Pelos traços do mestre: Bicentenário de Aleijadinho é celebrado na próxima terça-feira

Renato Fonseca - Enviado especial
16/11/2014 às 09:18.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:02

Wesley Rodrigues/Hoje em Dia Obra do gênio Antonio Francisco Lisboa CONGONHAS, MARIANA E OURO PRETO –  Na memória, os ensinamentos do pai, um respeitado arquiteto, carpinteiro e mestre de obras. Nas mãos, calejadas e doentes, o dom de transformar madeira e pedra-sabão em imagens sacras, altares, adros e fachadas das igrejas. Nascido Antonio Francisco Lisboa e imortalizado Aleijadinho, o maior nome da arte colonial brasileira terá uma releitura da beleza e expressividade de sua arte.   O bicentenário da morte do mineiro, reverenciado na próxima terça-feira, traz uma série de eventos simultâneos nas principais cidades históricas por onde seus traços foram esculpidos. A vasta programação, estendida até o fim deste mês, contará com exposições, lançamento de livros, exibição de documentários, palestras, oficinas, concertos, dentre outras homenagens.   Renomados historiadores, arquitetos, escultores e escritores participarão dos encontros. Além de lembrar a memória do patrono das artes no Brasil, os especialistas prometem debater a história ainda envolta em mistérios sobre a vida de Aleijadinho. Influências artísticas, nascimento e morte e obras atribuídas são apenas alguns dos temas ainda obscuros em sua iluminada carreira.    A antiga polêmica envolvendo a substituição das esculturas originais dos 12 profetas da Basílica de Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas, por cópias também volta à cena. As peças seculares sofrem há anos pela frequente exposição ao pó de minério.   Circuito   Nesta edição, o Hoje em Dia traçou um roteiro com as principais obras deixadas pelo mestre do barroco em Ouro Preto, Mariana e Congonhas, na região Central, São João del-Rei, no Campo das Vertentes, e Sabará, na Grande BH. Entre as joias do patrimônio mineiro desenhadas e moldadas por ele estão, por exemplo, a Igreja São Francisco de Assis, em Ouro Preto, protegida por tombamentos.   Habilidade e superação   Entalhador, escultor, marceneiro e arquiteto. As habilidades de Antonio Francisco Lisboa deram vida a obras-primas regionais, que são referência no mundo. Aleijadinho é considerado o mestre do barroco e reconhecido, por lei, como patrono da arte no Brasil. Porém, o mais impressionante em sua trajetória é que a fase mais produtiva do artista ocorreu justamente quando ele estava doente.   Aleijadinho tinha uma deformidade assustadora. Ele teve atrofia muscular e ficou com a face desfigurada. Chegou a perder os dedos dos pés e alguns das mãos, mas não abandonou a carreira. Trabalhava com um cinzel – uma espécie de talhadeira usada pelos pedreiros antigos – amarrado no que restou das mãos.   A principal suspeita é a de que o artista sofria de hanseníase, também conhecida como lepra. “Mesmo doente, ele atingiu a maturidade profissional. Seus trabalhos são magníficos”, destaca a doutora em arqueologia e história da arte, Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira.   Considerada a mais renomada especialista na arte do mestre mineiro, Myriam publicou diversas obras. No livro “Aleijadinho e sua oficina – Catálogo das esculturas devocionais”, a escritora fala de mais de cem esculturas. A que mais lhe agrada, ressalta, é o conjunto da Via Sacra de Congonhas, que narra cenas da Paixão de Cristo. “É admirável”, resume.   Também fã assumido das 66 esculturas de cedro em tamanho natural da Via Sacra, o escultor e diretor de Patrimônio da Prefeitura de Congonhas, Luciomar Sebastião de Jesus, se orgulha ao falar das obras que Aleijadinho deixou em sua cidade e das parcerias firmadas pelo mestre. “Ele foi contemporâneo e parceiro de trabalho de Manuel da Costa Ataíde (1762-1830), que pintou parte das capelas e das cenas da Paixão de Cristo”, conta.   Antes da fama obtida em Congonhas, porém, Aleijadinho já despontava em Ouro Preto, que na época se chamava Vila Rica. Lá, ajudou a erguer a Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto. Em 1766, Antonio Francisco Lisboa recebeu o desafio de fazer a planta arquitetônica do imóvel. O templo é considerado como o ápice do rococó mineiro.    “A fachada é maravilhosa, com os brasões de Portugal e da Ordem Terceira Franciscana. No interior, o destaque fica para as técnicas de profundidade de perspectivas no retábulo mor”, afirma a professora e consultora de cultura mineira Deolinda Alice dos Santos.   Vida marcada por mistérios   Criada há quase quatro décadas, a Semana do Aleijadinho chega neste ano à 37ª edição. O evento, responsável por preservar a memória artística de Antonio Francisco Lisboa, reunirá respeitados profissionais de diferentes áreas de atuação. Além de prestar homenagens, eles debaterão a vida do patrono das artes.   Um dos destaques será o lançamento do livro “Aleijadinho 200 Anos”, organizado pelo escritor e editor Paulo Lemos, morador de Ouro Preto. A publicação apresenta artigos de nove especialistas, como o promotor do Ministério Público Estadual, Marcos Paulo de Souza Miranda; o historiador Alexandre Mascarenhas; e o pintor Carlos Bracher, dentre outros.   “A história de Aleijadinho é recheada de mistérios, como a doença que enfrentou e a falta de registros oficiais de algumas esculturas, o que justifica o fato de algumas obras serem, apenas, atribuídas a ele. Este livro mostra, com clareza, o trabalho de sucesso deixado pelo escultor e arquiteto mais famoso de Minas e um dos mais respeitados do mundo”, diz o editor Paulo Lemos.   Segundo ele, apesar da chance de esclarecimentos – como a exata data de nascimento cravada em 1737 em artigo assinado pelo promotor Marcos Paulo –, alguns fatos continuarão de forma controversa. “Todos os artistas considerados mitos têm histórias misteriosas. Isso faz parte”, afirma Lemos, que também destaca o aprendizado do mestre.   “Ele tinha um dom e suas melhores obras foram feitas quando estava mais velho. Hoje, as esculturas, ornamentos e igrejas estão avaliadas em milhões de dólares. Claro, ele não trabalhou sozinho, tinha uma equipe”.   O começo   Aleijadinho teria sido iniciado no mundo das artes ainda criança. Ele seguiu os passos do pai, Manoel Francisco Lisboa, e dos tios Antônio Francisco Pombal e Francisco Antônio Lisboa. “Na época, a sociedade colonial era dividida em brancos ricos, brancos pobres, negros e mulatos. Cada grupo social era organizado por uma irmandade religiosa. Foi neste cenário que despontava Antonio Francisco Lisboa, com todos os seus dons artísticos”, acrescenta a professora e consultora de cultura mineira Deolinda Alice dos Santos.   O patrono das artes era um homem bastante humilde. Em 1814, quando estava bem debilitado, morou de favor na casa da nora e morreu pobre, aos 77 anos, sem deixar bens.   (function(cm) {var menuContent = [{ label: 'Open Horizontes', url: "viewContent('2.693')" }, { label: 'Open Pelos tra\u00E7os do mestre: Bicenten\u00E1rio de Aleijadinho \u00E9 celebrado na pr\u00F3xima ter\u00E7a-feira', url: "viewContent('1.282374')" }, { label: 'Open Comments\n ', url: "viewContent('7.645472')" }]; cm.menuContent("div7444", menuContent);})(Polopoly.ContextMenu)  

 

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