meio ambiente

Pesquisadores alertam para desaparecimento de espécies de peixes no rio São Francisco

Raíssa Oliveira
raoliveira@hojeemdia.com.br
Publicado em 18/06/2022 às 07:00.
Peixe do tipo matrinxã está entre espécies ameaçadas de extinção. (Daniel Alves)

Peixe do tipo matrinxã está entre espécies ameaçadas de extinção. (Daniel Alves)

Biólogos do Aquário do Rio São Francisco, do Zoológico de Belo Horizonte, alertam para o risco de extinção de espécies de peixes de água doce que ainda podem ser encontradas na bacia. Poluição e perda do habitat por ações humanas - principalmente pelas construções próximas às áreas ribeirinhas, inclusive barragens hidrelétricas - são os maiores desafios.

De acordo com o biólogo Gladstone Corrêa de Araújo, o problema foi identificado durante trabalhos de coleta de espécies para fortalecimento genético. Dificuldades têm sido enfrentadas para apanhar os animais.

"Fazemos coletas com autorização para melhorar a genética. Com isso, já observamos mudanças na quantidade dos animais. Hidrelétricas são problemas para espécies que fazem a piracema", alerta o especialista.

O biólogo explica que represas, construídas no leito do rio, bloqueiam a movimentação dos peixes que se reproduzem nas correntezas. Com o fim da piracema, como os peixes não conseguem mais subir o rio para se reproduzir, há um declínio intenso no número de cardumes e variedade das espécies. Dentre as mais afetadas estão as chamadas migradoras, como curimatá-pacu, curimatá-pioa, dourado, matrinxã, piau-verdadeiro, pirá e surubim.

bacia hidrográfica do rio São Francisco possui uma rica diversidade em sua fauna e flora. (Daniel Alves)

bacia hidrográfica do rio São Francisco possui uma rica diversidade em sua fauna e flora. (Daniel Alves)

Outra ameaça é a poluição dos rios. Gladstone Corrêa conta que no rio Paraopeba - afluente do rio São Francisco, atingido pela lama de rejeitos da barragem da Vale, em 2019, na Grande BH -, o trabalho para encontrar espécies antes identificadas com frequência é ainda maior.

"No Paraopeba, por exemplo, onde tivemos o rompimento da barragem, percebemos na última visita que o número de peixes diminuiu muito. Ainda não há um cálculo exato", afirma o biólogo.

A bacia hidrográfica do rio São Francisco possui uma rica diversidade de fauna e flora, com pelo menos 152 espécies nativas identificadas. Desse total, 54 estão preservadas no aquário administrado pela Fundação Zoo-Botânica de BH. Na lista, algumas já ameaçadas de extinção, como pirá-tamanduá, pacman e matrinxã.

Para ajudar a conscientizar a população sobre o risco do desaparecimento dessas espécies, o Aquário do Rio São Francisco realiza, diariamente, com os visitantes, intervenções educativas.

"Queremos, através da exposição desses animais, mostrar para as pessoas a beleza da fauna e da flora existente no São Francisco. Os visitantes se encantam com a diversidade e saem daqui com o alerta de que tudo isso pode ser extinto, caso não busquemos meios de conservação", ressalta Gladstone.

O Aquário da Bacia do Rio São Francisco faz parte do zoológico de BH e recebe visitantes de terça a domingo. Ele fica localizado na avenida Otacílio Negrão de Lima, 8.000, Portaria I. A tabela com horários e preços dos ingressos pode ser acessada no site da PBH.

Por meio de nota, a Vale informou que  levar rio Paraopeba aos "parâmetros anteriores ao rompimento, é uma das prioridades da empresa". A mineradora disse ainda que novos investimentos ainda serão feitos para recuperação do curso d'água. 

A Secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco foram procurados, mas não houve retorno.

Leia a nota da Vale na íntegra:

"A recuperação do rio Paraopeba e da qualidade de sua água, chegando nos parâmetros anteriores ao rompimento, é uma das prioridades da empresa. As ações de recuperação do rio fazem parte do Plano de Reparação da Bacia do Paraopeba iniciado em 2019, em conjunto com a implantação de uma série de medidas emergenciais para evitar que os rejeitos continuassem sendo carreados para o rio Paraopeba.

O Acordo de Reparação Integral prevê que este Plano seja custeado pela Vale, sendo acompanhado e validado pelos órgãos competentes e auditorias ambientais até sua conclusão, de forma a garantir a reparação ambiental nos termos do que foi previsto pelo Acordo. Essas ações têm valor estimado de R$ 5 bilhões, sendo adotadas as ações necessárias e competentes para recuperação do meio ambiente afetado pelo rompimento.

Além da recuperação ambiental, a Vale é responsável pelo pagamento e realização de ações de compensação ambiental que possuem o orçamento total de R$ 1,55 bilhão."

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