Risco do rompimento de barragens prejudica moradores de três municípios

Tatiana Moraes e Lucas Eduardo Soares
17/02/2019 às 22:05.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:35
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

A tragédia que já deixou 169 mortes e um rastro de destruição em Brumadinho, na região metropolitana, após o rompimento da barragem da Mina do Feijão, leva pânico a outras cidades mineiras. Em menos de dez dias, três municípios foram parcialmente evacuados, deixando pelo menos 846 pessoas desalojadas e sem perspectiva de voltar para casa. 

O drama deixa aflitos moradores de Macacos, em Nova Lima, também na Grande BH, e Barão de Cocais e Itatiaiuçu, na região Central. Além da estadia forçada em hotéis ou imóveis alugados, eles temem em retornar ao lar e conviver com o perigo no futuro. 

“Minha vontade é ir embora daqui”, garante a auxiliar de cozinha Marli Pereira, de 26 anos, que vive em Macacos há sete. Lá, a evacuação atingiu 200 pessoas, após o risco constatado na barragem B3/B4, da Mina de Céu Azul. 

Marli Pereira conheceu o marido, Pedro Augusto, de 22, e teve a filha, Jamile, de 5, no distrito de Nova Lima. A jovem lembra que a notícia de um possível rompimento da estrutura assustou a toda a família que estava na residência, por volta das 19h de sábado. Ela mora em uma área próxima a um córrego. “Só peguei umas peças de roupa da minha filha e subi para a igreja. Cerca de 20 minutos depois, escutamos a sirene. Foi desesperador”, conta Marli.

Agora, o desejo é não passar novamente o que viveu nesse fim de semana. Ela quer, junto com a família, partir em direção ao Vale do Jequitinhonha, onde nasceu. “É difícil. A gente luta para conseguir as coisas e, do nada, tem que largar, abandonar”, lamenta a auxiliar de cozinha.

A vida da vizinha dela, Andreza de Jesus, de 33 anos, também deve passar por uma reviravolta. A mulher conta que o som da sirene para atestar o perigo foi terrível. “Dá medo. Hoje levantei tremendo. Tive que tomar remédios. Não sei nem explicar o que passei”.

A mulher mora com o marido José Miguel, de 45, e os filhos Samuel, 12, Gabriela, 9, e Davi, de 4. Agora, o futuro deles é o mais importante. “Não quero voltar, porque a gente tem que viver bem e dar condições para as nossas crianças”, relata.

O futuro, no entanto, é incerto. “Se houver alguma indenização da Vale para as pessoas que vivem na área de risco, o meu desejo é ir embora para Rio Casca, onde nasci. Estamos sem lugar, sem chão”, fala. “Bom mesmo é a casa da gente, mesmo que ela seja em outro lugar”.Maurício Vieira“Só peguei umas peças de roupa da minha filha e subi para a igreja. Cerca de 20 minutos depois, escutamos a sirene. Foi desesperador”, Marli Pereira, auxiliar de cozinha 


Mesmo drama
“As pessoas que saíram não aguentam mais, mas preferem ficar longe de casa, pois estão desconfiadas. Sem o total descomissionamento (reintegração da barragem à natureza), nosso município não terá paz”, afirma o prefeito de Barão de Cocais, Décio Geraldo dos Santos. Lá, a 96 quilômetros da capital, 480 pessoas foram retiradas após a sirene tocar indicando o risco na mina Gongo Soco, da Vale, no último dia 8.

No mesmo dia, 166 moradores de 51 famílias foram tirados de casa em Itatiaiuçu, a 77 quilômetros de BH. Eles foram desalojados após a barragem da Mina de Serro Azul, operada pela ArcelorMittal, apresentar perigo.

Em nota, a empresa informou que “não tem medido esforços para assegurar que a rotina das famílias removidas preventivamente retorne à normalidade o mais breve possível. O diálogo com a comunidade permanece, assim como toda a assistência necessária”.

Já a Vale, responsável pelas barragens em Brumadinho, Barão de Cocais e Macacos, disse prestar “toda a assistência e apoio necessários até que a situação seja normalizada” no distrito de Nova Lima. A mineradora garante disponibilizar hospedagem, alimentação, transporte e medicamentos, dentre outros serviços. Já sobre Barão de Cocais, nada foi informado.

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