
Uma nova técnica que possibilita a remoção completa de alguns tipos de tumores, usando dispositivo acoplado ao aparelho de endoscopia ou colonoscopia, foi utilizada pela primeira vez em Minas. O método minimamente invasivo, sem a necessidade de submeter o paciente à anestesia geral, foi realizado este mês no Hospital Madre Teresa, em Belo Horizonte. No Brasil, 50 procedimentos foram feitos este ano.
Os dados foram informados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES). De acordo com a médica Renata Figueiredo, uma das profissionais que conduziu a ressecção de parede endoscópica (EFTR) com o uso do dispositivo chamado Full Thickness Resection Device (FTRD), o procedimento é recomendado para retirar lesões consideradas menores – de até 2,5 cm –, condições pré-malignas ou tumores neuroendócrinos.
“Quando faço uma polipectomia – remoção da lesão com o endoscópio –, tiro o pólipo, mas a mucosa debaixo dele continua lá. Então, se ficar uma célula comprometida, vai crescer o pólipo de novo. Com esse dispositivo, o pólipo é retirado junto com toda a parede abaixo dele. Com isso, não vai ter recidiva (retorno do câncer)”, explica a endoscopista. Descartável, o dispositivo conta com uma espécie de clipe para grampear o pólipo à mucosa.
O caso atendido no Hospital Madre Teresa foi de um tumor neuroendócrino, localizado no reto. O paciente, Marcos Gonçalves Lopes, de 62 anos, costumava fazer check-up anualmente até 2018, mas nunca havia feito a colonoscopia preventiva, exame recomendado para homens e mulheres acima de 45 anos. Ao retomar os procedimentos de rotina, se deparou com o diagnóstico.
Apesar do desenvolvimento do tumor, que já estava no estágio 2, o paciente não tinha sintomas que indicassem a condição. No hospital, Marcos foi informado pelos médicos da possibilidade de realizar o procedimento inédito. Para isso, seria necessário que o paciente estivesse de acordo com o tratamento.
“Eles (os médicos) falaram muito sobre o procedimento e sobre o comportamento desse tipo de tumor. De como ele é lento para crescer, mas que a gente não sabe quando vai crescer e em que proporção. Eu optei por fazer”, conta Marcos. A cirurgia foi realizada no último dia 15.
O procedimento levou cerca de 40 minutos, com o paciente sedado. A recuperação foi tão rápida que Marcos voltou a trabalhar no dia seguinte ao da alta hospitalar. “Fiquei lá de terça para quarta, e na quinta fui trabalhar. Se eu tivesse saído no dia mesmo, no outro, pela manhã, já estava trabalhando. Não tive nada”, relata.
Porém, não são todos os casos em que o FTRD pode ser utilizado. “Muitas pessoas me perguntaram se o caso do Marcos era o mesmo da Preta Gil, que era um adenocarcinoma”, conta a médica. “São situações diferentes, e nesse caso não daria para retirar com o dispositivo. Mas a ferramenta retira, por exemplo, lesões pré-malignas que podem evoluir e causar o tumor que a Preta Gil teve. O mais importante é a prevenção pela colonoscopia, que possibilita identificar e realizar o tratamento antes da evolução”.
* Estagiária, sob supervisão de Renato Fonseca
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