Secretária de Educação reconhece desafios, mas garante investimentos

Renato Fonseca - Hoje em Dia
24/08/2015 às 06:40.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:28
 (Ricardo Bastos)

(Ricardo Bastos)

Graduada em Serviço Social, mestre em Educação e professora da rede municipal de BH, onde também atuou como coordenadora, diretora, gerente e secretária. Com vasta experiência na área, Macaé Maria Evaristo dos Santos ocupa, desde janeiro, a secretaria estadual de ensino. Ela reconhece que ainda é preciso avançar, e muito, mas destaca várias propostas que podem ser implementadas em Minas. O principal desafio, destaca, está no ensino médio. “O jovem vai à escola para assistir à aula. É uma ideia ainda muito passiva. Você não pensa na inserção do jovem na escola”, afirma Macaé, em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia.

A senhora completa oito meses à frente da secretaria. Quais os principais desafios encontrados e qual o contexto atual?

O sistema estadual de educação é muito grande, de alta complexidade e com situações muito diversas. Encontramos uma relação um pouco desgastada entre o governo e os trabalhadores. De certa forma, um processo de pouco diálogo e até fragmentado. Uma rede que, por um lado, apresenta bons resultados no que diz respeito aos processos de aprendizagem nos anos iniciais. Temos inúmeros desafios quando olhamos para as nossas escolas. É bom destacar que é prioritariamente tarefa e atribulação do Estado a oferta do ensino médio. E esse é o grande desafio: um olhar para a juventude, para a população na faixa etária de 15 a 17 anos.

Qual a situação desses adolescentes?

Temos no Estado 15% de jovens fora da escola. Dos que estão nas instituições, 40% cursam o ensino fundamental. E quando olhamos o resultado das nossas avaliações, os estudantes não estão saindo com uma boa proficiência em língua portuguesa nem matemática. E um terceiro ponto que acho importante destacar, dos desafios que nós estamos pontuando, está ligado à formação de professores e à fixação de profissionais na escola.

Mas é possível vencer esse desafio?

Estamos fazendo um grande movimento, chamado de ‘Virada na Educação’. Somando forças, vamos construir um grande pacto para incentivar e fazer uma chamada sobre a importância do jovem continuar na escola ou voltar para ela. Faremos isso nos 17 territórios de desenvolvimento, com a participação de estudantes de várias escolas. Queremos estar mais perto deles. Muitos estão inseridos no mundo do trabalho, com experiência de aprendizagem. É preciso compreender de que forma podemos articular mais o ensino médio com a educação profissional, considerando a adversidade de contexto que nós temos no nosso Estado.

Não faltam mais atrativos? Muito se fala que esse é um dos principais motivos da evasão. Como tornar a escola mais atrativa?

Precisamos trabalhar com um conceito de educação integral, que pense na instituição de ensino conectada com outros espaços no território. Às vezes, do lado da escola tem um centro cultural ou uma empresa e, muitas vezes, o processo educativo é só para dentro. Acho que o desafio é pensar no processo em diálogo com os diferentes territórios de Minas e com um potencial educativo. No geral, a gente tem um ensino médio em que o jovem vai para a escola para assistir a uma aula. Essa é uma ideia ainda muito passiva. Não se pensa na inserção do jovem na escola.

Esse seria um modelo de escola em tempo integral. Existe espaço para isso?

Se a gente pensar em escola em tempo integral dentro da escola, acho pouco provável. Mas se pensarmos em construir percursos educativos, que necessariamente não precisam ser todos na unidade, sim. Quando se faz um projeto de extensão universitária, por exemplo, não é só dentro da instituição. Você vai a campo. A gente pode pensar em experiências no ensino médio e de agendas que se articulem.

Outra demanda, principalmente dos profissionais que trabalham nas escolas, é a questão de indisciplina e violência. Como resolver?

Fizemos uma roda de conversa. Chamamos várias instituições que atuam na questão como a Promotoria da Infância e Juventude e Conselho Tutelar. Estamos trabalhando com um protocolo. Uma grande questão que as escolas nos apresentam é: “olha, a gente não sabe o que fazer”.

Mas qual é o procedimento adequado?

