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Segunda-Feira,29 de Abril

Roubo de bicicletas cresce 64% em BH no 1° semestre e ciclistas passam a andar em grupos

Paula Coura
pcoura@hojeemdia.com.br
07/08/2016 às 18:12.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:13

(Lucas Prates)

Os assaltos a ciclistas aumentaram 64% nos primeiros seis meses do ano, obrigando muitos adeptos da bike em Belo Horizonte a mudar os hábitos. Para quem não abre mão de pedalar nas ruas à noite, andar em grupos tem sido a alternativa para tentar evitar a ação dos bandidos.

Os ciclistas se comunicam pelas redes sociais. Apesar da aparente exposição, tomam cuidados específicos: apenas o local de saída é divulgado. Os iniciantes também recebem “treinamento” para enfrentar o trânsito e evitar acidentes. Quem pretende andar sozinho à noite, mesmo nas ruas mais movimentadas da capital, é desencorajado.

“Temos contato com todos os grupos de ciclismo de BH e algumas rotas já são conhecidas por terem mais assaltantes. Os grupos são grandes, têm cerca de 30, 40 pessoas. Dá mais segurança”, explica Vinicius Túlio, coordenador do Rolé Urbano das Terças (Ruts).

Atleta e ultraciclista há 22 anos, Rogério Pacheco, do Giro 30, ainda garante que apesar do aumento das ocorrências, andar com outras pessoas tranquiliza. “Somos cerca de cem pedalando de segunda a quinta-feira pela Pampulha. São duas a três voltas na orla e qualquer um pode participar. A segurança foi reforçada por lá há um mês, o que nos deixou mais tranquilos”, relata.

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Morador da capital, o office-boy Marcos de Souza Oliveira, de 35 anos, é exemplo da mudança de comportamento. Ele, que utiliza a bicicleta para fazer entregas, já foi roubado e hoje participa de um grupo. “Já levaram duas. Ambas no Centro. Uma, inclusive, foi perto de viaturas da polícia. Eu trabalho com ela, é meu ganha-pão”.

Em casa

Os cuidados tomados nas ruas não livram os adeptos do esporte de ficarem sem as magrelas. Há ocorrências também nas residências. “Invadiram minha casa e levaram a bike faz uma semana. E essa tinha um valor sentimental especial. Ela era do meu pai, que já faleceu”, declara o comerciante Leonardo Ribeiro.

Situação parecida ocorreu em Lagoa Santa, na Grande BH. “Pularam o muro e a roubaram. Fiquei com medo de comprar outra bike. Contratei um detetive para investigar”, disse uma vítima que pediu para não ser identificada.

Polícia
Chefe da Sala de Imprensa da PM, o capitão Flávio Santiago garante que a corporação tem aumentado as ações para combater esse tipo de delito. “Todo caso de crime é importante, mas esse número de assaltos tem uma representação pequena tanto em BH quanto no Estado, mas estamos atentos. Na Pampulha, diariamente, são escalados policiais para a ronda noturna, período de maior concentração de ciclistas”, destaca.

Site coloca Belo Horizonte entre as cinco cidades com mais ocorrências no país

Ele pedala há mais de 20 anos e, para contribuir com quem teve a infelicidade de ter a bike levada por ladrões, criou o bicicletasroubadas.com. Pedro Cury é publicitário e disse que a ideia de formatar um site específico sobre as ocorrências de furtos e roubos a ciclistas ocorreu de forma natural. Nas estatísticas do portal, Belo Horizonte é a quinta cidade do país com mais registros. Minas Gerais também é o quinto estado com maior incidência desse tipo de crime.
 
“As pessoas fornecem os dados de furtos e roubos de forma colaborativa. Uma das dicas é sempre guardar a nota fiscal. Caso alguém encontre a bicicleta, o documento comprova quem é o dono”, diz o idealizador da plataforma digital.

Segundo Pedro Cury, o primeiro registro do site veio em 1998 e há relatos de ciclistas que conseguiram recuperar as bikes com informações do portal, que dá ao internauta a possibilidade de inserir dados, como a marca e a data da ocorrência.

Desafio

Uma das dificuldades na investigação desses crimes é que não há um perfil pré-definido dos assaltantes. A polícia acredita que, na maioria das vezes, são casos de oportunistas. “Em Nova Lima, fizemos uma operação para recuperar duas bicicletas, avaliadas entre R$ 11 mil e R$ 30 mil e, após um ano, conseguimos encontrá-las. Descobrimos que o ladrão conhecia a rotina das vítimas e estava, inclusive, usando uma das bikes roubadas”, relata a delegada da Polícia Civil Lorena Vaz de Melo.

Ciclovias

Para 2016, Belo Horizonte tinha meta de construir 100 quilômetros de ciclovias. Mas, segundo a BHTrans, as obras ainda não foram feitas. A meta é que até 2020 a capital conte com mais de 300 quilômetros de ciclovias. Atualmente, são 84 quilômetros, principalmente, na região Centro-Sul e na Pampulha.

Conquista
Desde maio, os ônibus de Belo Horizonte passaram a poder transportar bicicletas dobráveis, com aro de até 20 polegadas. Para levá-las, o ciclista tem que deixar os equipamentos no espaço destinado a usuários de cadeiras de rodas, desde que esses passageiros não estejam no veículo.

ALÉM DISSO

Rotas do medo
Marcos Pina, coordenador do grupo de ciclistas Zoobikes, relaciona algumas vias mais perigosas à noite: as avenidas Nossa Senhora do Carmo, Raja Gabaglia, Barão Homem de Melo, Tereza Cristina, Andradas e Agulhas Negras. “Nunca falamos o percurso justamente para evitar que algum ladrão aborde o grupo durante o trajeto”, explica. “Na região da Pampulha, passar perto da Toca II é muito perigoso. Enseada das Garças, perto do Céu Azul, e na Barragem Santa Lúcia são locais para se evitar andar sozinho à noite”, descreve Rogério Pacheco, que comanda o grupo Giro 30.

Valores
Outro cuidado tomado é nunca revelar o preço das bicicletas. Para iniciar no pedal, segundo os ciclistas mais experientes, só é preciso força de vontade e coragem para encarar as ladeiras de Belo Horizonte. “Nós ficamos muito visados quando descobrem o valor da bike. Não é uma informação que deva ser passada por nenhum ciclista, porque pode criar uma especulação desnecessária”, alerta Pacheco.

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