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Segunda-Feira,29 de Abril

Ramon Victor Cezar: Queremos que em 2030 o transporte público responda por 70% das viagens

Danilo Emerich - Hoje em Dia
24/03/2014 às 06:43.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:49

(Eugênio Moraes)

prevê uma mudança gradativa dos hábitos dos motoristas, largando os carros em casa assim que perceberem as qualidades do transporte público, sobretudo nos deslocamentos de rotina, como a ida ao trabalho e à escola. Ramon Victor defende a implantação de outros meios de transporte – além de BRT, metrô e ônibus convencionais –, mas não vê essa possibilidade a curto prazo.   BH vive um momento histórico com a implantação do BRT. Mas esse modal é usado há tempos em outras cidades. Não estamos atrasados?
Penso que não. Cada coisa tem seu tempo. A oportunidade que tivemos para investir no BRT foi o PAC Copa. Podemos aproveitar as vantagens desse sistema conjugado, como o nosso plano de mobilidade prevê, com o avanço do metrô, seja na direção do barreiro, seja na área central, rumo à zona Sul.
O BRT estará funcionando completamente, em todos os corredores, em maio?
Não. Até o fim de maio vamos operar completo o corredor Cristiano Machado, onde já começamos a primeira etapa, e o corredor Antônio Carlos/Pedro I.
Entre maio e junho, mês da Copa, é o tempo necessário para todos os ajustes?
Sim. Adotamos uma estratégia de começar pelo mais simples para o mais complexo. Cada um desses corredores terá três etapas de implementa-ção. Na Cristiano Machado fizemos a primeira. O balanço é exitoso, mas ainda há algumas falhas localizadas e questões a serem aprimoradas.
A crítica ao BRT é quando pega a pista mista e fica retido no trânsito.
Teremos operações em faixa exclusiva, controlada por radar, semelhante à avenida Nossa Senhora do Carmo. Também teremos segmentos ou linhas num percurso expressivo em tráfego misto. A resultante dessa combinação será um tempo melhor do que é a situação atual.
O que vem depois do BRT na Antônio Carlos e na Cristiano Machado?
O plano de mobilidade de Belo Horizonte propõe um sistema multimodal, combinando corredores de BRT e metrô. A prefeitura, com o governo do Estado, tem trabalhado no sentido de viabilizar a expansão do metrô. A presidente (Dilma Rousseff) já esteve aqui duas vezes, confirmou a disponibilidade de recursos. Temos a proposta de uma concessão do metrô no regime de parceria público-privada (PPP).
O que precisa ser feito?
A linha atual precisa de ser modernizada, principalmente o sistema de controle e de informação. É preciso reforço na frota de trens, de executar e colocar em operação a linha do Barreiro. A previsão é a de que em abril ou maio esse projeto fique pronto. Também está sendo desenvolvido o projeto da linha subterrânea entre a Lagoinha e a Savassi. Essa seria a primeira fase da PPP. O projeto também fica pronto entre abril e maio.
Alguma outra possibilidade?
O que tem de novidade é a possibilidade de avançarmos na linha da Savassi em direção ao Santa Lúcia, Belvedere, pelo eixo da avenida Nossa Senhora do Carmo. Além disso, uma linha interligando o bairro Santa Tereza à região hospitalar, na altura do Palácio das Artes, conectando a linha que vem da Lagoinha e vai para a Savassi, e seguindo até a Praça Raul Soares. Para uma etapa ainda sem definição, interligar a Praça Raul Soares até o Nova Suíça, onde chega a linha do Barreiro. Com isso teríamos uma malha estruturante do metrô muito significativa. Isso, complementando com os dois grandes corredores do BRT, que entram em operação agora, e também um investimento forte no sistema BRT para o lado Oeste, no eixo da avenida Amazonas, além do investimento em cerca de cem quilômetros de vias exclusivas controladas para ônibus no sistema viário principal.
E daqui a 20 ou 30 anos? Como ficará a mobilidade em BH?
A expansão da frota ainda têm um espaço de crescimento no tempo, mas, em determinado momento, entrará em regime. Essa expansão não é um exponencial contínuo. Tem limites para isso. Dentro de uns 20 anos, teremos um sistema de mobilidade muito melhor, mais racional. Um transporte coletivo com um peso muito maior na matriz de viagens. Transportando as pessoas com muito mais qualidade e que o uso do automóvel será mais seletivo – pelas pessoas, não de restrição – e de formas inovadoras.
Como?
Nós vamos ter aí, da mesma forma que temos bicicletas, carros compartilhados. O que vem por aí, em termos de mobilidade, do uso da eletrônica na gestão da mobilidade, é um mundo sem fronteiras. Eu sou otimista. Estamos em uma fase de transição, e não é só Belo Horizonte, tanto o mundo desenvolvido, quanto o em desenvolvimento estão mudando os conceitos de mobilidade. Cada vez mais, a gestão da mobilidade vai ser conjugada com a gestão do uso e ocupação do solo.
Exemplifique.
O projeto Nova BH, a operação urbana (que ainda está em discussão com a sociedade), está alinhado com essa tendência, que é a de priorizar o adensamento, a ocupação ao longo dos corredores de transporte. E que esse adensamento seja cada vez mais misto, com residências e trabalho. Ou seja, a pessoa poder morar mais perto do trabalho, junto dos grandes corredores de transporte. Nos próximos 20, 30 anos teremos uma revolução. Não só em Belo Horizonte, na região metropolitana, mas no mundo todo. A forma que as cidades se movimentam hoje não será a mesma daqui a 20, 30 anos. A gente nem tem ideia de tudo como será.