Todo mundo age um pouco assim: “ah, eu uso o bom senso!” Mas, nem sempre é possível. E as escolas se sentem muito desamparadas. Queremos que todas possam reproduzir esse protocolo. Precisamos conversar com o Conselho Tutelar, Ministério Público, porque, às vezes, a escola toma determinada atitude e, no dia seguinte, tem que desfazer, pois não houve um pacto com a Polícia Militar. Então, estamos trabalhando na construção desse protocolo, com procedimentos padronizados de como a escola deve proceder. Primeiro, precisamos pensar em como trabalhar um clima mais saudável. Depois, na questão de violência, em como proceder.

A família pode ser inserida nesse processo?

Tenho feito muito esse chamado. Precisamos fortalecer essa participação. As escolas nas quais existe uma presença maior da família têm melhores resultados. Também temos conversado muito com o desenvolvimento estudantil e eles demandam, muito, a necessidade da abertura de um grêmio para os estudantes se organizarem, terem um espaço que dialoga com o próprio jovem. Então, a gente precisa, também, dessa ideia de se pensar o território educativo como um todo. A escola não está sozinha ali no bairro nem no município. Precisamos construir uma rede com os centros de referências, associações comunitárias, dentre outros.

A senhora acompanhou os dados do Enem divulgados recentemente. Todas as 20 instituições com melhor desempenho nacional são da rede privada. Quatro delas são mineiras. Por que ainda há tanta diferença entre as escolas públicas e as particulares? As instituições públicas têm chance de concorrer com as particulares? Como?

O Brasil é um país que fez a escolarização tardia. Se fala muito da Suíça e de outros países, mas eles fizeram a universalização da educação no século 19. Nós estamos fazendo no século 21. Esse é o primeiro ponto a ser considerado. Segundo, estou defendendo muito isso: em Minas Gerais temos 4,7 milhões de estudantes matriculados na educação básica. Desses, cerca de 4 milhões são da rede pública, seja municipal ou estadual. É isso que eu falo, é preciso defender a escola pública, engajar nessa luta. A escola é nossa, o orçamento é público, os recursos são públicos, e todas as crianças que estão ali são os nossos filhos.

Além do Enem, Minas sempre tem se destacado nas avaliações nacionais. Mas existem críticas de que o Estado se destaca apenas porque a média nacional é muito baixa. Como a senhora vê isso?

Acho que nós temos em Minas uma forte tradição. Temos grandes educadores. O Estado fez o congresso mineiro de educação antes de muitos outros. O nosso sistema de avaliação é o mais antigo do país. Mas, claro, no resultado, principalmente do ensino médio, não há muito o que se comemorar no Brasil. Nossa tarefa é: diante isso, vamos elencar os pontos prioritários. Temos que pensar em uma agenda estruturante. Acho que já há um cenário positivo, que é o Plano Nacional da Educação.

A última informação sobre os professores atingidos pela Lei 100 era a de que quem tem o direito de se aposentar até o final deste ano, contará com o benefício. Qual a situação atual?

Todos que possuírem as condições e estiverem com a idade da aposentaria farão isso pela previdência do Estado. O que o Supremo mandou fazer? Vamos fazer concurso e efetivar as pessoas. Pelo cenário que temos hoje, no ano que vem, naqueles cargos que não forem ocupados por concurso público, as pessoas voltam como designadas.

Como está a questão do piso do professor?

Estamos construindo um acordo com todas as categorias. Com o compromisso de que se a gente tiver reajuste salarial, nas próximas parcelas de reajuste vamos equacionar, para que, em 2017, todos estejam recebendo o piso.

E como está a formação dos professores mineiros?

Estamos negociando com o Ministério da Educação. Nossa ideia é trabalhar para que tenhamos em Minas um programa para a formação. Em alguns casos, temos professores que têm uma licenciatura ou um curso de psicologia, mas atuam nas áreas de língua portuguesa ou matemática. Então, nós estamos negociando no Ministério e estruturando um programa que possa avançar na formação de uma segunda graduação e oferecer para esses profissionais que estão atuando. Além disso, nós estamos trabalhando na efetivação do concurso público. Para que o professor, ao ser nomeado, tenha a formação específica para aquela área em que ele se candidatou.

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