Especialistas veem fim da era dos bicheiros

AGÊNCIA ESTADO
06/02/2016 às 20:51.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:20

Associado ao Carnaval desde os anos 1970, o jogo do bicho ainda desfila. Das 12 escolas do Grupo Especial, 5 estão sob sua ingerência. Em duas, Beija-Flor e Imperatriz, eles são os presidentes: o da primeira é Farid Abraão David; o da segunda, Luiz Pacheco Drummond, o Luizinho Drummond. Na
Mocidade, Rogério Andrade é o presidente de honra, assim como Jayder Soares é o da Grande Rio. Na Vila Isabel, a influência é de Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães.

Eles ainda mantêm o discurso de que são os "patronos": sem o financiamento e a influência deles o Carnaval não teria o brilho que alcançou. Mas essa tese é refutada por pesquisadores do tema "Escolas sem bicheiro e sem patrocínio também fazem bons desfiles. Em 2004, Paulo Barros estreou na Unidos da Tijuca (escola presidida por um comerciante) com um enredo autoral e foi vice-campeão", disse o jornalista Aloy Jupiara, um dos pesquisadores da relação dos bicheiros com o regime militar. "Quando o bicheiro fala que foi a contravenção que viabilizou e profissionalizou o Carnaval, ele diminui os sambistas, que foram os grandes inventores dos desfiles."

Liga

Em 1984, porém, ano em que foi inaugurado o Sambódromo, os "patronos" foram responsáveis pela fundação da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), alegando a necessidade de organizar o Carnaval - oficialmente, a Liesa "nasceu da insatisfação dos dirigentes das dez maiores escolas de samba"
com a "forma desinteressada e amadorística como eram tratados os desfiles das escolas de samba". "O discurso é autoelogioso. Se a Liesa funciona tão bem, por que houve a necessidade de as escolas recorrerem a patrocínios?", questiona a pesquisadora Rachel Valença.

O primeiro presidente foi o lendário bicheiro Castor de Andrade (Mocidade) e outros se revezaram no cargo: Anísio, Capitão Guimarães e Luizinho Drummond. Em 1993, o grupo sofreu um duro golpe, com a condenação de oito dirigentes de escolas: Anísio, Castor, Paulo de Andrade (o Paulinho, filho de Castor), Carlos Martins (o Carlinhos Maracanã, então patrono da Portela), Waldemiro Garcia (o Miro do Salgueiro), Waldemiro Paes (o Maninho, filho de Miro) - os dois já mortos -, Luizinho Drummond e Capitão Guimarães.

Em 2007, a Operação Furacão miraria de novo em Anísio e no Capitão Guimarães, condenados pelos crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Mesmo com problemas na Justiça, o bicho não largou o samba. Mas os especialistas defendem a transição. "Os ‘patronos’ estão velhos, decadentes, passando o bastão", avalia o pesquisador Felipe Ferreira, da Universidade do Estado do Rio.

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