(Frederico Haikal)
Quem malha sabe: volta e meia aparecem notícias que colocam em xeque a eficácia dos suplementos de proteína usados para hipertrofiar os músculos. A última água no chope dos marombeiros chegou com o ano novo: um experimento britânico, divulgado este mês em uma espécie de reality show da BBC, que quase fez cair por terra a “lenda” do whey protein.
O teste traçou o mesmo plano de exercícios para dois grupos de 12 pessoas, um que só se alimentava, ingerindo os nutrientes necessários para o bom funcionamento do corpo, e outro que complementava a dieta com o suplemento alimentar à base da proteína do soro de leite.
Ao final de oito semanas, a surpresa: todos os participantes apresentaram os mesmos resultados, tanto com relação ao ganho de massa muscular, quanto com ao aumento de força física. Mas, calma. Quem, assim como a personal trainer Flávia Oliveira, de 31 anos, também se rendeu à suplementação alimentar para ver os resultados aparecerem, não precisa jogar no lixo os planos de ter o corpo dos sonhos.
A dica, ensinam nutricionistas e endocrinologistas, é só consumi-los sob orientação médica e, claro, quando for necessário. “Na maioria das vezes, o praticante comum de exercício físico não precisa de suplementos. Mas na hora de fazer a dieta levamos em conta uma série de variáveis que mostram se é preciso complementar a alimentação ou não. Em determinados casos, só a comida não consegue suprir as necessidades”, detalha a nutricionista esportiva Raphaella Cordeiro.
O que aconteceu com a Flávia foi exatamente isso. O ritmo acelerado de atividade física combinado à falta de tempo não permitiam que a moça comesse direito e, consequentemente, que alcançasse os objetivos. “Nunca tive resultado com relação à hipertrofia e sempre fui muito magra”, conta. Até que, há oito anos, passou a complementar a alimentação.
E ela está certa. Segundo o endocrinologista Fábio Moura, presidente da Comissão Temporária de Endocrinologia do Exercício e Esporte da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a quantidade adequada de proteína realmente faz toda a diferença. “Tanto a falta quanto o excesso podem ser prejudiciais”.
Nutrientes consumidos em excesso não geram benefícios, são eliminados, alerta especialista
Quem pensa que se empanturrar de whey protein, carboidratos em géis e outros tipos de suplementos usados para forçar os resultados desejados potencializa os efeitos, está enganado. Se a quantidade de nutrientes ingeridos estiver exagerada, ou seja, for superior à necessidade do corpo, todo o excedente será eliminado.
A princípio, segundo o endocrinologista Fábio Moura, que também é professor na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a matemática explicaria os resultados do estudo da BBC, que coloca em dúvida os benefícios do suplemento proteico, o queridinho dos “atletas de academia”.
“Existe um limite diário do que é absorvido de cada substância pelo organismo. A partir daí, o excesso, é excretado. Isso poderia explicar porque as pessoas que passaram pelo teste e que haviam consumido o suplemento não obtiveram resultados diferentes das que só se alimentaram”, explica.
O teste pode não ter considerado a quantidade necessária de proteína por pessoa e administrado doses superiores do nutriente com a suplementação.
Um filé grande
A recomendação diária é de 2,5 gramas por quilo de peso corporal. Isso quer dizer que uma pessoa que tem 70 kg, por exemplo, não precisaria consumindo mais do que 175 gramas de proteína num mesmo dia ou um filé de carne grande. A quantidade absorvida por vez, no entanto, é bem menor: apenas 30 gramas.
Se para muita gente o fato de ingerir a mais pode não significar nada, quem tem predisposição genética ou doenças hepáticas e renais deve redobrar o cuidado. O excesso pode sobrecarregar o sistema excretor, que será obrigado a trabalhar dobrado.
Substâncias vendidas no Brasil devem obedecer critérios determinados pela Anvisa
As regras para a comercialização dos suplementos alimentares no Brasil obedecem regras estabelecidas pela a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Apesar de estarem isentas de registro, as substâncias precisam seguir um regulamento técnico de 2010, que estabelece critérios de classificação, indicação, composição e rotulagem.
Os suplementos são dividos em seis categorias: hidroeletrolíticos (iso-tônicos, que hidratam as células), energéticos, suplementos de proteínas, produtos para substituição parcial de refeições (shakes ou pós capazes de suprir eventuais necessidades de proteínas, carboidratos e gorduras), complementos de creatina e bebidas com cafeína (estimulantes).
Além disso, existem ainda os suplementos vitamínicos ou minerais, indicados para suprir demandas de nutrientes essenciais, como ferro, cálcio e zinco. Os produtos só exigem registro se os nutrientes ultrapassarem 100% da ingestão diária recomendada. Nesse caso, são considerados medicamentos e precisam de autorização para serem vendidos.
No ano passado, pelo menos 20 lotes do suplemento whey protein foram recolhidos pela Vigilância Sanitária devido a irregularidades nas quantidades de carboidrato e proteína declaradas nos rótulos dos produtos. De acordo com a Anvisa, a legislação tolera diferença de 20% entre as informações nutricionais presentes na embalagem e a composição real.