Após os dois graves acidentes de avião registrados em menos de seis meses em uma mesma rua do bairro Caiçara, na região Noroeste de Belo Horizonte, a Infraero, empresa federal responsável pela administração da maioria dos aeroportos do país, e o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), órgão ligado à Força Aérea Brasileira (FAB), estudam a possibilidade da rota dos aviões de pequeno porte que decolam do aeroporto Carlos Prates, na mesma região, ser alterada. A informação foi repassada para moradores e vereadores durante uma visita técnica realizada na quarta-feira (20).
Procurada, a Infraero confirmou que essa possibilidade é estudada, mas não deu detalhes sobre como funcionaria a mudança. A FAB também foi questionada, mas até o momento não se posicionou. Entretanto, o Hoje em Dia teve acesso a vídeos feitos durante o encontro que mostram um funcionário (não identificado) explicando como funcionaria a alteração que vem sendo estudada. Atualmente, as aeronaves fazem uma curva para a direita assim que decolam, passando sobre o bairro Caiçara. Com a nova possibilidade, os aviões passariam a virar para a esquerda.
Área verde do canteiro central da avenida Tancredo Neves foi cogitada como alvo de aeronaves em pane
"Virando à esquerda, temos muitas áreas de vazio urbano. De cara, quando sai (da pista) tem um canteiro imenso da avenida Tancredo Neves, que é considerada grande para o porte dos nossos aviões. Um pouco mais para frente temos uma grande mata da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Temos também o Anel Rodoviário, que também poderia ser usado. Essas áreas solucionariam essa questão de possíveis panes", argumenta o homem nas imagens obtidas pela reportagem.
Em outro momento, o funcionário explica que essa possível alteração será feita pelo Decea, que também terá que solucionar o cruzamento das rotas com as aeronaves que decolam no aeroporto da Pampulha, que passam nessa mesma direção. "O avião não precisa do motor para o piloto ter controle. Quando há pane, ele ainda consegue controlar a aeronave e, por isso, seria possível direcionar a queda para estes locais. Sempre treinamos pilotos aqui, e a prioridade em caso de pane é sempre salvar vidas em terra e só depois a própria vida e dos passageiros", explica o homem no vídeo.
O último dos acidentes aéreos aconteceu no dia 21 de outubro deste ano deixando quatro mortos. Um mês após a tragédia, dois dos passageiros da aeronave de pequeno porte seguem internados no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII. Enquanto isso, moradores do bairro Caiçara seguem vivendo uma rotina de medo a cada aeronave que ouvem passar sobre suas casas.
'Bairros como Alípio de Melo, Castelo e Serrano poderiam ser atingidos', diz vereador
A visita realizada na quarta no aeroporto Carlos Prates aconteceu a pedido do vereador Pedro Bueno (Pode), membro da Comissão de Administração Pública da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) e criador de uma Comissão Especial de Estudos para tratar sobre o problema do aeroporto Carlos Prates.
Em entrevista concedida ao Hoje em Dia nesta quinta-feira, o parlamentar disse discordar da alternativa da mudança da rota, chamada por ele de "paliativa". "Primeiro que o acidente de outubro foi durante uma decolagem que não durou 21 segundos. Então, ainda que fosse alterada a curva, ou direcionada para outra região, não evitaria que ela caísse próximo dali. Isso seria uma mudança de direção de outras tragédias, mas ainda assim a rota estaria dentro da região Noroeste, pois eles poderiam atingir a região de outros bairros, como Alípio de Melo, Castelo e Serrano, por exemplo", argumenta.
Ainda de acordo com Bueno, ele segue defendendo a transferência por completo das atividades do Carlos Prates para o aeroporto que está sendo construído em Betim, na Região Metropolitana de BH. "No próximo dia 30 ou em 4 de dezembro, ainda a definir, iremos nos reunir com o prefeito de Betim, Vitório Medioli (PHS), com presença confirmada dos representantes das escolas de aviação, para falarmos sobre essa outra possibilidade", completa o vereador.
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