Falta Investigação

Quadrilhas faturam com roubo de combustíveis na Grande BH

Vanda Sampaio
vsampaio@hojeemdia.com.br
09/02/2022 às 20:44.
Atualizado em 10/02/2022 às 12:20
 (Reprodução/ Google)

(Reprodução/ Google)

“Tive um prejuízo de R$ 150 mil”. O desabafo é de Luiz Prosdocimi, diretor de uma transportadora em São Sebastião do Paraíso, no Sul de Minas, que teve  22 mil litros de combustíveis roubados neste mês, logo depois do caminhão-tanque ter sido carregado na região da Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim, na região metropolitana. 

Ele conta que os bandidos abandonaram o caminhão vazio e sem os equipamentos usados para descarregar o combustível nos postos. “Levaram até os estepes”, lamenta Prosdocimi. 

O empresário, que também administra uma frota de caminhões de uma rede de postos de combustíveis, desconfia que a carga foi vendida para postos de combustível na capital ou Grande BH.

 “Se o combustível é roubado, é porque tem quem compre. Acredito que donos de postos encomendam o produto para quadrilhas especializadas. Pagam mais barato do que o preço de mercado e o produto ainda é descarregado pelo próprio caminhão que foi furtado", diz Prosdocimi. 

O motorista de um caminhão-tanque que não quer ser identificado disse que teve 20 mil litros de gasolina, diesel e etanol roubados na última sexta-feira, pouco depois de carregar o veículo próximo à Regap, em Betim.

O profissional que trabalha como autônomo explica que presta serviço para uma transportadora e calcula um prejuízo de R$ 112 mil para a empresa. Ele conta que seguia para São Roque de Minas, no Sudoeste de Minas, quando o caminhão foi fechado por um carro preto. 

Um bandido armado tomou a direção e mandou que ele entrasse no veículo dos bandidos. “Fui ameaçado, encapuzado e colocado no banco traseiro. Rodaram comigo por mais de três horas”, relembra o motorista. 

Segundo o caminhoneiro, foram momentos de terror até ser liberado próximo ao Distrito Industrial de Betim. “Os bandidos disseram que o caminhão estava perto de onde me soltaram e que era para dirigir até  Divinópolis, onde deveria procurar a polícia. Falaram aindaique estariam seguindo o caminhão e que poderiam me matar se não cumprisse a ordem. Rodei por quase 80 quilômetros”, afirma. 

 (Agência Petrobras/Divulgação)

(Agência Petrobras/Divulgação)

Falta investigação

O problema também é alvo de reclamações por parte das transportadoras de combustíveis. Um empresário que pediu para não ser identificado se queixa da falta de ação mais efetiva por parte da polícia, que não consegue prender os integrantes da quadrilha. Além do prejuízo, gera uma sensação de impunidade.

Ele conta que a empresa teve um veículo furtado há quatro meses por criminosos armados. “Levaram 30 mil litros de combustível e depois abandonaram a carreta. Tivemos um prejuízo de R$ 150 mil”. 

O  empresário diz ainda que só nos últimos quatro meses ouviu o relato de seis roubos de combustível de donos de outras transportadoras. “Já pedimos ajuda à Superintendência da Polícia Civil e aos delegados das regionais, sem sucesso”. 

Para ele, o aumento de roubos está relacionado com o aumento do preço dos combustíveis. “Uma carreta com combustível, é dinheiro vivo. Se uma carga de R$ 200 mil é vendida pela quadrilha por R$ 100 mil, o receptador tem um lucro de 100% com a venda do produto”, calcula o dono da transportadora. 

Rotina de furtos 

O presidente do Minaspetro, Carlos Eduardo Guimarães, explica que o roubo de combustíveis não é novidade, mas que o crime tem crescido muito no último ano. "Não passa quatro ou cinco dias sem que um caminhão tenha a carga roubada”, relata Carlos Eduardo. O Minaspetro representa 4.500 postos de Minas Gerais, sendo 450 postos na RMBH. 

Ele explica que a maioria dos roubos acontece em um raio de dez quilômetros da Refinaria em Betim. Os crimes já foram denunciados para a polícia, sem que ninguém fosse preso. “Os casos acontecem sempre nos mesmos lugares entre a avenida Amazonas e o Anel Rodoviário. É impressionante que a polícia não consiga prender ninguém’, reclama o presidente do Minaspetro. 

Poucos registros 

O delegado Henrique José de Freitas Marques, da delegacia Especializada de Investigação de furto e roubo de carga, informou que não há nenhuma investigação ou operação policial relacionada com furto de combustíveis próximo à Refinaria Gabriel Passos. “Não percebemos o aumento desse tipo de crime nos últimos meses”, explica o delegado. 

Henrique Marques acredita que, muitas vezes, os roubos são registrados em delegacias de outras cidades ou em distritos policiais. “O caso acaba não sendo encaminhado para a Delegacia Especializada”, explica. 

Segundo a Secretaria de Defesa Social, foram registrados apenas três ocorrências de furto e roubo de carga de derivados de petróleo em Minas Gerais, todos na região metropolitana. 

O presidente do Minaspetro acredita que a polícia também deveria investigar quem são os receptadores desse combustível. "Se tem quem compra produto roubado,vai ter sempre alguém cometendo crime”, conclui. 

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