Caminhos da fé

São João del-Rei retoma rituais de 300 anos na 1ª Semana Santa após restrições da pandemia

Lia Lombardi
Especial para o Hoje em Dia
09/04/2022 às 08:00.
Atualizado em 09/04/2022 às 09:22
Procissões e encenações da Semana Santa chegaram à cidade com os portugueses (Mapa do Patrimônio / Divulgação)

Procissões e encenações da Semana Santa chegaram à cidade com os portugueses (Mapa do Patrimônio / Divulgação)

São João del-Rei, no  Campo das Vertentes, retoma neste ano os rituais da Semana Santa, que vêm sendo praticados desde o século XVIII, mas tinham sido interrompidos durante a pandemia da Covid-19. 

São procissões e encenações que chegaram à cidade com os portugueses e permanecem vivas até hoje da mesma forma com que surgiram. Em 2020, as cerimônias foram realizadas dentro das igrejas e sem os fiéis e, em 2021, com distribuição de poucas senhas. 

Durante a Quaresma, a cidade histórica já experimentou a volta dessas celebrações com a retomada da Festa dos Passos e das vias-sacras nas ruas, todas as sextas-feiras e com grande participação do público. 

O bispo, o padre, acólitos e fiéis levam a imagem de Cristo crucificado pelas ruas, passando pelos cinco Passinhos - pequenos altares construídos entre as casas que se abrem apenas nesse período do ano, relembrando os passos de Jesus até o Calvário. 

A expectativa para a Semana Santa é enorme. Todas as irmandades, a Diocese e as igrejas já prepararam as celebrações, que começam no Domingo, com a benção dos ramos na Igreja do Rosário, dando início a uma série de cerimônias encenadas por gerações. 

Uma das mais aguardadas é o Ofício de Trevas da Quarta-feira Santa (13). O Ofício é parte da Liturgia das Horas, um ritual de reza comunitária ao longo do dia, dividida em cinco grandes momentos. As principais são as Laudes, orações da manhã, e as Matinas, do começo na noite. São João del-Rei é uma das poucas cidades no mundo a manter a tradição, uma das mais antigas da Igreja Católica. 

Às 19h, na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, é aceso o Tenebrário, um candelabro triangular com 15 velas - a do centro representa Cristo. À medida que a cerimônia se desenvolve, meditando sobre o sofrimento de Jesus, uma luz do Tenebrário é apagada e a escuridão vai preenchendo a igreja. A última, de Cristo, permance acesa, mas é escondida atrás do altar. 

Nessa hora, com a igreja quase totalmente às escuras, os fiéis batem os pés no chão, provocando um forte estrondo, lembrando a passagem do evangelho de São Matheus que diz que na nona hora - a hora da morte de Jesus - que houve um “forte tremor da terra, as rochas se fenderam, o abalo impactante do pranto da natureza”.

E quando tudo parece perdido e escuro, a vela que representa Cristo volta ao Tenebrário e as luzes são acesas novamente, simbolizando que Cristo venceu a morte. 

Quinta e sexta-feira também são dias de grandes cerimônias. Na quinta, dia da Instituição da Eucaristia, ao som das matracas, as igrejas são abertas para visitação. Às 20h30, em um tablado montado atrás da Catedral, o bispo refaz o ato de Jesus, que em sinal de humildade lavou os pés dos apóstolos por ocasião da Santa Ceia.

Na Sexta Santa, a principal cerimônia é o Descendimento da Cruz, nas escadarias da Igreja das Mercês, seguida da Procissão do Enterro. 

Os sinos e as orquestras Ribeiro Bastos e Lira Sanjonenses, com mais de 200 anos, além de bandas, como a Theodoro de Faria, contribuem para que ninguém na cidade esqueça que é tempo de meditação. 

Toda a programação na cidade histórica tem sido registrada e compartilhada nas redes sociais pelo projeto Mapa do Patrimônio, que organiza e populariza informações sobre os bens materiais tombados e imateriais registrados na cidade, que é uma das mais antigas de Minas Gerais, tendo servido à rota de exploração do ouro e pedras preciosas desde o século XVII. Para saber mais, clique aqui.

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