População e governo ainda aquém das metas e medidas para conter falta d’água

Ricardo Rodrigues e Renato Fonseca - Hoje em Dia
27/05/2015 às 06:22.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:13
 (Wesley Rodrigues)

(Wesley Rodrigues)

Quatro meses após a explosão da crise hídrica, a principal medida emergencial para aliviar o sistema de abastecimento de Belo Horizonte e região metropolitana sequer foi iniciada e só deve ficar pronta em 2016. Anunciada em janeiro, a transposição do rio Paraopeba para o rio Manso – hoje responsável por 30% do fornecimento de água da Grande BH – deve começar “ainda neste mês”, segundo a Copasa, a um custo de R$ 693 milhões.

Enquanto a intervenção não sai do papel, os esforços estão concentrados na Força Tarefa para combater captações ilegais e na adesão da população. A economia gerada pelos mineiros, porém, segue tímida.

Até agora, só metade da redução de 30% no consumo, estipulada pela Copasa para evitar a crise, foi alcançada. Não bastasse o índice inferior à meta, flagrantes de desperdício ainda são comuns na capital mineira. Carros e calçadas são lavados com água de mangueira e minas dos subsolos escorrem direto para o esgoto.

Vale lembrar que se a meta mínima de economia de água não chegar ao patamar exigido pelo governo do Estado, o racionamento e a sobretaxa nas contas da população vão fazer parte do cotidiano da população de Belo Horizonte e municípios vizinhos durante a estiagem que começa em junho.

Cultura

A mudança de comportamento, no entanto, não é fácil, reforça o doutor em engenharia ambiental Marcos Sperling. Segundo ele, que também é professor da UFMG, essa é uma tarefa de médio e longo prazos. “Infelizmente, a falta de conscientização com uso devido da água é uma questão cultural antiga, mas que já começa a mudar”, considera.

Mesma opinião tem o especialista em hidrologia Bruno Versiani. “O desperdício está enraizado”. Ele, porém, destaca que as medidas tomadas até o momento para forçar a conscientização não foram “agressivas” como o momento exige.

Também professor da UFMG, Versiani destaca que a cobrança de taxas tende a ocorrer já que o consumo ainda está alto.

Reservatórios

O nível dos reservatórios que abastecem a região metropolitana da capital continuam baixos em relação aos anos anteriores (ver infografia). A Copasa ainda não confirmou quando adotará ações de redução de consumo, mas informou que “o comportamento do consumo de água no período seco irá determinar a adoção de medidas como racionamento ou tarifa de contingência”.

A empresa disse ainda que vai intensificar a campanha educativa e de mobilização social para alcançar a meta de 30% de redução voluntária no consumo.

Sobre fiscalização, a estatal disse que percorreu 44 empreendimentos e usuários de água nas regiões do rio Manso e Serra Azul e nos municípios de Barbacena e Curvelo. Foram encontradas 40 irregularidades. A meta é fiscalizar cerca de 180 empreendimentos.

DESLEIXO – Apesar de campanhas e avisos, muita gente ainda não se conscientizou para o risco da falta d’água (Foto: Eugênio Moraes/Hoje em Dia)


ARTE

Programa referendado pela ONU será apresentado a prefeitos

O governo do Estado e Itaipu apresentam nesta quinta-feira (28) para prefeitos da região metropolitana de Belo Horizonte o projeto Cultivando Água Boa (CAB). A iniciativa visa a proteção de mananciais e da biodiversidade em microbacias que abastecem grandes rios.

O programa foi reconhecido pela ONU como a melhor política de gestão de recursos hídricos do planeta. Agora ela está prestes a ser instalada na bacia do Rio Paraopeba, responsável por boa parte da água que abastece 5 milhões de pessoas na RMBH, que enfrenta graves riscos de racionamento.

Início

Em Minas Gerais, o CAB começou a ser aplicado na bacia do rio Grande, que deságua no Paraná, onde fica a maior hidrelétrica do mundo, Itaipu. Prefeituras e comunidades da bacia do Grande, no Sudoeste e Alto Paranaíba, foram as primeiras a aderirem ao programa, de acordo com o diretor de Operação Sudoeste da Copasa, João Bosco Senra.

“O intercâmbio com Itaipu prevê estudos e ações para a boa gestão das águas, a começar pelas bacias dos rios Paranaíba, Sapucaí e Verde (afluentes do Grande). Na Grande BH, Igarapé será a primeira a aderir ao programa”, disse.

Na reunião com o diretor de Itaipu, Nelton Friederich, serão apresentados os detalhes do programa, que será incluído no Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG) do Estado.

Antes disso, porém, as experiências começam a tomar forma. Comitês gestores estão sendo formados nas regiões Sul e Alto Paranaíba.

Sem chuvas significativas pelos próximos três meses

Se depender da meteorologia, a situação dos reservatórios da região metropolitana de Belo Horizonte deve piorar nos próximos três meses. Não há previsão de chuvas significativas sobre Minas Gerais para esse período.

Nesta época do ano, de acordo com as médias históricas, os índices pluviométricos são baixos em todo o Estado. Pode chover no Sul, Zona da Mata e parte do Leste mineiro, mas serão precipitações de menor volume.

Chuva

Algumas dessas chuvas raras devem ocorrer nos próximos dias. Segundo o Meteorologista do TempoClima, Heriberto dos Anjos Amaro, o tempo continua estável nesta quarta (27), com poucas nuvens em Minas.

Mas a partir da tarde dessa quinta-feira, uma nova frente fria que avança pelo litoral da região Sudeste do país provocará aumento das nuvens na maior parte do Estado, ampliando as chances de chuvas até o fim de semana na Grande BH. Também haverá aumento nos índices de umidade relativa do ar, principalmente, no Centro-Sul e no Oeste do Estado.

Porém, após esse período, o ar volta a ficar seco e as temperaturas ficam em declínio, especialmente as mínimas. Esse ambiente favorece a queda dos índices de umidade relativa do ar no período de maior aquecimento (à tarde). Tal situação também favorece a proliferação de queimadas no Estado, afirma o meteorologista.

Segundo a Copasa, o programa CaçaGotas diminuiu em 39% o tempo para correção de vazamentos na rede de água da capital, entre os meses de fevereiro e março, mas a empresa não informou qual foi a redução da perda
 Apenas as regiões Sul, Leste e Zona da Mata devem ter chuva até o mês de agosto




 

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