desdobramentos

Mulher trans espancada na Savassi só não morreu durante agressões porque motociclista ajudou

Dois suspeitos foram identificados e medidas cautelares foram tomadas, mas não foram divulgadas por 'uma questão de segurança'

Do HOJE EM DIA
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Publicado em 14/11/2025 às 12:52.Atualizado em 14/11/2025 às 16:24.
Policia divulga desdobramentos da morte de mulher trans, espancada na Savassi (Valéria Marques/ Hoje em Dia)
Policia divulga desdobramentos da morte de mulher trans, espancada na Savassi (Valéria Marques/ Hoje em Dia)

Detalhes sobre o caso de Alice Martins Alves, de 33 anos, que foi atacada por funcionários de um bar e morreu dias depois por complicações das agressões, foram divulgados pela Polícia Civil nesta sexta-feira (14). Segundo a corporação, a mulher trans estava em um bar na Savassi e ao sair, sem pagar a conta de R$ 22, foi perseguida por dois funcionários e espancada.

Conforme a PCMG, a mulher trans só não morreu na via porque um motociclista chegou ao local e acionou o Samu. Ela foi encaminhada para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e teve alta no mesmo dia. De acordo com o delegado Thiago Machado, os dois suspeitos foram identificados e medidas cautelares foram tomadas. No entanto, elas não foram divulgadas por “uma questão de segurança”.

“Medidas cautelares foram solicitadas. Se há interceptação telefônica, se há mandado de busca, se há prisão, obviamente a gente não vai falar, porque esses indivíduos estão em liberdade. Se eu falo: 'Eu pedi uma interceptação telefônica do suspeito', o que ele vai fazer? Vai trocar o telefone dele. Já revelamos muito ao dizer que são medidas cautelares, no intuito de apaziguar o ânimo de todos”, destacou o delegado. 

Dia do crime 

Segundo a PC, Alice frequentava constantemente o bar e era conhecida pelas pessoas do local. No dia 23 de outubro, foi sozinha ao estabelecimento e bebeu sozinha. Contudo, acabou esquecendo de pagar a conta e foi embora. Depois, foi perseguida e espancada. Ela foi encaminhada para a UPA, mas teve alta no mesmo dia. 

Já no dia 26, foi submetida a vários exames em um hospital particular de Contagem. Foram constatadas lesões gravíssimas, como quebra de costelas.

Na semana seguinte, dia 5 de novembro, Alice procura uma delegacia e registra a ocorrência. Ela foi encaminhada ao Instituto Médico Legal (IML) e foi submetida a um exame de corpo de delito. Depois, ela retorna para casa, mas o estado de saúde começa a complicar, com a vítima sem conseguir se alimentar corretamente e Alice perde 12 quilos.

Três dias depois (8 de novembro), Alice é internada novamente, desta vez em Betim. Descobre-se uma perfuração no intestino por causa das agressões e, no dia 9, o estado de saúde se agrava e Alice acaba morrendo por um choque séptico.

Áudio e sumiço dos suspeitos

A polícia teve acesso a um áudio vazado gravado por um funcionário do estabelecimento. No registro, a fonte afirma que a vítima bebia no local e foi seguida pelos suspeitos após se dirigir para outro ponto.

"Se a gente colocasse cerveja na mesa dela e cobrasse na hora, ela pagava. Não tinha por que bater nela, não”, lamentou o homem no áudio.

O funcionário também confirma o envolvimento de colegas: “Foram dois caras que bateram nela. Eles não estão nem vindo trabalhar. Eles sumiram. Eu frago os dois. Tem muita gente que sabe. Os populares que estavam no dia, todos sabem”, acrescentou.

Ambos os suspeitos deixaram o trabalho após o incidente e não responderam mais aos colegas. A polícia também possui uma gravação onde um dos suspeitos menciona um gerente da pastelaria, que nega envolvimento no crime.

A reportagem tentou contato com os garçons envolvidos, mas não foram localizados. Tiago Lenoir, advogado da família da vítima, informou que a defesa "não poupará esforços", em conjunto com a Polícia Civil e o Ministério Público, para esclarecer todos os fatos e garantir que cada pessoa envolvida seja devidamente responsabilizada. "A família exige respostas, e atuaremos com rigor e transparência para que a Justiça prevaleça", enfatizou.

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