"Queremos 10% do PIB na educação", diz professor da Puc Minas

Izabela Ventura - Hoje em Dia
10/04/2014 às 07:22.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:02
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

O Brasil tem um déficit de 300 mil professores. Valorizar esses profissionais e tornar a escola mais atraente aos estudantes é desafio para os governos. Essas e outras questões que norteiam a educação no país foram debatidas, na última quarta-feira (9), em entrevista no programa Central 98, da rádio 98 FM. O sabatinado foi o professor Carlos Roberto Jamil Cury, professor da PUC Minas e emérito da UFMG. Ele é especialista em políticas públicas em educação.

Primeiramente, defina educação. Esse conceito não está restrito à escola, não é mesmo?
Há uma distinção entre educação como instrução e socialização. A primeira é o ensino das disciplinas de base, como português, matemática, ciências. O lado da socialização é o aprendizado, em primeiro lugar, das “regras do jogo”, que contêm tópicos como o respeito ao outro, a tolerância, o acolhimento...

O que está acontecendo com as escolas atualmente? Vemos notícias de alunos agredindo professores, ameaçando-os.
A primeira causa está na própria escola. Será que ela está correspondendo a determinadas expectativas dos estudantes? Por outro lado, a quem esses jovens vão reivindicar certas demandas? Então, acabam atingindo exatamente o ponto mais fraco, que é aquele que quer justamente fazê-los cidadãos. Isso traz uma responsabilidade grande não só para escola, mas para os governantes.

As escolas hoje formam os alunos para ler e fazer contas, mas o senhor avalia que o ensino de itens como visão política, arte e cultura, ainda é frágil?
Deveríamos discutir a questão do currículo escolar, que até prevê itens como educação artística e elementos de vida cultural, mas isso ainda deve ser, segundo orientação do Ministério da Educação (MEC) e das secretarias, embutido em todas as disciplinas. Por outro lado, temos o fenômeno das avaliações. Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), etc, acabam pressionando os professores.

O Enem pode realmente avaliar se o aluno está preparado para entrar na universidade?
A proposta inicial do Enem era avaliar a capacidade de entendimento do aluno. Ao longo dos anos, o Enem manteve esse conceito, mas pôde ser um substituto do supletivo e, depois, do vestibular. Mas ainda há candidatos que dispõem de mais estrutura cultural e familiar para se preparar, fazendo com que a avaliação do Enem se torne semelhante à do antigo vestibular da UFMG.

O que pode efetivamente melhorar a educação no Brasil?
Primeiro, salários e carreira mais atrativa aos professores. Isso ajudaria a suprir o déficit atual de 300 mil professores no pais. Segundo, a formação inicial desses profissionais, que não é qualificada. Em terceiro, vem a formação continuada, pois o professor precisa de manutenção criativa. Em quarto lugar, as aulas deveriam ter carga horária de sete horas por dia, enquanto hoje são quatro horas.

Mas a escola também precisa ser atraente aos alunos. Como atingir esse objetivo, principalmente no ensino médio, em que o índice de evasão é maior?
Os jovens querem uma articulação entre um ensino médio geral, com as disciplinas clássicas, e uma educação profissional. Também é preciso consultar os alunos sobre suas expectativas.

Comente o desempenho do Brasil no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).
Os resultados do Brasil (38º lugar entre 44 países), são ruins. Mas não se pode fazer certas comparações. Por exemplo, a Finlândia gasta três vezes mais por ano com o custo/aluno do que o Brasil.

O Brasil deveria incrementar as verbas destinadas à educação?
Esse assunto está sendo discutido hoje no Congresso, com o Plano Nacional de Educação. O Brasil tem um Produto Interno Bruto (PIB) em torno de R$ 5 trilhões. Hoje, aplica 5,5% do PIB na área, mas isso não é suficiente. O governo quer que, em dez anos, esse valor chegue a 8%, nós, educadores, queremos 10%.

Como o senhor avalia a as cotas raciais nas universidades?
As cotas vieram para ficar durante dez anos. São uma forma de reparar uma desigualdade que começou com fato de termos tido 370 anos de escravatura. Espero que a educação básica melhore de forma que não precisemos mais desse sistema. 

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