Obras de contenção, só depois das chuvas

Renata Galdino - Hoje em Dia
Publicado em 04/09/2014 às 08:08.Atualizado em 18/11/2021 às 04:04.
 (Frederico Haikal)
(Frederico Haikal)

A um mês do início do período chuvoso, comerciantes e moradores das áreas constantemente afetadas pelas enchentes em Belo Horizonte só podem contar com a sorte e a força no braço para minimizar os impactos das cheias. Obras que poderiam acabar definitivamente com os alagamentos estão longe de ser concluídas pela prefeitura.

Mesmo com os problemas registrados há anos, existem intervenções previstas para sair do papel apenas no ano que vem. Outras, que deveriam ser entregues à população já em 2015, só devem ficar prontas dois anos depois.

Na lista de obras pendentes está a implantação de uma galeria paralela à existente na avenida Prudente de Morais, no bairro Cidade Jardim (zona Sul). A execução, ao custo de R$ 50 milhões, começou em 2012, mas foi interrompida no mesmo ano, após a descoberta de rochas no caminho da galeria. O projeto está sendo revisado.

A previsão é a de que uma nova licitação seja lançada em 2015 e a obra retomada no mesmo ano. Com o novo cronograma, quem vive e trabalha nas imediações da rua Joaquim Murtinho só terá solução para os alagamentos em 2017.

Cansados de tanto esperar, comerciantes da região amargam prejuízos com as cheias e não mais comentam os problemas. “Não está sendo legal associar a marca a um problema que nunca é resolvido”, disse o dono de uma loja, que não quis se identificar.

Segundo ele, muitos empresários se mudaram porque não aguentaram arcar com as perdas. “Por outro lado, colocaram apenas uma placa pedindo para evitar transitar no local em caso de chuva forte, e só”.

AVENTURA

Um dos imóveis da região que perderam locatários foi alugado recentemente pelo comerciante Vagno Vidal. O sonho do negócio próprio falou mais alto e, mesmo com as enchentes, ele vai abrir, até o fim do mês, uma mercearia no local.

Para evitar a invasão das águas, Vagno gastou R$ 100 mil na reforma do imóvel. As duas entradas pela rua Joaquim Murtinho foram fechadas, e uma nova aberta pela rua Marquês de Maricá.

Em abril, já no período da reforma, o comerciante experimentou o primeiro alagamento. “A loja em funcionamento será um teste. Esperamos que uma placa de aço que será colocada na porta impeça a passagem da água”.

Obras de contenção, só depois das chuvas

Para evitar a invasão das águas, Vagno Vidal gastou R$ 100 mil em obras na mercearia que possui. Foto: Frederico Haikal/ Hoje em Dia

ONÇA

Outra obra complexa, e com previsão para sair do papel só em 2015, pode melhorar a vida de quem mora e trabalha nas imediações das avenidas Cristiano Machado e Bernardo Vasconcelos (Nordeste de BH). Orçada em R$ 442,3 milhões, a intervenção consiste na ampliação dos canais e na adequação das declividades do córrego Cachoeirinha e dos ribeirões Pampulha e Onça.

Cerca de 1.300 famílias serão desapropriadas. Assim como na Prudente de Morais, há interferências com outras infraestruturas instaladas nas vias, o que exige um estudo aprofundado do projeto.

Fim do drama na avenida Francisco Sá fica para daqui a três anos

Quem também não vê a hora do fim dos alagamentos é Vilmar Sousa e Silva, de 33 anos, gerente de uma padaria na avenida Francisco Sá, no bairro Prado (Oeste). “Nosso drama se repete há oito anos. Na última enchente, em abril, as águas arrastaram um freezer para um quilômetro daqui, e a Fiorino do proprietário foi amarrada a um poste para não ser levada pelas águas. Os prejuízos foram de R$ 4 mil”, contou.

Porém, pelo cronograma da prefeitura, ele terá que esperar mais três anos para a solução definitiva do problema. Para a avenida Francisco Sá, está prevista a implantação de um canal paralelo ao existente, ao longa da via, orçado em R$ 15,2 milhões. Atualmente na fase da elaboração de estudos técnicos e dos projetos básico e executivo, as obras só devem começar no segundo semestre do próximo ano e serem concluídas em 2017.

Obras de contenção, só depois das chuvas

De acordo com Vilmar Souza, gerente de padaria na avenida Francisco Sá, no Prado, proprietários convivem com as enchentes há oito anos. Foto: Frederico Haikal/ Hoje em Dia

Com essa projeção, Vilmar afirma que o jeito é continuar com a estratégia para evitar mais perdas. “Todo ano é assim: choveu, encheu, corremos para tirar as mercadorias da parte baixa das prateleiras. Um exercício de academia mesmo”.

Por outro lado, obras para conter o transbordamento do córrego São Francisco estão em curso na Pampulha. Segundo a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), a implantação de sistemas de micro e macrodrenagem da bacia de detenção das cheias, que chegam a invadir o Aeroporto da Pampulha há pelo menos nove anos, deve ser finalizada no fim de 2015.

Recursos para evitar tragédias

Placas indicando risco de inundação em caso de chuva forte, sensores instalados nos principais córregos da cidade e um sistema de alerta para os núcleos de moradores de áreas de risco são os principais recursos utilizados pela prefeitura para evitar tragédias em áreas afetadas pelas cheias.

No ano passado, a Defesa Civil de Belo Horizonte passou a monitorar visualmente as principais vias afetadas. Havendo risco de enchente – alerta que é enviado pela Central de Monitoramento –, uma equipe é deslocada até a região para interditar as ruas próximas.

A estratégia, de acordo com a assessoria do órgão, será mantida no período chuvoso deste ano.                                   

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