No período de chuva, há 20 vezes mais cidades em emergência por falta de água

Iêva Tatiana - Hoje em Dia
23/03/2015 às 08:10.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:26
 (Editoria de Arte)

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O período chuvoso, que vai de outubro a março, trouxe resultados atípicos a Minas Gerais. Normalmente, nesta época, centenas de municípios decretam situação de emergência devido a danos causados por temporais. Porém, o prejuízo registrado por municípios tem decorrido da seca que afeta grande parte do Estado. De acordo com a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, o número de cidades em situação crítica por causa da falta d’água é 20 vezes superior ao de cidades atingidas por inundações, até o momento.

Piora

E a tendência, segundo especialistas, é a de que o quadro seja agravado pelo outono – que teve início na última sexta-feira –, já que a estação é tipicamente seca.

“Dificilmente vamos ter uma recuperação rápida. Em dezembro e janeiro, considerados os meses mais chuvosos, tivemos pouca precipitação sobre Minas como um todo, principalmente nas regiões Norte, Vale do Jequitinhonha, Vale do Rio Doce, Vale do Mucuri e até na Central. Isso agravou a estiagem”, destaca o meteorologista do Instituto PUC Minas TempoClima, Heriberto dos Anjos.

Explicação

Para a professora de climatologia e mudanças climáticas do curso de geografia do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), Janaína Mourão, essa contradição climática é natural.

Segundo ela, a origem das chuvas está no aquecimento dos oceanos, capazes de absorver até 100% dos raios solares. O calor armazenado durante o dia gera um processo de evaporação à noite, que resulta na formação de nuvens.

“Os oceanos, com toda umidade que geram, contribuem para a precipitação. Quando o Pacífico se aquece, ocorre o chamado El Niño, que leva ao aumento das chuvas no Sul e no Sudeste do país, e à diminuição no Norte e no Nordeste”, explica Janaína.

Temperatura

Estudiosos que seguem essa linha acreditam que o oceano Pacífico tenha entrado em um processo de resfriamento a partir de 1998 e que deverá perdurar até aproximadamente 2020. Isso explicaria o fato de algumas regiões do país registrarem pouca precipitação nos últimos anos.

Efeitos da estiagem são os piores das últimas décadas

Independentemente da causa, são as consequências da estiagem prolongada que preocupam a população dos municípios mineiros mais afetados – e que já decretaram situação de emergência. Em Montes Claros, no Norte do Estado, produtores rurais precisaram vender 95% do gado por causa da falta de pastagem para alimentar os animais.

Segundo o coordenador de Defesa Civil da cidade e presidente do Conselho Estadual de Coordenadores de Defesa Civil, Mattson Malveira, esta é a pior seca dos últimos cinco anos. “Passamos dos 80% de perda na agricultura e na pecuária, em geral. O nível dos poços artesianos baixou muito e alguns precisaram ser aprofundados. Essa situação vem se arrastando pelos últimos três anos, mas, dessa vez, chegamos ao pico”, diz Malveira, ressaltando que a previsão para os próximos meses não é otimista.

Em Formiga, no Centro-Oeste, a situação não se altera muito. Moradores das regiões mais altas da cidade chegaram a ficar até 15 dias sem abastecimento de água, no fim do ano passado.

Embora a redução na precipitação pluviométrica venha sendo observada desde 2013 na cidade, essa já é considerada a maior seca das últimas quatro décadas, de acordo com o coordenador de Defesa Civil, José Lopes do Couto Filho. “A população sofre muito. Na lavoura, está um desastre total, com prejuízos impressionantes, e o mesmo ocorre no turismo, que vive da represa de Furnas. Se não tem água, os turistas não vêm”, lamenta.

Na mesma região, em Piumhi, obras de emergência precisaram começar a ser feitas, mas não deverão ficar prontas a tempo de atender à demanda das próximas estações, nas quais não são registradas chuvas, normalmente.

“Nossa represa está muito baixa e nossos afluentes também. A chuva que veio neste mês não repôs a quantidade de água de que precisávamos. A captação foi afetada, estamos fazendo a ampliação da adutora, mas creio que a obra não saia a tempo. No ano passado, abastecemos a adutora com caminhões-pipa. Essa é a primeira vez na história que temos problemas assim”, alerta o diretor municipal de Obras e Serviços Públicos, Maycon Diego Rodrigues.

Medidas

Conforme a professora Janaína Mourão, a crise deixa uma lição: é preciso haver gestão dos recursos hídricos em todo o Brasil. “Temos água, mas não disponível para o uso potável. Tem que ser feito o melhor uso dela, tanto por parte da população quanto do planejamento governamental. Se tivermos isso, conseguiremos passar por momentos como esse com muito menos transtornos”.
 

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