar (PM), que foi acionada a pedido dela", lembrou Alexandre.
A jovem foi levada então para Bom Sucesso, para prestar depoimento na delegacia, ao mesmo tempo em que buscas eram realizadas atrás do "sequestrador", já que ela informou que o suspeito teria fugido em seu carro no sentido a Campo Belo. Cercos foram montados nas rodovias da região, entretanto, logo depois o carro da vítima acabou localizado em uma rua de Perdões.
Durante o depoimento a mulher deu detalhes do trajeto, dizendo ter sido fechada por um carro e, depois, sequestrada. Ela disse ter sido levada para Perdões, onde foi obrigada a sacar o dinheiro. "Fizemos alguns levantamentos de vídeos de câmeras de segurança no trajeto indicado por ela e vimos que não condizia. Além disso, uma testemunha afirmou ter visto ela descer do carro, trancá-lo e sair com naturalidade, chegando inclusive a checar se o veículo estava trancado", detalhou o policial.
Nova versão
A partir daí a suspeita resolveu mudar a sua versão, acusando então um "desafeto da família", filho da segunda esposa de seu avô. Ela disse que o homem estaria extorquindo-a há algum tempo, tendo abordado ela com uma arma após combinar de encontrar para conversar.
"Fomos novamente a campo e localizamos o homem que ela apontou como autor do sequestro. Mas ele disse que passou o dia inteiro em casa, tendo testemunhas e, também, podendo provar o que dizia por meio das câmeras de segurança de sua residência, o que foi confirmado pelos policiais", conta o delegado Alexandre.
Pressionada novamente, a jovem acabou não resistindo e confessou tudo, alegando que estava com dificuldades financeiras, devendo o banco e comércios locais, o que a teria levado a forjar o próprio sequestro para obter o dinheiro. "Ela confessou que deixou o dinheiro e o celular com uma amiga, em Perdões. Retornamos até a cidade e recuperamos R$ 4.545 e o celular. Essa amiga não sabia do que se tratava, recebeu um envelope fechado que foi entregue à polícia", completa o agente.
A mulher acabou presa em flagrante por estelionato e falsa comunicação de crime, que têm penas de 1 a 5 anos e de um a seis meses de prisão, respectivamente. Ainda de acordo com a PC, ela já foi encaminhada para uma unidade prisional da região.
Policiais trabalharam por 16h seguidas
O delegado responsável pela investigação critica ainda o grande desperdício de tempo e aparato policial causado pela mulher que forjou o próprio sequestro.
"Foi mobilizado uma equipe bem grande, a gente teve cerca de 16h ininterruptas de trabalho, sem pausa para almoço. Sem falar que, fora essa equipe de 10 policiais, tinha também uma grande equipe interna trabalhando. A gente foi finalizar o procedimento com o flagrante dela por volta das 2h30 de ontem (quarta)", reclamou.
A polícia continua as investigações, tentando identificar se existem outros envolvidos no falso sequestro e, também, se as dívidas realmente foram o motivo do crime.
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