Especialistas apontam que o ideal é a conjunção de vários modais. BH tem o ônibus convencional, o metrô e agora o BRT. Há possibilidade de termos outros tipos de transporte?
Estou de acordo com essa visão dos especialistas. Tanto que o plano de mobilidade da prefeitura prevê uma rede multimodal. Ou seja, para cada corredor, com suas especificidades, para o tamanho de cada demanda, existe um modal ótimo. E em qualquer caso, esses modos têm que ser integrados. Não adianta nada uma multiplicidade de modos, mas cada um independente, sem articulação e sem integração.
E está sendo planejado algo?
Nesse momento, em uma visão de médio prazo, eu penso que estaremos cada vez mais focados no metrô e no BRT. Mas, certamente, tem espaços para outros modos de transporte, como os Veículos Leves sobre Trilhos (VLT), chamados de bondes modernos. É uma questão de disponibilidade de recursos e de demanda. Por exemplo, ao oeste da região metropolitana, na divisa com Contagem e Ribeirão das Neves teremos, dentro de algum tempo, um outro corredor de transporte coletivo, por esses últimos bairros de expansão, como Ouro Preto, Castelo, e mesmo ultrapassando para articular com Venda Nova até chegar no fundo da Cidade Administrativa. Que no limite vai articular o Barreiro, a região Noroeste, a Pampulha e Venda Nova. Certamente, teremos modos de transporte distintos. Pode ser um bonde moderno, VLT, um monotrilho, se ele se mostrar um modo de transporte adequado para média capacidade. Mas isso não está na nossa visão de curto prazo.
Há pouco tempo a BHTrans perdeu mais um recurso na Justiça para poder voltar a multar. Há novas tentativas?
Era um recurso processual. O tema (mérito) ainda será julgado no Supremo Tribunal Federal, num julgamento já decidido pelo ministro relator, que será de repercussão geral para o país. Essa questão não envolve só a BHTrans. Em Curitiba, Porto Alegre, Campinas, e muitas outras cidades, nós temos a mesma questão, com um avanço jurídico menor que o nosso. O nosso chegou ao Supremo, que já decidiu que o julgamento que ele fizer vai valer para todos os casos. Não teve julgamento de mérito ainda. Nós acreditamos que o Supremo vai reconhecer um modelo que já está estável no país. Várias cidades têm um modelo de organizar o órgão executivo de trânsito local, sob a forma de empresa, pelas vantagens de gestão que está por trás desse modelo.
No ano passado houve um movimento de alguns vereadores para criar uma nova empresa pública para fiscalizar o trânsito, e a BHTrans ficaria apenas para gerenciar e planejar. O que pensa sobre isso?
Não é bem isso. O que um vereador apresentou foi um projeto de fazer uma separação entre a área de gestão de transporte, regulação do transporte público, que continuaria na BHTrans, e a gestão do trânsito, o órgão executivo de trânsito, assumiria a forma de um ente da administração direta. Do ponto de vista do Executivo de Belo Horizonte, essa não é a solução adequada. Por que acreditamos que a gestão integrada de transporte e trânsito é a melhor forma de tratar a abordagem da mobilidade urbana. Você teria muita perda de energia, falta de sinergia mesmo se alguém estivesse fazendo a gestão do transporte e outra do trânsito. Você mesmo viu ai, recentemente, para implementar o BRT, que é gestão de transporte, nós tivemos que fazer muitas intervenções do trânsito. Ora, mesmo dentro de uma administração municipal única, você ter órgãos distintos não é o melhor arranjo administrativo. E também acreditamos que o melhor arranjo administrativo, além de ser integrado, deve ter a forma de empresa. Empresa pública, igual somos, com total controle do poder público, e não sob a forma da administração direta tradicional, seja através de uma secretaria ou de uma autarquia.
O que falta para convencer o motorista a largar o carro em casa e usar o transporte público?
Nós sabemos que a migração desse tipo não é uma coisa que acontecerá em passe de mágica, a partir de amanhã todos tomam a decisão de usar o transporte coletivo. Se todos tomarem uma decisão instantânea dessa, o transporte coletivo atual não daria conta de atender. O que temos é uma política de priorização do transporte coletivo, para que ele, melhorando em quantidade e qualidade, seja capaz de atrair as pessoas por uma decisão própria de fazer uma escolha consciente, naquelas viagens que o transporte público lhe for mais conveniente. Nos países onde os transportes públicos está mais avançados e qualificados, evidentemente que as pessoas das mais diversas classes sociais, optam por eles em viagens do tipo, casa/trabalho, casa/escola, por exemplo. Mas nas viagens de sábado à noite, para ir à balada, teatro ou fazer uma visita familiar, as pessoas optam pelo transporte individual. Nós estamos investindo em BRT, nos esforçando para viabilizar o metrô. No plano estratégico da prefeitura “BH 2030”, nos queremos chegar neste futuro com uma participação de 70% do transporte coletivo na matriz total de viagens internas de Belo Horizonte. Evidentemente, isso estará concentrado nessas viagens, que chamamos de pendulares, casa/trabalho ou casa/escola.

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