EM RISCO

Professores podem entrar em 'colapso' com piora da saúde em meio a onda de ataques nas escolas

Raíssa Oliveira
raoliveira@hojeemdia.com.br
17/04/2023 às 08:02.
Atualizado em 17/04/2023 às 08:06
Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (3) e marcam o encerramento da campanha digital pela valorização dos educadores e professores do Brasil (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (3) e marcam o encerramento da campanha digital pela valorização dos educadores e professores do Brasil (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Salas lotadas, excesso de trabalho, cansaço, baixa remuneração, pandemia e agora o pânico. Além dos problemas já conhecidos, a onda de ataques e ameaças de massacres nas escolas piora a saúde mental dos professores, que podem entrar em “colapso”. É o que apontam especialistas e representantes da classe, que também estão preocupados com os alunos. 

O número de educadores que relatam estar com medo aumentou nos últimos dias, garante o Sindicato dos Professores do Estado de Minas (Sinpro-MG), sem apresentar dados oficiais. Além da preocupação com a própria vida e a dos estudantes, há o temor de serem responsabilizados caso ocorram tragédias.

“Os professores têm sofrido muito com essa onda de terrorismo e violência que tem tomado conta através das fake news nas redes sociais. Muitos têm sido acometidos ainda por medo de serem responsabilizados, caso aconteça alguma coisa”, disse a presidente do Sinpro-MG, Valéria Morato.

Situação parecida é relatada pela coordenadora geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE), Denise Romano. Segundo ela, não há dúvidas de que os afastamentos de profissionais vão crescer. “O adoecimento mental e emocional da nossa categoria é fato. Ele acontece não só por essa onda atual, mas por uma série de outras violências às quais são submetidos”. 

O adoecimento foi revelado também em pesquisa da Nova Escola e do Instituto Ame Sua Mente em 2022. Foi mostrado que 21,5% dos educadores brasileiros consideram a saúde mental ruim ou muito ruim. A percepção deles piorou em relação a 2021, quando era 13,7%. 

Entre as principais reclamações, o aumento da ansiedade (60,1%), baixo rendimento e cansaço excessivo (48,1%) e problemas com o sono (41,1%).

O sociólogo Rudá Ricci, pesquisador dos temas educação e cidadania, acrescenta que grande parte dos profissionais também relata síndrome de Burnout – distúrbio emocional resultante de situações de trabalho desgastante. O especialista avalia ainda que o cenário deve se agravar, chegando a um “colapso”. 

“Ansiedade, angústia, queda de energia, sentimento de que não está sendo útil e vontade de não ir trabalhar. Se temos esse cenário agravado na pandemia e agora soma essa questão da ameaça de violência, os professores entram em colapso”, alerta.

Para o pesquisador, a resposta para o momento de “pânico” deve vir com presença massiva de psicólogos nas escolas. Ricci afirma ainda que o investimento na segurança deve ser apenas medida paliativa. “Não tem segredo, nós temos em todas as redes de saúde do país programas de saúde mental, então é direcionar para o professor. Tem saída, mas tem que ter investimento político. O policiamento nas escolas não vai acabar com a causa. Temos que ter, sim, ronda para trazer um pouco de segurança, mas isso resolve? Não. Temos que enfrentar a causa”, explica. 

Para o sociólogo, um dos motivos da onda de ataques está na cultura da violência instalada no país. “Os alunos estão achando que viram celebridades sendo violentos. Estamos perdendo a batalha de formação das crianças e adolescentes porque só falamos de nota e não percebemos o que está acontecendo com o psicológico deles. Precisamos voltar a falar da cultura da paz, mostrando que a violência acaba com a vida deles”. 

Estado e PBH garantem oferecer rede de apoio
Dados da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) mostram que, com o retorno de forma integral dos professores às salas de aula em 2022 – após teletrabalho imposto pela pandemia – houve aumento no número de servidores afastados. O levantamento mostra que a média anual chegou a 605 por mês no ano passado. Em janeiro e fevereiro deste ano foram 315 educadores nessa condição.

A PBH informou que mantém diálogo constante com as entidades representativas da categoria. No âmbito da saúde, informou que dispõe de um núcleo permanente. Os trabalhos são feitos quando identificado um adoecimento físico ou mental. O município também realiza ações de promoção à saúde e de prevenção de agravos. 

Também por nota, a Secretaria de Estado de Educação (SEE/MG) afirmou estar ciente dos recentes casos de violência e que tem se empenhado para prevenir e enfrentar as situações, por meio de ações educativas, mapeamento e ações policiais.

A SEE informou que, até o momento, não foram detectadas quaisquer anormalidades nas escolas, e pede aos servidores, estudantes, pais ou responsáveis e à comunidade escolar que mantenham a tranquilidade. 

Sobre o apoio à saúde dos educadores, a pasta disse que disponibiliza em todos os colégios os Núcleos de Acolhimento Educacional (NAEs), formados por psicólogos e assistentes sociais.

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