População será alertada sobre o risco do uso de antibióticos por conta própria

Mariana Durães
mduraes@hojeemdia.com.br
19/11/2018 às 20:51.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:54
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

O uso indiscriminado de antibióticos está na mira da Secretaria de Saúde de Belo Horizonte (SMSA). Dados do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ) apontam que oito a cada dez brasileiros admitem se automedicar. Para conscientizar as pessoas sobre o risco desse hábito, a Vigilância Sanitária intensificou a fiscalização em drogarias e farmácias de manipulação da capital.

Durante as ações, que devem durar até dezembro, agentes visitarão os estabelecimentos para alertar a população sobre os perigos de ingerir esses medicamentos por conta própria. Além disso, irão verificar as condições de armazenamento das substâncias. 

79% dos brasileiros se automedicam, conforme dados do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ)

De acordo com Andrea Belloni, gerente de Produtos de Interesse da Saúde, da Vigilância Sanitária, os farmacêuticos também irão responder a um questionário. “Dentre os objetivos está entendermos, por exemplo, como chegam os receituários e se eles estão prescritos de maneira certa”.

Dosagem incorreta, falta de data ou dia errado e prescrição conjunta a outro medicamento, prática proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), são dificuldades reportadas durante a venda.

“O antimicrobiano não pode ser indicado com outro remédio de controle especial, mas isso acontece muito, principalmente nos receituários pós-cirúrgicos. Por exemplo, se na mesma receita vem a indicação de amoxicilina (antibiótico) e tylex, que é para dor, só podemos dispensar o último e o paciente tem que voltar ao médico”, explica Letícia Souza, supervisora farmacêutica de uma rede de drogaria da metrópole.

Além de colocar a vida do paciente em risco, a dosagem incorreta, aumenta custos e tempo de tratamento, podendo levar a pessoa à internação.de saúde sobre a prescrição correta dos antibióticos

Resistência

A preocupação com o uso inadequado de antibióticos tem causado maior resistência das bactérias no organismo. O problema é provocado tanto por conta de doses em excesso quanto insuficientes.

Andrea Belloni ressalta que, geralmente, um paciente para de tomar o remédio ao melhorar, uns três dias após iniciado o tratamento. “Isso é tão errado quanto achar que já se conhece a doença e pode repetir aquele usado anteriormente. Mas nem sempre a bactéria é a mesma, e o que serviu para um parente também não é garantido que será bom para você”, alerta.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil está entre os países com maiores índices de doses de antibióticos do mundo, superando Europa, Canadá e Japão. A principal preocupação é que o consumo favoreça o surgimento de bactérias multirresistentes causadoras de infecções difíceis de curar.

Nesse sentido, a Associação Panamericana de Infectologia lançou uma campanha nas redes sociais para conscientizar pacientes sobre a utilização correta de medicamentos. Também visando reduzir o consumo inadequado, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) divulgou manual com orientações práticas para autoridades, gestores e profissionais de saúde.

no banheiro são comuns em muitas residências

Abusos potencializados

Tão comum em muitas casas brasileiras, a famosa “farmacinha” reúne remédios para febre, dor, gripe e até “restos” de substâncias controladas. Ao primeiro sinal de um resfriado, por exemplo, é comum o doente recorrer à caixinha guardada no armário ou no banheiro da residência.

“Imediatismo e acesso à internet levam a esse comportamento. A pessoa faz uma busca dos sintomas e fecha o próprio diagnóstico on-line, sem procurar um profissional capacitado”, diz Raphael Espósito, farmacêutico do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ).

A estudante Laura de Oliveira, de 24 anos, diz fazer uso do estoque de medicamentos que tem em casa para os casos mais leves, como dores de cabeça e muscular. No entanto, ela também admite que, em algumas situações, já tratou outras doenças sem orientação médica.

“Tenho guardado alguns remédios que sobraram de tratamentos anteriores. Então, quando identifico que é garganta inflamada ou sinusite, tomo. Já aconteceu de não fazer efeito e fui ao médico, mas, graças a Deus, nunca deu qualquer tipo de complicação”, afirma.

A prática, no entanto, pode mascarar patologias mais graves, alerta Raphael Espósito. Segundo ele, como a dor ou a febre melhoram ao ingerir os fármacos, o paciente se tranquiliza. Por outro lado, o problema pode piorar.

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