Realidade X ficção: histórias que ajudam a superar drama

Hoje em Dia*
Publicado em 08/06/2014 às 08:24.Atualizado em 18/11/2021 às 02:55.
 (Frederico Haikal)
(Frederico Haikal)

Aos 16 anos, a mineira Sophia Alves Azevedo bem poderia ser a protagonista do livro “A Culpa é das Estrelas”, best-seller recém-chegado aos cinemas brasileiros. Nascida em Bom Despacho (Centro-Oeste de Minas), ela não se deixa vencer por um câncer no fêmur, descoberto em 2012. Ao contrário, encara a vida com otimismo de causar inveja a pessoas que não têm qualquer problema de saúde. A doença é a mesma que acometeu Augustus Waters, que, na ficção, vive um grande amor com Hazel Grace, diagnosticada com um tumor na tireoide.

Realidade e ficção

O drama contado por John Green tem ajudado milhares de jovens com câncer a superar as dificuldades impostas pela doença e pelo tratamento. Isso, justamente na fase da vida em que descobertas e mudanças deixam em último plano qualquer ideia ligada à morte.

Assim como Augustus Waters, Sophia também perdeu uma das pernas por causa do câncer e terá de usar uma prótese. A adolescente ainda passou por outra cirurgia para a retirada de um tumor na cabeça. Apesar do entra e sai do bloco cirúrgico e da quimioterapia, nada parece abalar a menina. Sophia consegue manter o frescor e a empolgação característicos da juventude e aproveitar bons momentos, com idas ao cinema, saídas à noite e leitura de romances.

Na última quinta-feira, não perdeu a estreia do filme em um shopping de Belo Horizonte. O livro, já havia “devorado” tempos atrás. Outra prova de determinação e coragem: no baile em que comemorou 15 anos, Sophia dançou até o amanhecer, sem se importar com nada. Nem parecia que, dias antes, havia perdido os cabelos. “Não me abalo muito com as coisas e levo tudo na esportiva”, disse, olhando para a mãe, que se admira com a força e o bom-humor da filha.

Discreta, a jovem não fala muito sobre a vida amorosa. Conta apenas que teve um namorado, até o ano passado, mas o relacionamento não engrenou. “Não estou ‘caçando’ (alguém), mas se aparecer um Augustus Waters na minha vida...”, brinca.

Isolamento

O apoio de pessoas queridas nos momentos difíceis fez Sophia enxergar quem eram os verdadeiros amigos. Ela conta que alguns se afastaram após o início do tratamento, mesma dificuldade enfrentada pela heroína do best-seller.
Para o futuro, Sophia tem grandes planos: quer ser médica oncologista e ajudar outros pacientes a dar a volta por cima.

Apoio das mães é essencial em tratamento dos filhos

A exemplo de Sophia Alves Azevedo, Rafael Carlos Silva, de 12 anos e seis meses (ele faz questão de enfatizar a idade exata), quer ser médico. Articulado, fala como um adulto sobre o tumor retirado da cabeça. “Foi um baque descobrir a doença. Fiz duas cirurgias e quimioterapia, e agora estou na radioterapia para ‘limpar’ o resto do tumor que ficou no nervo ótico”.

Cercado de amigos na cidade-natal, Patos de Minas (Alto Paranaíba), ele recebe o carinho dos colegas pelas redes sociais quando está em BH, mas gosta mesmo é da atenção das meninas. “Elas ficam apertando minhas bochechas, dizendo que sou uma gracinha, mas são só minhas amigas”, conta, um tanto envergonhado.

Assim como Hazel Grace, no livro “A Culpa é das Estrelas”, Rafael acredita que a presença da mãe na vida de pacientes com câncer é crucial. “Minha mãe (Dilma das Graças) é uma corujinha, uma guerreira, nunca chorou perto de mim”. Postura também de Márcia Silveira Caetano, de 44 anos, mãe de Letícia, de 14. “Tenho que ser forte para ela, mas é difícil”, desabafa. Letícia luta contra um câncer no fígado desde os 11 anos. “Tento levar a vida da forma mais normal possível. Vou à escola, saio com amigos... Espero que o tratamento acabe logo, e eu não precise ir ao médico toda semana”, almeja a futura engenheira.

Saiba mais

O apoio da família, dos amigos e do namorado(a) é essencial para os adolescentes com câncer se recuperarem física e emocionalmente. Segundo a psicóloga clínica e professora do Centro Universitário Newton Paiva, Sylvia Flores, esses pacientes precisam ser cercados de amor, força e acolhimento.

Frequentar grupos de apoio também pode ajudar no enfrentamento da doença, como fez a protagonista de “A Culpa é das Estrelas”, que se beneficiou com a troca de experiências. Para a oncologista pediátrica Fernanda Tibúrcio, outra boa estratégia é flexibilizar o tratamento. Assim, o paciente poderá vivenciar uma adolescência mais próxima do normal. “Todo mundo tem angústias nesse período da vida e a doença vem romper a rotina com a qual está acostumado”, afirma.

Para Sylvia Flores, ao vencer o câncer, o jovem se torna uma pessoa bem mais madura no futuro. “O sofrimento acaba nos moldando e nos tira uma série de ingenuidades”.

Alguns dos personagens retratados nesta reportagem são assistidos pela Fundação Sara, que conta com doações para dar continuidade ao trabalho. Consulte como ajudar a entidade no site www.fundacaosara.org.br.

*Com Izabela Ventura 

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