O presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, foi interrogado ontem, pela primeira vez, na Polícia Federal. O depoimento do executivo foi tomado sob “blindagem” montada na sede da PF em Belo Horizonte, no bairro Gutierrez. Diferentemente de outros interrogados, Vescovi entrou pelos fundos da delegacia.
Acompanhado de motorista e advogado, chegou em um Chevrolet Cruze com os vidros escuros, passou pela cancela de segurança, que estava arriada, e acessou a sede da superintendência pelo estacionamento.
Um segundo veículo, Ford Fusion, completava a comitiva do CEO da Samarco. Esse carro já estava estacionado dentro da delegacia antes mesmo do início do interrogatório.
Estranhamento
Considerado incomum, o procedimento chamou atenção dos servidores da polícia, já que esse tipo de tratamento é dispensado apenas a testemunhas, e não a investigados.
Em nota, a assessoria de imprensa da corporação alegou “motivos de segurança” para permitir a entrada dos veículos da mineradora. Curiosamente, não havia nenhum tipo de movimentação do lado de fora da superintendência.
Foi a primeira vez que Vescovi falou na PF. O interrogatório dele durou cerca de duas horas.
Assim como os outros funcionários da mineradora que já prestaram esclarecimentos, o executivo foi ouvido em termos de declarações, portanto, ainda não foi indiciado por nenhum crime.
Aos federais, ele repetiu praticamente a versão dada em depoimentos anteriores à Polícia Civil e ao Ministério Público Federal (MPF).<ET>Na semana passada, a Justiça Federal em Ponte Nova concedeu mais 60 dias de prazo para PF concluir a investigação.
Na saída, Vescovi foi abordado com insistência pela reportagem, mas não quis conceder entrevista. Procurado, o setor de imprensa da mineradora informou apenas que Vescovi compareceu à delegacia para prestar esclarecimentos.
Inquérito
A Samarco e os executivos da empresa estão sendo investigados pela responsabilidade sobre o maior desastre ambiental da história do país, ocasionado no início do mês passado quando a barragem de rejeitos da mineradora se rompeu e destruiu Bento Rodrigues, em Mariana.
O mar de lama, que deixou 17 pessoas mortas e centenas de desabrigadas, além de duas desaparecidas, invadiu também o rio Doce e seus afluentes.
No fim de novembro, Vescovi ganhou um habeas corpus preventivo para evitar a prisão dele durante as investigações das causas do rompimento da barragem da Samarco.