Prefeituras mineiras negociam compra da vacina contra a Covid-19 por conta própria

Renata Galdino
rgaldino@hojeemdia.com.br
10/12/2020 às 07:11.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:16
 (Fernando Zhiminaicela/ Pixabay)

(Fernando Zhiminaicela/ Pixabay)

Cidades mineiras deram início às negociações para a compra de vacinas contra a Covid-19. Belo Horizonte e Uberlândia, no Triângulo, estão de olho na chinesa Coronavac, desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo. As prefeituras também miram, respectivamente, a da Pfizer, que desde terça-feira é aplicada em massa no Reino Unido, e a russa Sputnik.

A medida é uma tentativa de encurtar o tempo para que a proteção chegue à população. Porém, ainda não é possível cravar uma data para a aprovação de qualquer imunizante em teste e quando, de fato, as pessoas começarão a receber as doses.Fernando Zhiminaicela/ Pixabay

Pelo menos três vacinas estão prestes a terem resultados dos testes publicados e, possivelmente, serem licenciadas para aplicação no Brasil

Para isso, é preciso analisar os dados coletados durante as pesquisas e os resultados da fase 3 (testes em humanos), além de eventuais requisições de mais estudos que podem ser solicitadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), destaca o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri. “Montar um esquema de vacinação sem saber que vacina será usada é muito temerário”, complementa.

Ontem, em entrevista à CNN Brasil, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que a imunização pode começar ainda em dezembro, caso a Pfizer antecipe a entrega das doses. Mas o diretor da SBim frisa que esse imunizante representa um desafio, uma vez que precisa de refrigeração abaixo de 70 graus.

“É um problema mundial. Por aqui, os estados vão precisar fazer adaptações. O próprio fabricante está buscando alternativas. Ainda sim tem uma logística bem complicada e o preço da dose é cinco vezes mais caro que a de Oxford”, diz o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri

Na capital mineira, a PBH anunciou, ontem, ter feito acordo com a UFMG para a disponibilização de três freezers para a conservação das doses da Pfizer, caso seja necessário, além da Coronavac, adquirir essa proteção para complementar a oferta à população. Em 25 de novembro, o prefeito Alexandre Kalil disse ter dinheiro em caixa para comprar doses para todos os moradores da metrópole. Cerca de 2 milhões de seringas já foram estocadas.

Em Uberlândia, ontem, o chefe do Executivo, Odelmo Leão, anunciou ter solicitado, ao Instituto Butantan, 400 mil doses da Coronavac para imunizar 200 mil pessoas, já que são duas etapas de vacinação. Há conversas, também, com a União Química Farmacêutica Nacional, que se associou ao Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF) para produção da Sputnik V.

Procurada pela reportagem, a PBH não detalhou a negociação com o Butantan. Disse, apenas, que mais informações serão repassadas oportunamente

“Não se pode meter os pés pelas mãos. Não se pode comprar, de qualquer jeito, qualquer quantidade de vacina de qualquer fabricante a qualquer preço, sem ter garantia de sustentabilidade no programa de vacinação. Comprar 10 milhões de doses e, depois, não ter como dar continuidade à uma segunda dose”, observou o diretor da SBIm.

Pressão

A aprovação de uma vacina contra o novo coronavírus por órgão regulador de outro país dá à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o prazo de 72 horas para se posicionar em relação ao Brasil. Depois desse tempo, se não houver manifestação, o imunizante é automaticamente autorizado por aqui.

É o que afirma o advogado Fabrício Souza Duarte, mestre em Direito Público. Segundo ele, a regulamentação está prevista na lei 13.979/20, que estabeleceu a possibilidade de se abreviar a análise da entidade se ela já tiver sido feita por reguladoras estrangeiras.

“Seria como um aproveitamento do que já foi feito pelas agências do exterior. Se, por exemplo, a FDA (que é a agência americana) aprovou, o medicamento já estaria pré-aprovado para utilização no Brasil. Nesse caso, caberia à Anvisa dizer as razões pelas quais discorda da FDA ou porque não seria cabível a utilização aqui no país”, explicou.

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