
Enquanto a renda mensal domiciliar per capita no Brasil foi de R$ 1.638 em 2022, a dos trabalhadores de Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, chegou a R$ 6.929. É o que apontam dados preliminares do Censo Demográfico do IBGE divulgados nesta quinta-feira (9). Município é um polo de mineração e reúne bairros residenciais de alto padrão
A cidade vizinha lidera também o ranking de maior renda quando se considera o rendimento domiciliar per capita, de R$ 4.300 mensais em 2022. A diferença é porque nesta conta do IBGE entram pessoas da família que não trabalham, mesmo que recebam benefícios.
Para se ter uma ideia da disparidade em relação a outras regiões do país, em Uiramutã, município de Roraima, no Norte do Brasil, a renda média mensal não passou de R$ 289 no ano pesquisado.
Segundo o IBGE, os dez municípios com maiores rendimentos estão concentrados nas regiões Sudeste e Sul — cinco deles em Santa Catarina — enquanto os dez com menor renda ficam no Norte e Nordeste, sendo cinco no Maranhão.
Considerando o recorte por cor ou raça, a disparidade também chama atenção nos dados do IBGE. Populações branca (R$ 2.207) e amarela (R$ 3.520) apresentaram renda quase duas a três vezes maior que a das populações preta (R$ 1.198) e parda (R$ 1.190).
O principal fator que explica a riqueza de Nova Lima é geográfico e estratégico é o que aponta o especialista do IBGE, Bruno Perez. “A cidade está situada ao lado da zona de maior poder aquisitivo da capital mineira, a Zona Sul. Famílias com alta renda que trabalham na capital mineira viram em Nova Lima a oportunidade de viver em residências maiores, com mais segurança e contato com a natureza, sem abrir mão do acesso rápido ao centro financeiro e de serviços de BH, diz.
Para o consultor especialista em mercado imobiliário e CEO da Aluu, Eduardo Luiz, essa busca por qualidade de vida deu origem a um fenômeno urbanístico que acelerou nos últimos anos. “O avanço de condomínios fechados de alto e altíssimo padrão em bairros como Vila da Serra, Vale dos Cristais, Morro do Chapéu e Alphaville se tornaram sinônimos de um estilo de vida exclusivo. Esses condomínios não apenas oferecem casas e apartamentos de luxo, mas também uma infraestrutura completa de lazer, segurança e serviços”.
E mais: “Nova Lima é chamada de 'cidade-dormitório' porque boa parte de seus moradores trabalha e estuda em outras cidades, principalmente na capital mineira. Essa proximidade com Belo Horizonte, somada à presença de condomínios de alto padrão no Vila da Serra e no Vale do Sereno, transformou o município em um grande polo residencial. As pessoas buscam a região por segurança, tranquilidade e qualidade de vida, sem abrir mão da rotina agitada. Historicamente marcada pela mineração, Nova Lima passa por essa transformação, pois não há empregos para todos os seus habitantes. Observa-se que muitos moradores dos grandes condomínios e dos bairros citados não necessariamente trabalham ou têm empresas em Nova Lima, deslocando-se para Belo Horizonte e cidades vizinhas. É por isso que Nova Lima é considerada uma cidade-dormitório", diz.
Distribuição de riquezas mostra disparidade entre municípios
O abismo social brasileiro fica ainda mais evidente ao se observar a distribuição geográfica da riqueza. As dez cidades com os maiores rendimentos per capita estão concentradas nas regiões Sudeste e Sul, segundo o IBGE. Após Nova Lima, aparecem no ranking São Caetano do Sul (SP), com R$ 3.885, e as catarinenses Florianópolis (R$ 3.636) e Balneário Camboriú (R$ 3.584).
Enquanto isso, a realidade de Uiramutã, com 13,8 mil habitantes, reflete a vulnerabilidade de suas comunidades. O município possui o maior percentual de população indígena do país (96,6%), grupo que, segundo o Censo, tem a menor renda domiciliar per capita nacional, de R$ 669, bem abaixo da média brasileira de R$ 1.638, informou o IBGE.
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