
Revolta e busca por Justiça. É assim que Maria Regina de Jesus, de 50 anos, define o sentimento que caracteriza a família do motorista de reboque Anderson Cândido de Melo nesta quarta-feira (9), dia da primeira audiência de instrução do delegado Rafael de Souza Horácio, suspeito de atirar e matar o trabalhador após um desentendimento no trânsito em Belo Horizonte.
"A gente espera por Justiça. É muita indignação porque ele era uma pessoa muito boa, muito humana e está fazendo muita falta. Eu sei que nada vai trazer meu esposo de volta, mas eu vou ver a Justiça ser feita", afirmou Maria Regina.
A mulher era esposa de Anderson e compareceu ao Fórum Lafayette, na região Centro-Sul da capital, hoje pela manhã para acompanhar o julgamento, que teve início às 9h40. De acordo com a assessoria de imprensa do Tribunal, primeiro será realizada a inquirição das testemunhas de acusação. Posteriormente, as testemunhas de defesa serão ouvidas.
Em seguida, o delegado será interrogado. Ainda conforme a assessoria, não é possível prever se todos serão ouvidos ainda nesta quarta ou será necessário marcar outras datas.
Rafael Horácio virou réu no dia 10 de agosto após a Justiça receber a denúncia oferecida pelo Ministério Público.
'Pai e esposo presente'
Na manhã desta quarta, Maria Regina caracterizou o esposo como uma pessoa 'humana', que não merecia ter sido morta 'brutalmente.
A esposa do motorista contesta a ação de uma pessoa que, segundo ela, deveria 'proteger a família'. "Eu me surpreendi muito quando soube que era um delegado. Uma pessoa que deveria estar ali para proteger a nossa família. É muita revolta, meu esposo não merecia ser morto dessa forma, ele estava trabalhando. Eu não me conformo com essa situação", contesta.
Apesar da revolta, Maria Regina afirma que perdoaria o delegado, mas antes gostaria de entender o que motivou a ação.
"Eu perdoaria ele, mas eu queria perguntar porque ele matou o meu esposo, o que levou ele a fazer isso. O que levou ele a tirar um pai de família, ele também tem família. O que ele faria se tivesse no lugar do meu esposo. É muita covardia, mas perdoaria sim", finalizou.
O caso
A briga de trânsito que resultou no crime ocorreu na Avenida do Contorno, uma das mais movimentadas da região Central de BH, no dia 26 de julho deste ano. O delegado chegou a se apresentar espontaneamente na delegacia, mas foi preso apenas quatro dias depois.
O resultado da perícia do Instituto de Criminalística da Polícia Civil comprovou que Anderson Cândido Melo não acelerou o veículo em direção a Rafael Horácio, antes de receber o tiro fatal.
O laudo divulgado contestou a versão do policial, que declarou, em depoimento, que Anderson teria "jogado" o caminhão contra ele e que teria atirado em legítima defesa.
Rafael Horácio está preso desde 30 de julho, depois de ter sido indiciado por homicídio qualificado pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil. Ele teve três pedidos de habeas corpus negados.
Segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), a decisão de manter a prisão do policial se deu porque "o crime de homicídio é causador de temeridade no seio da sociedade, não podendo o Poder Judiciário fechar os olhos a esta realidade".
*Informações de Lucas Prates