O crescimento da população de rua em Belo Horizonte não é apenas uma impressão, mas uma constatação da Secretaria de Políticas Sociais da PBH. O órgão já considera que, pelo número de atendimentos prestados, há pelo menos 3 mil pessoas morando nas ruas da capital – um aumento de quase 70% em relação aos 1.827 moradores contabilizados no último censo, realizado em 2014.
Os principais motivos para essas pessoas irem para as ruas, de acordo com a pasta, são os conflitos familiares, seguidos do envolvimento com drogas. Uma repetição do que foi verificado no último levantamento, quando 52,2% dos entrevistados disseram que foram para as ruas depois que a relação em casa se tornou problemática.
O comportamento dos moradores também não é mais o mesmo. Secretária de Políticas Sociais, Maíra Colares explica que a mobilidade dos grupos também está maior. “Percebemos que eles não ficam mais em guetos, mas circulam por vários pontos da cidade, o que aumenta a percepção de que há mais gente nessa condição”, explica.Flávio Tavares / N/ADANDO UM JEITO – Bancos, varais e barracas são usados pelos moradores de rua para se abrigar nas calçadas da cidade
É o caso de Jeanne da Silva, que há mais de um ano vive nas ruas da região Centro-Sul. Grávida de oito meses da pequena Pérola Vitória, ela cresceu no Taquaril, Leste de BH, e já trabalhou como cabeleireira, faxineira e cozinheira.
Ao lado do companheiro Aquiles Rodrigues, Jeanne teme perder a guarda da filha caso não providencie uma moradia. Ela alega conviver diariamente com a necessidade de encontrar um novo local para dormir, já que o convívio com comerciantes e moradores dos bairros é quase sempre conflituoso.
“Já chegaram a me oferecer casa, mas eu teria que ficar separada do meu marido, por isso não aceitei. O pior são os fiscais da prefeitura, que estão sempre levando nossas coisas embora. É muito difícil”, diz.
Segundo a PBH, o recolhimento de objetos está baseado na norma de regulação urbana. O que não é permitido é a retirada de objetos pessoais, como cobertores. O que pode ser levado pelos fiscais são objetos que obstruem a via, conforme prevê o Plano Diretor.Wesley Rodrigues / N/A“Já chegaram a me oferecer moradia, mas eu teria que ficar em uma casa separada do meu marido, por isso não aceitei. O pior são os fiscais da prefeitura, que estão sempre levando nossas coisas embora. É muito difícil” (Jeanne da Silva, de 29 anos)
Wesley Rodrigues / N/A“Minha mulher foi embora com meu filho para o Vale do Jequitinhonha depois que eu fiquei desempregado. Sou alcoólatra em tratamento e sempre trabalhei como jardineiro. As ruas de Belo Horizonte estão cheias de moradores vindos de outros Estados. Isso piora ainda mais o problema” (Evandro Henrique, de 41 anos)
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