Ocorrências policiais pela internet vieram para agilizar, mas muito atrapalham

Iêva Tatiana - Hoje em Dia
31/01/2016 às 08:38.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:14
 (Hoje em Dia)

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Implantado há cerca de dez anos, o Registro de Eventos de Defesa Social (Reds), antigo boletim de ocorrência (BO) da Polícia Militar, ainda não emplacou em Minas. Vítimas de crimes reclamam que estão recebendo o documento preenchido errado ou com dados em branco.

A avaliação de especialistas em segurança pública também não é positiva. A página na internet para preenchimento do Reds demora a carregar.

O excesso de burocracia e o resultado insatisfatório têm levado as pessoas a desistirem do registro, sobretudo porque ele não é mais impresso e entregue na hora pela polícia. A orientação é que seja enviado um e-mail à companhia ou ao batalhão solicitando o retorno com o Reds encaminhado em anexo.

“Já deveríamos estar discutindo outras etapas de prevenção de crimes, mas há pelo menos oito anos estamos nessa mesma história de melhorar o Reds. Como pode um sistema estar em melhoria há tanto tempo? A polícia deveria estar fazendo outras coisas”, critica Bráulio Figueiredo, pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG.

Transtorno

Além de causarem dor de cabeça, as falhas no registro atrasam o andamento dos trâmites legais para recuperação de bens roubados ou furtados. Neste mês, um aposentado de Contagem, na Região Metropolitana de BH, teve as quatro rodas do carro furtadas dentro da garagem do prédio onde mora.

Militares estiveram no local e forneceram à vítima o número do Reds, para que fosse solicitada cópia por e-mail. Sem retorno, o aposentado, que prefere não ser identificado, procurou uma unidade da PM e foi mais uma vez surpreendido.

“Me disseram para acessar a internet e registrar a ocorrência novamente. Ou seja, tudo que os policiais anotaram no dia do furto não serviu para nada”, lamenta o aposentado. Ele precisava do documento para acionar a seguradora do veículo.

Desordem

Uma pessoa que foi assaltada dentro de um ônibus, e que também pediu anonimato, passou por situação semelhante no ano passado. Depois de pedir o envio do Reds por e-mail, para que pudesse entrar com solicitação de segunda via de documentos e cartões bancários, ela recebeu o arquivo com dados de uma vítima de outro crime.

“Liguei para a PM e expliquei o que estava acontecendo, mas os policiais apenas repetiam que o anexo estava correto e que eu deveria procurar meu nome com atenção. O registro que me mandaram foi feito dois dias antes do assalto que sofri. Aleguei que estavam expondo equivocadamente dados de outras pessoas, mas não me deram ouvidos”. O mal-entendido só foi resolvido quatro dias depois.

“Um sistema de informação serve para que as instituições trabalhem com conhecimento. Se ele não funciona, como vão fazer planejamentos operacionais?, questiona Figueiredo.

Vítimas frustradas

Para quem é vítima da ação de bandidos, passar horas fornecendo dados para o preenchimento do Reds e sair de mãos vazias das unidades policiais é frustrante. A reclamação é pelo fato de não receberem o documento com as informações do crime no ato do registro. Pela Delegacia Virtual, é possível registrar apenas cinco tipos de ocorrências: acidente de trânsito sem vítima,  perda ou extravio de documentos, extravio de objetos pessoais, comunicação de pessoa desaparecida e crimes de danos simples.

A advogada Germana Delage, de 34 anos, não tem boa recordação do dia em que precisou fazer um Reds, depois que ladrões quebraram o vidro do carro dela e levaram uma mochila. “Nem cogitei fazer o registro pela internet. Não podia ir para casa, tomar chá e fazer um Reds ouvindo música. Senti necessidade de ir a uma delegacia, mas fiquei revoltada, porque no dia seguinte tive que mandar um e-mail e esperar que me enviassem outro com o documento”.

Sabrina Faedda, de 19 anos, engrossa a lista de reclamações. “É complicado. O tempo é corrido. Você é assaltada e ainda tem que passar por isso”.

Um estudante de 19 anos, do interior de Minas, que passava o fim de semana em BH acompanhando ensaios de blocos de Carnaval e ficou revoltado com a falta de estrutura da polícia. “Essa foi a primeira e última vez que tentei registrar uma ocorrência. Da próxima, não passarei por isso de novo”, disse o jovem, que prefere não ter a identidade revelada.

O Hoje em Dia entrou em contato com a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), mas a reportagem foi informada que caberia à Polícia Militar comentar sobre o Reds.

A corporação, por sua vez, pediu que fosse enviado um e-mail com os questionamentos. Mas não respondeu as perguntas até o fechamento desta edição.


“O insumo básico da PM é a informação de qualidade, e nisso o Reds ainda está engatinhando” (Bráulio Figueiredo, Pesquisador do Crisp) Atualizada em 1º de fevereiro, às 18h34

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